Friday 3 January 2014

Mango recusa-se a pagar indemnização por 1100 mortos no Bangladesh

Janeiro 2, 2014 - Análise, Internacional
Oito meses depois da tragédia que vitimou mais de 1100 trabalhadores precários que faziam roupa para multinacionais europeias e americanas no Bangladesh, foi criado um fundo de 40 milhões de dólares para compensar as famílias das vítimas. Várias das empresas que exploravam estes trabalhadores que recebiam até 38 euros por mês – Bonmarché, El Corte Inglés, Loblaw, Primark, concordaram em contribuir para o fundo. A Mango recusa-se a pagar, divulgou o New York Times.


A tragédia da Rana Plaza, em Savar, no Bangladesh, é apenas mais uma das horríveis faces do modelo de exploração máxima e precarização total do trabalho. Foi em Abril de 2013 que, mesmo com a ameaça clara de derrocada (havia uma racha aberta visível no edifício e houve avisos para que as pessoas não fossem trabalhar), os patrões locais das multinacionais estrangeiras apressaram quem trabalhava na gigante fábrica de roupas a entrar para cumprir os prazos das encomendas. Entre elas estavam encomendas de pólos e tshirts da Mango, entre várias outras empresas.

A tragédia constituiu mais um marco negro da história da super-exploração. Quem trabalhava na Rana Plaza ganhava tão pouco quanto 38 euros por mês, sem horários regulados e sob a pressão constante das encomendas. A escravatura é o modelo de trabalho das empresas que fazem a sua fortuna com a precariedade total.

O modelo económico destas empresas multinacionais baseia-se no corte de custos com as matérias primas, na desregulação do trabalho, na sua deslocalização para os locais com as piores condições sociais, laborais e ambientais possíveis, como é o caso do Bangladesh. E em nenhum caso as empresas se responsabilizam pelas consequências do que acontecer a quem vive nestes locais e trabalha para que os seus lucros sejam máximos. As vendas anuais da Mango são de 10 mil milhões de euros.

A Mango encontra-se em crescimento, e a sua estratégia foi cortar os seus preços para responder à recessão desde 2008. Fê-lo baixando os custos de mão-de-obra através de outsourcing e deslocalização da produção. A sua deslocalização para o Bangladesh fazia parte desta estratégia, e segundo os trabalhadores produziam-se já roupas da Mango em Rana Plaza.

A empresa espanhola afirma que estavam ainda em fase de testes e recusa-se portanto a contribuir para o fundo de apoio às famílias dos trabalhadores.

Rana Plaza é o mundo de sonho de todos aqueles que defendem a flexibilidade, a competitividade e a concorrência como forma de pôr todas as pessoas que trabalham no mundo a correr para o precipício. Rana Plaza é o desfecho da competição máxima. E muitas destas empresas lavam as suas mãos de pagar qualquer compensação, porque há milhares de outras Rana Plaza para onde deslocalizar-se, e centenas de milhões de outras pessoas para trabalhar a 38€/mês. Em Rana Plaza produzia-se roupa para a Benetton, a Bonmarché, a Cato Fashions, a The Children’s Place, El Corte Inglés, Joe Fresh, Mango, Matalan, Primark e Walmart.