Descobri que sou mais feliz quando estou infeliz. Que o sofrimento é pai e mãe da criatividade, que da dor nascem as musicas mais belas, os textos mais sumarentos, ricos e emotivos. Descobri que tenho um lado masoquista, que sinto prazer na dor,que me delicia a solidão e que brindo à sua chegada,copo de vinho numa mão, cigarro na outra, musica de Bach ao fundo a acompanhar espirais de fumo e a concorrer com o som das teclas. Nada me dá mais prazer do que escrever. Nem o sexo destrona a escrita...nem o amor, fazê-lo, fodê-lo... Gosto do orgasmo mental... e desenrolar as palavras, rasgar a alma e vomitar sentimentos...gritar pelas pontas dos dedos...Gosto da tristeza. Não de uma grande tristeza que me paralise e me transforme em estátua de sal, não da que traz desespero, nem pensamentos sombrios; nunca imaginei pulsos cortados, nem pés descalços sobre o parapeito de uma janela, nem o vento frio na plataforma de uma estação de comboios. Não da tristeza que traz só tédio,conformismo, desistencia. Mas gosto daquela que escava um buraco no meu corpo, em mim se aninha e descansa. Anda comigo durante algum tempo ...apenas o suficiente para ser fecunda.Depois de largada a semente deixa-me criar e tão inesperadamente como chega, vai-se embora. E se ela não voltar...se a sua ausencia me obrigar a ser feliz, ficarei infértil, terra árida e seca...campo que já deu trigo... em pousio...
Sobre felicidade, não sei escrever uma única letra.