Thursday, 19 January 2017

“We did a lot of shit.”




Foto de Ana Kandsmar.

Li algures que este homem poderia ter dizimado a humanidade com uma bomba atómica, e ainda assim, seria glorificado pelos média, e por arrasto, por toda a população que se satisfaz com o que lê e ouve nas notícias. Há muita gente que se satisfaz com o que lê e ouve nas notícias. E é por isso incrível, a quantidade de gente não pensante que se deixa manipular pela propaganda da Reuters que já vem filtrada pelas várias agências de inteligência, nomeadamente a CIA, e da qual são subscritores os mais variados meios de comunicação do mundo, incluindo a CNN. 
A América beneficiou imenso com a Segunda Guerra Mundial, que arruinou os seus principais oponentes (a Europa, a União Soviética, a China e o Japão). Granjeou condições de exercer a sua hegemonia económica, tanto mais que metade da produção industrial global estava concentrada em meia centena de Estados. Talvez seja por causa da sobrepopulação. Quanto mais gente, mais escassez, e isso, não há como negar, mas também pode ser apenas a ganância que os mobiliza. O controlo de tudo nas mãos de meia dúzia é muito bom, sobretudo para a meia dúzia. 
Seja como for, lá que parece haver uma agenda para nos infernizarem a vida, parece. 
Portanto, vamos aos anjos. Nada melhor do que se colocar nos boletins de voto uma cara simpática que personifique (neste caso) o sonho americano. Tal como Martin Luther King defendeu naquele seu famoso discurso durante a Marcha de Washington em 63. “ Eu tenho um sonho que as minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver numa nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu carácter.” A América chegou lá e ainda bem, só é pena que tenha chegado apenas a meio sonho cumprido. O sonho de King devia ter-se realizado também na parte em que as pessoas são julgadas pelo seu carácter. Obama, consolidou o Black Power nas terras do tio Sam e a lufada de ar que levou aos americanos (e ao mundo), foi tão fresca, que nos deixámos ludibriar pelo seu carisma. Não digo que Obama seja um mau homem. Parece-me que não é, de todo. Mas para o nosso mal, foi um excelente fantoche. Só as imagens da família perfeita, as fofices entre Obama e Michelle, ele quase um cavalheiro inglês, ela, a perfeita grande mulher por trás do grande homem, o cão d’água português a correr feliz pelos corredores da Casa Branca, é que nos turvaram a visão. A nós e à Academia que lhe atribuiu o Nobel da Paz. Obama mereceu-o tanto quanto Hitler ou Estaline. Milhares de mortos em todo o Médio Oriente, não lhe dão propriamente o móbil para a atribuição de tão importante louvor. Lembro-me do famoso caso dos drones. Mas há mais. Vejamos: O financiamento do Estado Islâmico e a farsa em torno do esforço para combater o terrorismo. A colocação de fantoches no lugar de governos estáveis e respeitados no Médio Oriente. A América trucidou a Síria e levou o mundo inteiro a crer que os vilões nesta história bebiam vodka e usavam ushanka. Culminamos com a campanha difamatória de que a Russia terá usado hackers para manipular os resultados eleitorais que deram a vitória a Trump e a expulsão dos seus diplomatas. Tudo a bem da mentira. Em matéria de politica internacional, Obama colou o mundo ao movimento derradeiro do DoomsdayClock. Deu combustível às “revoluções de veludo” no leste europeu e financiou a horda fascista na Ucrânia. Desafiou a paciência de Putin. Mas, Obama não foi apenas um mau presidente para fora, foi-o também para dentro. Wall Street manteve-se incólume mesmo após a sua promessa de lhe cortar os tentáculos de polvo, e ao invés disso, favoreceu a banca e deu um novo fôlego ao capital. O programa ObamaCare revelou-se um desastre. Eis que após o primeiro mandato, o reformador e moralista do “Yes we can”, passou a sê-lo do “Yes we Did”, e completo: “We did a lot of shit.” 
A América é um país que pela sua importância não pode continuar a resvalar para o abismo. Porque quando cair, não cairá sozinha. Levará com ela um planeta inteiro. Relembremos erros do passado que nos custaram caro: O golpe fascista de 1973 no Chile, a intervenção militar no Panamá,Honduras e Paraguai. A invasão e destruição da Líbia e finalmente a intervenção criminosa no Iraque que constituiu a bola de neve que nos empurrou até aqui. 
Por tudo isto, Obama vai amanhã e já vai tarde. Não sei que tipo de presidente será Trump e desconfio que o tão afamado establishment do qual Obama faz parte não o deixará aquecer o lugar, mas espero que este “let’s make America great again”, aconteça e se transforme num Let’s Make The World Great Again. Com Trump ou qualquer outro. Não sou só eu que agradeço. É o mundo inteiro que agradece.