Friday, 14 August 2009

Até que a morte nos separe...



Ainda não o disse aqui, mas este fim-de-semana fui a uma festa muito especial.
Mais especial (penso eu) que um casamento. Fui a uma renovação de votos. Ora a renovação de votos, é assim qualquer coisa como tirar a Deus toda e qualquer dúvida (caso Ele as tenha) de que vamos mesmo permanecer juntos até que a morte nos separe, tal como prometemos (neste caso há 25 anos atrás). Esta história de renovar os votos do casamento, só é tão especial e importante, porque como sabemos estamos em pleno séc. XXI, época de total emancipação da mulher, apogeu no número de divórcios e queda vertiginosa do amor, que deixou de ser um sentimento e passou a ser mais um mito, uma lenda que como qualquer outra remetemos para os contos de fadas e acreditamos que não existe. - “ olha lá, acho que é mesmo amor que sinto por ele. Será? – “Tas a alucinar? Isso do amor não existe! Ou também acreditas que se te picares num fuso dormes a vida toda? Ah, e já agora esperas que ele te beije para acordares,não?”
Pois no fim-de-semana passado, a minha tia (poucos anos mais velha que eu e que disputou comigo namorados na primária), provou-me o contrário, vestindo-se outra vez de noiva, bela e imaculada e dizendo mais uma vez o SIM ao marido, após 25 anos de turbulência conjugal. 25 anos não são 25 dias e hoje há casamentos que nem os 25 dias aguentam, o que dizer de 25 anos? Se somarmos as brigas, as palavras amargas atiradas bocas fora, as inseguranças sucessivas, os problemas monetários, as chatices carregadas do trabalho para casa, as depressões pós-parto, as dores de cabeça (ou a falta de vontade) que tantas e tantas noites impediram o sexo, o amor roubado ao marido para dar aos filhos, mais a rotina que se instalou, temos um saldo bastante negativo no que toca à tendência para manter um grande amor. E aqui, quer queiramos quer não, o tamanho conta mesmo, porque um amor pequenino já teria morrido há muito e com ele todas as hipóteses de segurar mais uma vez no bouquet e em frente ao padre dizer o “ Sim, quero passar contigo todos os dias que restam da minha vida.”
Lindo não é? Confesso que senti um arrepio imenso a percorrer-me a espinha no momento em que os ouvi dizer isto. Só não sei se devido à emoção do momento, se devido àquela sensação de longevidade ao lado de outra pessoa, coisa que sempre me atormentou embora simultaneamente até o deseje. Mas também pode ter sido por causa da porta da igreja estar aberta. Adiante… A verdade é que casar há 25 anos atrás era um nadinha diferente do que é hoje. As pessoas na época ainda acreditavam realmente no amor. Os homens não eram tão indecisos, se namoravam uma rapariga era porque queriam mesmo casar com ela, caso contrário ficavam-se pelas “curtes”, (sim nesse tempo já haviam curtes) mas também era certo que essas curtes não davam para muito mais que uns beijos e uns amassos dados meio às escuras, longe dos olhares alheios. Daí que namorar poderia ser muito mais rentável. Claro que o namoro implicava ir a casa dela pedi-la ao pai, que é como quem diz, sujeitar-se a uma corrida desenfreada pelas ruas mais próximas, mas pelo menos as probabilidades de chegarem à “queca” eram muito maiores. É óbvio que nem todos os casais de há 25 anos atrás o faziam. Nessa altura não faltavam adeptos da “ virgindade até ao casamento” e recordo-me perfeitamente de algumas das minhas colegas de turma, estarem impedidas pelos pais de fazerem a espargata , para não romperem o hímen. Ora a minha tia, era uma dessas adeptas da virgindade até subir ao altar, o meu tio, idem-idem-aspas-aspas, e assim segundo contam, a primeira noite deles foi mais de lua -de- fel que de lua-de-mel, uma vez que a ignorância (dela principalmente) em relação ao sexo era tanta, que se ele lhe tivesse dito que a penetração era feita pelos olhos, ela teria aceitado sem hesitar, ainda que isso lhe valesse ter ficado zarolha para o resto da vida. E era assim que se imaginava que a mulher conhecesse o sexo. Através da ignorância, da dor e do dever de desfrutar dele. E aqui as complicações não eram poucas, porque a ideia que as mulheres tinham do sexo na altura, não se comparava à ideia que as mulheres têm agora. Como 25 anos apenas podem fazer tanta diferença! Ao contrário desses tempos, o sexo hoje é profusamente associado ao prazer e agora sim, nenhuma mulher corre o risco de ficar zarolha por causa dele (ainda que a penetração seja efectivamente feita pelo olho…ihihih). Entrámos pois na era da libertação sexual. E ironicamente também na era da libertação do amor. Libertámo-lo de tal maneira, que agora, queremo-lo de volta, procuramo-lo quase desesperadamente e não sabemos por onde se esconde.Esta é sem dúvida a grande tragédia dos nossos dias. Esqueçam os atentados terroristas, a bomba atómica da Coreia do Norte, o tsunami na Ásia ou a fome em África. O que nos faz verdadeiramente perder a nossa humanidade é esta incapacidade de nos apaixonarmos, de vertermos o nosso amor uns sobre os outros seja de que forma for. Não me venham cá com tretas...o amor maior não é o dos pais pelos filhos ou o inverso.Esse é um amor titânico sim, pelo qual damos tudo, inclusivé a vida, mas é um amor que não escolhemos, como não escolhemos os nossos filhos ou os nossos pais.É um amor que a vida nos "impõe" e curiosamente o único que é incondicional.Apesar disso não há amor mais sublime e divino que aquele que une um homem e uma mulher. Porque dois seres estranhos que à partida a nada são obrigados, são capazes (ou deviam ser), de nutrir um pelo outro o único sentimento que tem o poder de os fazer jurar permanecerem juntos, apesar de todos os contras, enquanto tiverem ambos um sopro de vida.
Se perder isto não é uma grande tragédia não sei o que será.