Wednesday 10 September 2014

A Relação com a Mão: Contraceptivo 100% eficaz!

O lugar mais confortável que podemos almejar, quando opinamos sobre o que quer que seja, é sempre aquele que nos permite agradar a gregos e a troianos. E quanto mais polémico for o tema, maior é a tentação para nos colocarmos aí, nesse limbo de conforto, onde não há preto nem branco, tudo é cinza, comodidade, neutralidade, em suma, um pacato banho-maria que nos dá a ilusão de assertividade e equilíbrio. Esse é o reino do Assim-Assim. O problema é que nós podemos ter uma atitude assim-assim para muitas coisas. “Gosta do bife bem ou mal passado? Assim-assim”; “ Prefere o café forte ou fraco? Assim-assim”; “ Como é que lhe corre a vida? Assim-assim”, e por aí vamos. O nosso tanto faz como fez, o deixa andar, o tanto dá como se deu, pode aplicar-se a muitas coisas, mas ao aborto não. Dizer-se: “eu não sou a favor do aborto, mas defendo que a mulher é quem deve decidir” é ter esta atitude assim- assim. Numa questão tão importante e delicada quanto esta não pode haver ambiguidades. Falamos de vidas, não de escolhas que pouco ou nada nos afectam. Não se pode dizer que se é contra o aborto e ao mesmo tempo defender que a mulher tem o direito absoluto e supremo de decidir se interrompe ou não uma gravidez. Não sejamos hipócritas. Quem defende que a mulher é quem deve ter o poder de decisão sobre o que acontece a outra vida, não pode em verdade dizer que é contra o aborto.
Vi alguns comentários que defendem que o aborto não é usado enquanto contraceptivo. Lamento, mas isso não é verdade. Não para todos os casos. Um dos trabalhos que fiz cerca de 2 anos após o referendo que deu a vitória à prática do IVG, deixou bem claro que muitas mulheres, sobretudo as mais jovens abortam por "dá cá aquela palha". Um dos obstetras com quem falei na altura revelou que algumas jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos faziam em média 4 abortos por ano. Num dos casos, (o mais chocante) uma jovem de 22 anos terá recorrido ao aborto 11 vezes no espaço de 2 anos. Ora…estes são casos a nível local! Não estou a reportar este trabalho que fiz, para a totalidade do país. Nem quero imaginar como serão os números para Portugal inteiro. Segundo o DN, entre 2008 e 2012, registaram-se em Portugal cerca de 100 mil interrupções voluntárias da gravidez, sendo que, mais dois anos passados o número terá duplicado. A boa notícia é que os casos após aborto que recorrem às urgências dos hospitais diminuíram consideravelmente. (Para alguma coisa a nova lei teria que servir!) Se falarmos na pílula abortiva (do dia seguinte), então o choque é ainda maior. Existem miúdas que vão busca-la à farmácia, praticamente mês sim, mês não. Não, não estou a exagerar! Isto é preocupante porque estamos a falar de mulheres muito jovens que muito provavelmente no futuro nunca mais poderão vir a ser mães!
Contudo, penso que o mais importante nesta questão é que ainda não percebemos que a mulher, manda sim no seu corpo. Sem dúvida. Mas o corpo que está dentro dela, não é o corpo dela. É o corpo de uma criança, que está em formação, e que como já vimos (um feto com 10 semanas), é um feto como o que se pode ver na imagem. O que eu costumo perguntar sempre é: se não se pode matar uma criança que já nasceu, porque é que se aceita que se mate uma que ainda está em formação? Qual é a lógica disso? É com base nessa reflexão que considero perfeitamente surreal que se argumente que em casos extremos, (como esse mais recente, por exemplo do pai que matou a criança em água a ferver), pais que matam os seus filhos, tenham eles a idade que tiverem, sirvam de exemplo para justificar o aborto. Nada disso serve de exemplo para justificar um aborto! Um crime não pode justificar outro crime! Não faz sentido! Se a vida fosse valorizada pelo tempo que se respira sobre a terra, então os idosos seriam tratados como reis e rainhas, certo? E não o são. São atirados para lares de 3ª idade, abandonados, negligenciados, esquecidos. Um bebé ainda no ventre da mãe não tem menos direito à vida que outro que acabou de nascer. Porque teria? Porque o ouvimos chorar? Porque lhe mudamos a fralda, lhe damos os seios para que ele se alimente? E quando está no nosso ventre? Não se alimenta também de nós? Não chora? Não reconhece o toque da mão da mãe sobre a barriga? Não se acalma quando a mãe lhe fala? Bom, eu sou mãe e posso garantir-vos que um bebé no nosso ventre faz tudo isso. Na primeira ecografia que fiz do meu filho, (tinha ele 6 semanas), estava a chuchar no dedo.
Quero que fique bem claro que acredito sinceramente que ninguém é a favor do aborto e que aquilo que se pretende evitar é que mais mulheres continuem a ser penalizadas, quer pela sociedade, quer pela negligência de quem a troco de alguns euros arrisca a fazer o que não sabe ou não tem condições para fazer. Mas também acredito que já vai sendo tempo de nos deixarmos de egoísmos. Não estamos a falar de mulheres que vivem nas décadas de 80/70/60 ou anteriores. Não estamos a falar de mulheres que vivem em países de 3º Mundo, onde a informação e métodos para evitar uma gravidez, são de difícil acesso ou mesmo inexistentes. Estamos a falar de mulheres que tendo a possibilidade de levantar contraceptivos gratuitos nos centros de saúde, preferem assobiar para o lado e nunca lá põem os pés. Estamos a falar de mulheres que em larga escala e independentemente da sua classe social, têm acesso à internet, defendem práticas de libertinagem sexual que vão desde o swing ao mamading, exibem iphones e unhas de gel. Será que é mesmo por causa dos parcos recursos monetários que se recorre tanto ao aborto? Sinceramente, não me parece. O que as leva à IVG é a crise de valores. A crise de humanidade e não a crise monetária.
Hoje só engravida quem quer. Fazer sexo é muito bom, mas há consequências e eu não acredito que exista uma só mulher com mais de 14 anos, neste país que não saiba que as há e quais são. E acima de tudo, que não saiba o que, e como fazer para evitar uma gravidez não desejada. Posto isto, se me perguntarem se eu acho que deveríamos voltar a criminalizar, só posso em coerência dizer que a mesma lei que defende a vida de quem já deu o seu primeiro berro no mundo, deve ser a lei que defende a vida de quem ainda se prepara para o fazer. Reforço que a mulher é dona do seu corpo sim, mas o corpo da criança que ela carrega não é o seu corpo. É outro corpo. Outro ser. A melhor solução de todas creio eu, virá a longo prazo (ou não). Só dependerá de todos nós. Eduquemos as nossas crianças para os valores que valem realmente a pena. Às meninas, ao invés de as considerarmos inocentes e ingénuas, ensinemos tudo o que há para ensinar sobre o sexo e o amor, sobre o quanto é maravilhoso esse encontro de dois corpos que se amam, mas também a importância de conhecer todas as regras desse jogo da sedução. Levemo-las a tempo às consultas do planeamento familiar, ginecologistas, o que for preciso para que elas estejam preparadas, protegidas e conscientes dos seus actos. E isto não é para fazer depois de elas terem 16 ou 17 anos. É para fazer logo que elas comecem a menstruar. Aos meninos, ensinemo-los a assumir responsabilidades, a cuidar do que criam…em suma, a protegerem a sua e a vida de quem com eles se envolve.
Acrescento que para os adeptos do assim-assim existe uma coisa muito boa: A relação com a mão. E atenção que, quando eu falo em relação com a mão, não a sugiro apenas aos homens. As mulheres também podem ter uma relação assim-assim com a mão. Assim-assim, porque será sempre aquele tipo de relação que dá prazer mas nem tanto e faltam sempre muitas coisas: o corpo do outro, os beijos, as caricias e os afectos verbalizados. Por isso é uma relação assim-assim. Dá para o gasto. Para o alívio momentâneo. A vantagem é que uma relação com a mão não coloca ninguém numa situação que não deseja. Diria mesmo que a relação com a mão, já traz um método anticoncepcional incorporado e que é 100% seguro!
Por último…sim, é vergonhoso que o estado pague a quem quer matar e não ajude a quem quer dar a vida. Tudo o resto que possa ser dito a este respeito, na minha opinião, são desculpas, disparates, parvoíces, tretas e uma enormíssima falta de bom senso.