Thursday 2 May 2013

Já somos duas! :)


Coisas do Facebook

O meu amigo Nuno Dagarman, publicou no mural dele,esta imagem, fazendo uma comparação, como tantas outras que já vi, entre a alegada opulência em que vive o Papa, e a pobreza no mundo. Não fiquei indiferente à indignação do Nuno, nem tão pouco à crueza da imagem e por isso, aqui fica o comentário que lhe fiz e que penso ser talvez, alvo de algumas criticas por parte de quem me lê. Mas peço que me leiam e vejam esta questão de uma forma um pouco mais assertiva, ou menos temperamental , se quiserem. É um exercício difícil, eu sei, mas, lá vai:

"Esta , (depois de todas as que eu costumo ler em relação à politica e aos políticos),é talvez das criticas mais injustas que me passam pelos olhos. É óbvio que quando olhamos para uma imagem destas temos que nos chocar e pensar que não há nada de divino na forma como a igreja se comporta perante o mundo. E não há, de facto. A igreja ao longo dos séculos tem cometido tantos erros que eu dificilmente poderia ver num Papa, alguém que é um representante de Deus. ( segundo a minha forma de olhar para Deus, claro.) Contudo, insisto naquilo que me parece de injustiça, ao criticarmos a tão falada opulência do Vaticano versus pobreza no mundo. De que tipo de opulência falamos nós afinal? Julgo que é preciso clarificar esta questão. Referimo-nos à Basílica de S. Pedro, e à Capela Sistina? Bom, se nos referimos a isso, então eu posso argumentar, que não é o papa que vive na opulência, porque o Papa não vive aí, o papa vai aí, como qualquer um de nós pode ir, e relembrar que esses edifícios maravilhosamente ornamentados, foram assim construídos para, em consonância com a tradição cristã, honrar a Deus com os melhores materiais que a terra tem. O ouro é dos nossos bens mais preciosos. Penso que é normal, querermos (acreditando nisso) honrar o altíssimo com o que de melhor somos capazes. Se me rebateres o argumento dizendo que : " ah, mas Deus lá quer saber do ouro, ele está-se nas tintas para esse tipo de honrarias", sou levada a concordar contigo, porque efectivamente me parece que Deus não está minimamente interessado em metais preciosos. Ainda assim, não posso afirmá-lo convictamente, sob pena de ser muita presunção minha acreditar que conheço a natureza de Deus. Resta-nos portanto, os cómodos que o papa ocupa e o espólio de arte que a igreja detém. Veremos primeiro os aposentos do papa. Se procurares no google ( e convido-te a fazê-lo), facilmente descobrirás que o homem, que além de líder espiritual dos católicos e também (tal como um presidente da republica) é Chefe de Estado do Vaticano, não ocupa aposentos propriamente exuberantes. Tem um quarto com paredes nuas, brancas, uma cama, uma cómoda e um roupeiro. Um ambiente até bastante austero, para quem alegadamente vive no luxo. Claro que não são móveis do IKEA, como... olha, como os meus, mas o meu quarto é muito mais giro. Não troco, obrigada. :P passemos então ao espólio de arte que a igreja vem coleccionando ao longo dos séculos. Já ouvi inclusivamente quem defenda que a igreja devia era vender toda a sua arte e fazer chegar esse dinheiro aos pobres. Peço-te que sejas pragmático em relação a isto: Supondo que a igreja vende a sua arte, acabará com a pobreza no mundo? Não, pois não? Não. Infelizmente a pobreza é um flagelo permanente que existe e continuará a existir independentemente do que uma igreja possa fazer para acabar com ela. A pobreza é um buraco sem fundo,que poderá ser menos fundo, se todos nós globalmente, fizermos alguma coisa quanto a isso. Existe até uma passagem curiosa na Bíblia, em que Judas acusa Tiago de estar a esbanjar um óleo raro para untar os pés de Cristo e lhe pergunta: Porque não vendes antes o óleo e matas a fome aos pobres? Ao que Jesus, terá respondido: Se eu vender o óleo, mato a fome de quantos pobres e por quanto tempo? Penso que a mensagem de certa forma é: apesar de ser necessário agir, ajudando quem é mais frágil, se nos desfizermos do que temos para dar, então também nós ficaremos tão frágeis quanto quem nos pede ajuda e o mundo não ganhará mais um rico, ao contrário: ganhará mais um pobre. Quem ganha com isso? Termino este comentário que já vai longo, (desculpa :P) lembrando apenas mais duas coisas: Uma, é que, apesar de tudo o que se possa dizer sobre a opulência do Vaticano, ainda é a igreja católica quem mais faz pelo pobres em todo o mundo. ( não chega , nós sabemos, mas pelo menos a igreja faz .) Não é por certo a IURD que faz, ou a protestante, ou o islamismo, o induismo, o judaísmo, blábláblá...é a Católica. relembro as missões, os médicos sem fronteiras, o investimento no ensino, as misericórdias. E outra é que, para quem gostar (obviamente) da comparação ao tão místico mundo budista, ( já vi que te dizes budista, não quero ferir-te), trazido para a nossa civilização ocidental através das novas concepções religiosas e filosóficas da New Age, meu amigo, recomendo vivamente que voltes a procurar na internet, o palácio de Potala em Lhasa no Tibete, e vê com os teus próprios olhos a magnificência , o luxo em que vivia Sua Santidade o Dalai Lama ( que eu muito admiro), antes de se exilar na Índia. Desse luxo, ninguém fala. E olha que estamos a falar de um líder espiritual que vivia sim, na opulência, quando os seus próprios conterrâneos vivia (e vive), na mais absoluta miséria. E agora só a título de curiosidade, caso não saibas, talvez gostes de saber que um dos rituais sagrados e muito apreciados pelos nossos amigos pacifistas budistas, é a entrega ao seu Dalai Lama, da pele de crianças pequenas, que são esfoladas vivas para o efeito. É, segundo eles dizem, um ritual de purificação para celebrar a chegada do seu novo líder. Enfim, já me alonguei demais. Depois disto tudo, cheguei a informar-te que não sou católica e que abomino qualquer tipo de religião? Não? Bom, já disse. "

A pequenez de algumas coisas...

Querido Universo...Não. Isto não é uma banana da Madeira. :)


«Sem tirar nem pôr»

Por Alice Brito, advogada e dirigente do Bloco de Esquerda. O texto é uma crítica feroz às inefáveis afirmações de Ulrich, o presidente do banco BPI. Publicado no blog "Paradigma da Matrix" em Fevereiro deste ano, mas actual. Excelente texto. Vale a pena ler.





«Sei que a raiva não é boa conselheira. Paciência. Aí vai.

Havia dantes no coração das cidades e das vilas umas colunas de pedra que tinham o nome de picotas ou pelourinhos. Aí eram expostos os sentenciados que a seguir eram punidos com vergastadas proporcionais à gravidade do seu crime. Essa exposição tinha também por fim o escárnio popular. Era aí que eu te punha, meu glutão.

Atadinho com umas cordas para que não fugisses. Não te dava vergastadas. Vá lá, uns caldos de vez em quando. Mas exibia-te para que fosses visto pelas pessoas que ficaram sem casa e a entregaram ao teu banco. Terias de suportar o seu olhar, sendo que o chicote dos olhos é bem mais possante que a vergasta.

Terias, pois, de suportar o olhar daqueles a quem prometeste o paraíso a prestações e a quem depois serviste o inferno a pronto pagamento. Daqueles que hoje vivem na rua.

Daqueles que, para não viverem na rua, vivem hoje aboletados em casa dos pais, dos avós, dos irmãos, assim a eito, atravancados nos móveis que deixaram vazias as casas que o teu banco, com a sofreguidão e a gulodice de todos os bancos, lhes papou sem um pingo de remorso.

Dizes com a maior lata que vivemos acima das nossas possibilidades. Mas não falas dos juros que cobraste. Não dizes, nessas ladainhas que andas sempre a vomitar, que quando não se pagava uma prestação, os juros do incumprimento inchavam de gordos, e era nesse inchaço que começava a desenhar-se a via-sacra do incumprimento definitivo.

Olha, meu estupor, sabes o que acontece às casas que as pessoas te entregam? Sabes, pois… São vendidas por tuta e meia, o que quer dizer que na maior parte dos casos, o pessoal apesar de te ter dado a casa fica também com a dívida. Não vale a pena falar-te do sofrimento, da vergonha, do vexame que integra a penhora de uma casa, porque tu não tens alma, banqueiro que és.

Tal como não vale a pena referir-te que os teus lucros vêm de crimes sucessivos. Furtos. Roubos. Gamanços. Comissões de manutenção. Juros moratórios. Juros compensatórios, arredondamentos, spreads, e mais juros de todas as cores. Cartões de crédito, de débito, telefonemas de financeiras a oferecerem empréstimos clausulados em letrinhas microscópicas, cobranças directas feitas por lumpen, vale tudo, meu tratante. Mesmo assim tiveste de ser resgatado para não ires ao fundo, tal foi a desbunda. E, é claro, quem pagou o resgate foram aqueles contra quem falas todo o santo dia.

Este país viveu décadas sucessivas a trabalhar para os bancos. Os portugueses levantavam-se de manhã e ainda de olhos fechados iam bulir, para pagar ao banco a prestação da casa. Vidas inteiras nisto. A grande aliança entre a banca e a construção civil tornavam inevitável, aí sim, verdadeiramente inevitável, a compra de uma casa para morar. Depois os juros aumentavam ou diminuíam conforme era decidido por criaturas que a gente não conhece. A seguir veio a farra. Os bancos eram só facilidades. Concediam empréstimos a toda a gente. Um carnaval completo, obsessivo, até davam prendas, pagavam viagens, ofereciam móveis. Sabiam bem o que faziam.

Na possante dramaturgia desta crise entram todos, a banca completa e enlouquecida, sendo que todos são um só. Depois veio a crise. A banca guinchou e ganiu de desamparo. Lançou-se mais uma vez nos braços do Estado que a abraçou, mimou e a protegeu da queda.

Vens de uma família que se manteve gloriosamente ricalhaça à custa de alianças com outros da mesma laia. Viveram sempre patrocinados pelo Estado, fosse ele ditadura ou democracia. Na ditadura tinham a pide a amparar-vos. Uma pide deferente auxiliava-vos no caminho. Depois veio a democracia. Passado o susto inicial, meu Deus, que aflição, o povo na rua, a banca nacionalizada, viraram democratas convictos. E com razão. O Estado, aquela coisa que tu dizes que não deve intervir na economia, têm-vos dado a mão todos os dias. Todos os dias, façam vocês o que fizerem.

Por isso falas que nem um bronco, com voz grossa, na ingente necessidade de cortes nos salários e pensões. Quanto é que tu ganhas, pá?

Peroras infindavelmente sobre a desejável liberalização dos despedimentos.

Discursas sem pejo sobre a crise de que a cambada a que pertences é a principal responsável.

Como tu, há muitos que falam. Aliás, já ninguém os ouve. Mas tu tinhas que sobressair. Depois do “ai aguenta, aguenta”, vens agora com aquela dos sem-abrigo. Se os sem-abrigo sobrevivem, o resto do povo sobreviverá igualmente.

Também houve sobreviventes em Auschwitz, meu nazi de merda!

É isso que tu queres? Transformar este país num gigantesco campo de concentração?

Depois, pões a hipótese de também tu poderes vir a ser um sem-abrigo. Dizes isto no dia em que anuncias 249 milhões de lucros para o teu banco. É o que se chama um verdadeiro achincalhamento.

Por tudo isto te punha no pelourinho. Só para seres visto pelos milhares que ficaram sem casa. Sem vergastadas. Só um caldo de vez em quando. Podes dizer-me que é uma crueldade. Pois é. Por uma vez terás razão. Nada porém que se compare à infinita crueldade da rapina, da usura que tu defendes e exercitas.

És hoje um dos czares da finança. Vives na maior, cercado pelos sebosos Rasputines governamentais. Lembra-te porém do que aconteceu a uns e ao outro.»

"Who is John Galt?"



Já tive o prazer de ver grandes filmes. Este de que vou falar agora não é um grande filme do ponto de vista cinematográfico. Não tem um elenco de actores conhecidos do grande público, não tem o apoio de um deslumbrante painel de efeitos especiais, não tem sequer uma grande fotografia. Mas tem uma grande estória: uma sequela baseada no romance de Ayin Rand. Este Atlas Shrugged, pode não levar ninguém numa viagem vertiginosa ao centro do universo, mas vai de certeza obrigá-lo a perguntar muitas vezes: "Who is John Galt?"
Recomendo. ;)