Thursday 7 November 2013

A Margarida voltou à “ribalta”.

Contrariando o nome do seu último romance “ Há sempre uma primeira vez”, a ex-critora cai pela segunda em desgraça, quando abre a boca para falar de outra coisa que não seja o amor. 
Depois do episódio 1: “Gordinhas são asquerosas e ficavam bem empaladas”, segue-se o episódio 2 “ portugueses que se manifestam contra a crise causam-me pena e repulsa”. Isto é mau. Muito mau sobretudo para ela, para a Bertrand e afins que correm o risco de ver uma baixa de vendas nos folhetins cor-de-rosa que a Margarida ass(ass)ina. Mas sejamos realistas: Isso não vai acontecer. 
E porquê? Porque como ela diz (e agora vem a parte do salvamento) a Margarida tem razão. 
Os portugueses têm mesmo memória curta. De entre várias coisas de que nos esquecemos com uma frequência irritante, é que este governo e os anteriores foram escolhidos pela maioria. 
Fomos nós que os colocámos no pedestal em qu(e)estão. 
Não me parece que eu possa chamar de assassino a um tipo que passa por mim na rua e a quem eu dou uma arma e toda a liberdade para que ele me mate. Quando muito, a isso, eu chamo morte consentida. Eutanásia, portanto. 
Ora, tendo em conta que as manifestações nas galerias do parlamento (e foi contra este tipo de manifestação que a senhora se insurgiu) resultam sempre neste tipo de insultos aos deputados e demais membros do governo, parece-me a mim, são completamente inúteis e sim, também fico triste quando vejo pessoas que querem ser respeitadas mas não se dão ao respeito. 
Não sou contra as manifestações, entenda-se, sou é a favor de mais acção e menos crítica fácil. Sou a favor de que as pessoas se unam no sentido de conhecerem bem as regras do jogo (político) de forma a serem capazes de reconhecer os seus vícios e eliminá-los de uma vez por todas ou na hipótese mais realista, minimizá-los.
A Margarida ainda diz: "Não foi este governo que colocou o País na situação em que ele se encontra. Houve vários governos anteriores, com medidas suicidas, que nos puseram na situação em que estamos hoje". 
Independentemente de muita gente achar que este é o pior governo de sempre, e é legítimo que assim se pense, convém não esquecer (e aqui voltamos à memória curta) que o País não está na situação em que está por culpa exclusiva do executivo de Passos Coelho. Ou querem lá ver que estava tudo a correr lindamente antes de ele ter chegado ao poder? 
Vamos agora transformar o nosso passado recente num cenário mais cor-de-rosa que os livros da Margarida e acreditar que o país estava numa óptima situação financeira e que de repente, mergulhou na miséria? Ou que o défice estava muito baixo e de repente disparou? Ou que as taxas de juro estavam quase a zero e nestes dois anos e meio foram por aí acima? E que tínhamos todos muito dinheiro, e muitas regalias e muitos direitos e muitos subsídios e viveríamos felizes para sempre? Não, não, não e não! 
O País tem vindo a ser arruinado, sucessivamente, pelas políticas definidas pelos governos dos últimos 30 anos sejam eles mais à direita ou mais à esquerda. E nós aceitámos essas políticas! Independentemente de termos sido engolidos por uma crise económica e financeira que nasceu no exterior, provocada pela ganância das instituições bancárias, nós temos a nossa quota de responsabilidade. Porque não pensámos nas consequências das nossas escolhas: Dos empréstimos que pedimos, do comodismo que nos paralisou e nos impediu de lutar contra o pousio em que deixámos os nossos campos agrícolas, contra o desmantelamento da nossa frota pesqueira, contra o encerramento da nossa industria, contra a atribuição “ a torto e a direito” de subsídios para tudo e mais alguma coisa. 
Eu sei que custa admitirmos “Mea culpa”, mas seria honesto da nossa parte fazê-lo.
 Eu sei que não podemos paralisar, e ficarmos de olhos fechados para a realidade cada vez mais triste que se abate sobre quem já tem tão pouco para sobreviver. Eu sei que não podemos ficar indiferentes à “vida por um fio” de tantas famílias, dos nossos idosos, das nossas crianças. Não podemos! 
É preciso agir sim, é um facto. Mas, a questão é: interromper o plenário, atirando resmas de papel aos deputados enquanto lhes chamamos filhos da puta, vai mesmo permitir que as reformas dos mais velhos lhes volte a descansar a alma? Vai mesmo permitir-lhes saber que já podem ir à farmácia levantar a receita na totalidade e ainda lhes sobra dinheiro para irem ao supermercado? 
Vai realmente levar-nos à concretização do nosso desejo mais que legítimo de ganharmos mais que os míseros 485euros de salário mínimo? Ou vai presentear-nos s apenas com a efémera satisfação da vingançazinha básica, só porque sabemos que chateámos alguém? É claro que não concordo com tudo o que a Margarida disse.
 Quando ela diz por exemplo que "Há medidas que, não sendo populares, são as únicas medidas possíveis". Não me parece que haja apenas um caminho para atingir um mesmo fim. Há o caminho definido por este governo, mas haverá seguramente outros, não sei se mais ou menos eficazes, mas a verdade é que há outros. 
O grande problema é que ninguém apresenta outros. Critica-se. Diz-se mal de tudo e mais alguma coisa. Disparam-se as línguas afiadas em todas as direcções, destila-se veneno para tudo o que mexe os olhinhos, mas alternativas que é bom…nem vê-las. 
É evidente que não é o cidadão comum, que não percebe patavina de economia e outras ciências essenciais à boa governação deste ou de outro país qualquer, que deve ou tem capacidade para encontrar caminhos que nos levem além crise. Mas podemos ao menos parar de enfiar a cabeça na areia, podemos parar de apontar o dedo para os outros gritando que a culpa é só deles. 
Podemos parar de querer que as coisas voltem a ser como eram. Porque podemos (alguns de nós) ser menos cultos ou menos conhecedores das matérias que determinam a nossa qualidade de vida, mas o bom senso é algo que deve prevalecer. E o bom senso diz-nos que quando se vive com dinheiro que não se tem e quando não se produz, nada de bom podemos almejar. 
E é desta forma que “dou a mão” à Margarida. É deste modo, que como ela, dou uso à minha liberdade de expressão e mergulho de cabeça nesta tal democracia que tanto queremos preservar, e a “salvo” dos ataques a rodos de quem tem sido alvo nos últimos dias. Porque, por muito mal que tenham sido escolhidas as suas palavras, ela espelhou muito do que eu penso. 
Aquilo que me separa dela – para além dos meus parcos rendimentos que não me chegam para ser “dondoca, e de eu pertencer ao grupo das gordinhas que “mijam nos becos e dizem palavrões”, bem diferente de partilhar com as giras (como ela), todo um mundo novo onde nunca se pode “pisar o risco”,- é que tenho bem presente que muitos dos que se manifestam não têm falta de inteligência, como diz -Sua-Alteza Intelectual- , e sim falta de comida para si próprios e seus filhos.


P.S. (Quanto aos livros da Margarida, se quiserem ir para a rua neste inverno, fazer fogueiras com eles, digam-me que tenho por aqui alguns com os quais posso contribuir).