Sunday 25 September 2016

Conversas com a minha avó


-Então, avó, porque chora?
-Porque tenho saudades das minhas netas.
-De que netas, avó?
-Olha, uma esteve cá há pouco tempo, mas já não me lembro do nome. Tem uma menina. É a Érica. A outra parece-me que se chama Dina, estou à espera dela para me mostrar o Simão. E há ainda outra. Aquela que me roubava chocolates quando era pequena.
-Avó, essa que lhe roubava chocolates, era eu. :)
-Oh…a sério? Deixa lá. Se fosse hoje eu deixava-te roubar chocolates à vontade. 

Outono

Com que agonia se ouve a voz das fontes? 
Se ela tem humildes alegrias quando canta
Saboreio um inverno em cada planta
E um verão em longínquos horizontes
Árvores maternas abrem os braços
Verdes, tristes, num gesto criador
Com impulsos derradeiros abrem espaços
E chegam mais perto ao seu senhor.
Mas tudo, risos e sonhos subsistem
Doura a tarde sonhos feitos de abandono
Nas sombras dos jardins em que resistem, 
eu passo, e piso folhas mortas de outono.
Se antes voaram bem alto como pombas
Hoje, sombras vagas a errar 
Por entre sombras.