Saturday, 2 September 2017

Conchas da praia? Quem mais podia tê-las na campa, senão tu?

Encontrei-te quase “despida”. Um raminho de “sempre-vivas”, outro de gerberas, dois pezinhos de rosas brancas envoltos em papel de prata… e as conchas. Foram lá deixadas por quem te conhecia a paixão pelo mar. Continuarás assim a ouvi-lo. Das profundezas da terra, ouvirás as profundezas do mar e continuarás a saber pelo mar as notícias de um mundo que nunca quis saber notícias tuas.
Deixei a minha mão desenhada sobre a terra. Quis que soubesses que eu estava aí. Quis que me sentisses, como quando nos abraçávamos antes do café e das gargalhadas. Esse coração que hás-de ver desenhado sobre a campa, fui também eu que o deixei. É um coração como o teu. Não bate mas guarda memórias. São sempre as memórias que arrastam as despedidas e quanto maiores são as memórias mais tempo leva a dizer adeus. É preciso antes disso enumerar os pátios e os terraços e todos os palcos da nossa amizade. É preciso lembrar a tua voz que apagava todos os silêncios e todas as raízes que me lançaste para que eu crescesse e me multiplicasse em tantas ideias e sonhos como os que nunca desististe de sonhar. Se eu pudesse trazia-te de volta à vida porque neste instante em que estás morta sabes infinitamente mais do que eu. Eras uma mulher tão especial! Tão viva! Preciso de me arrastar na despedida porque não me avisaste antes que ias partir… Precisarei agora de olhar todas as estrelas do céu e perscrutar cada luar que pousar à noite para saber onde tu estás. Hei-de ver o desfilar dos anos pela pequena brecha dos teus olhos porque parte de mim olha o mundo como tu olhavas.
Não te levei flores. Hei-de levar-te violetas, porque sei que ao levá-las estarei a arrastar a despedida. E depois disso hei-de levar-te as tulipas que dormirão contigo. O nosso adeus há-de ser uma concha longe, longe da maré. Há-de ser a concha na tua campa, a concha que jamais será carregada pela água, jamais sucumbirá à força do mar.
Sabes, que acredito em Deus, como tu acreditas no holograma da lua e no teu confinamento. Espero que estejas errada. Quero-te livre agora, pelo menos agora, já que o corpo não te deixou sê-lo em vida. Quero que saias de onde tu estás e vás ver o voo dos condores na Cordilheira dos Andes, as linhas de Nazca no Perú, as Pirâmides de Tikal e depois as de Gizé, os gigantes da Ilha da Páscoa, os astronautas da Amazónia…. Acredito que o universo é eterno, mas também o são os sentimentos e os teus amores não morreram só porque tu morreste…
Hei-de levar-te violetas porque sei que ao levá-las estarei a arrastar a despedida. A tua voz há de vir de longe como o som do mar de dentro de um búzio e então eu saberei que ainda não te perdi porque nunca perdemos o que realmente importa.
Há muito que o encanto do mundo não surte em mim qualquer efeito. Lamento. Sei que me querias mais garreada a este chão, mas a terra não me é sedutora o quanto baste. Arredo-me, tanto quanto possível do ruído que a humanidade em desassossego provoca e mantenho-me quieta, à escuta do silêncio, compreendendo o silêncio e todos os segredos que só o silêncio revela. Num desses silêncios, eu sei, ouvirei a tua voz e depois sim, o mundo voltará, pelo menos, a fazer sentido.

Foto de Ana Kandsmar.

Friday, 1 September 2017

Foi há 20 anos...



Saí da praia (em S.Martinho do Porto) para assistir ao seu casamento, tinha eu uns 11 anos. Não o nego, também fui apanhada pelo fascínio que ela exercia sobre os restantes mortais. Foi com muita tristeza que recebi a noticia da sua morte e acredito profundamente que a sua passagem pela Terra deixou marcas que poucos reis ou rainhas serão capazes de deixar. Toda ela era luz.
Foto de Ana Kandsmar.

Thursday, 31 August 2017

Se assim fores, meu filho, serás um HOMEM!

O dia 30 de agosto de 1994 foi o dia mais importante da minha vida porque fui tua mãe e graças a ti aprendi a ser mãe da tua irmã.
Quando eras pequenino eu costumava cantar-te o tema mais bonito do “Feiticeiro de Ozz” Somewhere Over The Rainbow, lembras-te? Adormecias no meu colo, embalado pela minha voz e a tua expressão, meu filho, a tua expressão doce como a de anjo, guardo-a para sempre. São mais minhas que tuas essas recordações da tua infância, todas as tuas estreias no palco da vida, o primeiro olhar, o primeiro choro, o primeiro sorriso, o primeiro passo, a primeira palavra… o teu primeiro amor…que sei, fui eu. 
Leva-me sempre no teu coração, para onde quer que vás. Tu jamais sairás do meu.
Agora compreendo as mães que acreditam que os seus filhos são os melhores do mundo! Se alguém te ferir profundamente, renasce das tuas cinzas. Enfrenta os teus desafios. Nunca te sintas vencido ou derrotado.
Não permitas que te convençam de que tudo termina em decepção. Ergue os olhos, fita-os no horizonte. Não te desejo amargo ou descrente. Tem fé...
Deixo-te as palavras de Rudyard Kipling que bem podiam ser as minhas:
“Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma, quando os outros os perdem, e te acusam disso, 
Se és capaz de confiar em ti, quando te ti duvidam e, no entanto, perdoares que duvidem, 
Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança e não caluniares os que te caluniam, 
Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine, e pensar, sem reduzir o pensamento a vício, 
Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre, sem fazer distinção entre estes dois impostores, 
Se és capaz de ouvir a verdade que disseste, transformada por canalhas em armadilhas aos tolos, 
Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira e construí-lo outra vez com ferramentas gastas, 
Se és capaz de arriscar todos os teus haveres num lance corajoso, alheio ao resultado, 
e perder e começar de novo o teu caminho, sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado, 
Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos e fazê-los servir se já quase não servem, sustentando-te a ti, quando nada em ti resta, a não ser a vontade que diz: Enfrenta! 
Se és capaz de falar ao povo e ficar digno ou de passear com reis conservando-te o mesmo, 
Se não pode abalar-te amigo ou inimigo e não sofrem decepção os que contam contigo, 
Se podes preencher todo minuto que passa com sessenta segundos de tarefa acertada, 
Se assim fores, meu filho, a Terra será tua, será teu tudo que nela existe 
E não receies que te o tomem, mas (ainda melhor que tudo isto) 
Se assim fores, meu filho, serás um HOMEM. “

Foto de Ana Kandsmar.

Saturday, 19 August 2017

Xenofobia VS Realismo

Quando leio por aí comentários de gente raivosa a dizer que os muçulmanos não são humanos, são lixo, são animais, são rastejantes...etc,etc...lembro-me daqueles tempos em que os brancos acreditavam que os pretos não tinham alma, e eram uma espécie de freek show ambulante, cuja serventia não ia além da escravatura. 
Não aprendemos nada com a história. Nada! Continua-se a repetir o mesmo processo de ódio a quem é diferente, como se estivéssemos todos numa roda que nunca sai do mesmo lugar. Por esta altura do campeonato já era expectável que se soubessem as diferenças entre religião e raça, entre devoção e fanatismo, entre militância e terrorismo. Não aprendemos nada. 
Sou realista quando afirmo que o Ocidente corre o risco enorme de se islamizar, e que se queremos manter os nossos ideiais, os ideais porque lutamos desde a Revolução Francesa, Igualdade, Liberdade, Fraternidade, (não necessariamente por esta ordem), devem ser tomadas medidas de contenção, ou melhor, deviam, porque agora já é tarde. Temos mais de 45 milhões de muçulmanos na Europa, boa parte deles, segundas e terceiras gerações, considerados portanto, nativos nos países onde se fixaram. 
A média de natalidade entre as comunidades islâmicas é de 8 filhos por casal, sendo que 1 homem pode ainda ter outras mulheres, contra o filho e meio dos casais europeus. Tudo dito, não é? 
Prevê-se que daqui a 20/30 anos, o crescimento de muçulmanos na Europa seja de quase 70% e estes números indicam claramente todas as outras implicações adjacentes: Mais mesquitas; mais tribunais da sharia; mais conversões; mais mesquitas; mais tribunais da sharia; mais representações politicas; mais conversões...mais, mais, mais....só nós, europeus e cristãos ou ateus, ou qualquer outra coisa que não muçulmanos, seremos menos. Isto é realismo. Dizer qualquer coisa que se aproxime sequer do que consta da primeira parte deste texto, é claramente xenofobia. Xenofobia rasca, irracional, nos antípodas da razão e do equilíbrio. 
Quem diz que os muçulmanos não são humanos e são lixo, encarnam as tropas das SS que sob o comando de Hitler exterminaram milhões de judeus. O discurso é o mesmo. Exactamente o mesmo. Isto sim, é xenofobia. Há que identificar terroristas, e tratá-los eficaz e adequadamente. Mas esse é um problema que tem de sair da gaveta onde se mete o problema dos números elevados de muçulmanos que se tornarão a maioria na Europa.
Enquanto teimarmos em juntar estes dois problemas, não seremos capazes de resolver nem um nem outro e só estaremos a dar força a extremismos que nesta altura do campeonato, em pleno Sec.XXI, já não deviam existir. Pensem nisso.


A culpa é das estrelas...

Vá lá, meus amigos...que não se fale na tragédia da Madeira. Há 1: agora o tempo é de respeitar os mortos, há 2: Falar da coisa é fazer aproveitamento político da coisa; há 3: toda a gente sabe que com muitos ou poucos pareceres, muitos ou poucos relatórios indicando que a árvore em questão representava perigo, ninguém será responsabilizado. Neste país não se responsabilizam políticos. Eles são a classe privilegiada e intocável. Semi-deuses! Ai de quem lhes aponte o dedo! Não é de bom tom fazê-lo no facebook nem nos jantares de família. 
Há sempre quem se indisponha e se engasgue com o baguinho de arroz ou o caroço da azeitona. Que feio! Que feio! Não se fala de politica! Sobretudo se contra os políticos! São uns santos! Tudo dão por nós. Que ingratos somos por os acharmos responsáveis pela má ordenação florestal, a falta de meios no combate a incêndios, a desorganização dos organismos sob a tutela do MAI. 
Mas então, ninguém valoriza o sacrifício dos senhores quando desfilam de evento em evento, sufocados pelas suas gravatas chiques, os périplos pelo país inteiro a provarem queijinhos e presunto; as presenças constantes nos restaurantes gourmet, nas inaugurações disto e daquilo? Que ingratos somos quando não lhe valorizamos os sorrisos pepsodent, os beijinhos nas vellhinhas, os discursos bonitos! Tenham tento na língua! Eles ganham miseravelmente, (pagamos-lhes tão mal, coitados!) para nos servirem tão bem! Que ninguém ouse criticar. Afinal todos fazem o mesmo! Os males vêm de trás...de muito atrás... Se querem condenar quem nos governa hoje, porque é que não condenam quem nos governou há 4 anos? Há 10 anos? Há 20, 30, 50 anos? A culpa não foi do Estado Novo? Do D.Manuel? Do D.Dinis? Esse sacana que mandou plantar o pinhal de Leiria? A culpa não foi do D.Afonso Henriques que nos roubou à Espanha? Dos mouros? Dos visigodos? Dos celtas? Não culpem estes. Culpem os outros! Culpem os dinossauros! A culpa foi dos dinossauros! Cambada...A culpa foi do Big Bang... 



Saturday, 12 August 2017

"que tonta...o tempo aqui passa num instantinho..."

Ontem foi um dia mau. Eu sabia que estava a ser um dia mau. Só não sabia o quão mau seria.
Vou ter muitas saudades tuas. Mas tu sabes. Eu não preciso de to dizer. Espero que me visites nos meus sonhos. Há conversas que ainda não tivemos, perguntas que ainda não te fiz, respostas que ainda não me deste. A nossa amizade que renasceu depois de muito tempo, largos anos sem nos vermos, foi tão bonita, não achas?
Ainda não li aquele livro que me recomendaste, nem procurei aqueles vídeos no youtube... não tive tempo. Como não tive tempo para te visitar mais uma vez antes de partires...Que parva fui! Achava-te invencível...uma parte de mim sabia que partirias, mas outra...acreditava que ficarias desta vez para sempre...que o meu último dia ainda seria sentido com a satisfação da tua presença e que o teu último dia não aconteceria antes do meu... A primeira vez...lembras-te? A tua voz continuou tão viva que a reconheci no meio de centenas de outras vozes... Depois bastou um olhar e tu também me reconheceste...nunca mais nos largámos. Até hoje. Sei que em qualquer lugar ( espero que naquele lugar que esperavas encontrar), me sorris enquanto me lês, e murmuras: "que tonta...o tempo aqui passa num instantinho. Não falta assim tanto para nos abraçarmos outra vez..."
Vais reconhecer-me, não vais? Mete conversa comigo. Fala-me de astronomia, ou de física quântica, fala-me da última palestra a que assististe, o gajo esquisito que disse umas tantas coisas sem sentido...fala-me de coisas sem sentido. Eu encontrarei sentido em tudo o que me disseres porque saberei que és tu a dizê-lo.
Até um dia, querida Milena.😢 O café já está à nossa espera. 💗


Friday, 4 August 2017

Quase tudo se resolvia com um beijinho no dói-dói, lembras-te?




Não, não pensei que seria fácil. Claro que no tempo das fraldas e das sonecas a meio da tarde, os ralhetes e os castigos, uma palmada na hora (quero crer que certa), e as toneladas de ternura que partilhei contigo, suavizavam o caminho. Há sempre um encanto profundamente doce na infância. Quase tudo se resolvia com um beijinho no dói-dói, lembras-te? A vida era festa todos os dias, porque todos os dias aconteciam pequenas coisas que te faziam feliz. Um jogo divertido, um passeio no parque, uma ida à praia, um filme da Barbie ou um Happy Meal … Depois entraste naquele vórtice temperamental da adolescência e foi aí que iniciámos uma espécie de batalha. Em lados opostos das trincheiras, eu deixei de ser a fada e a heroína que vias antes e passei a ser a mãe chata, cheia de regras e imposições. De repente, deixaste de achar piada às minhas brincadeiras, embirravas com a arrumação do quarto, detestavas a roupa que te comprava. Fui fazendo cedências para não ser demasiado intransigente e tu foste ganhando o teu espaço. Hoje voltou a ser tudo mais ou menos como eu imaginei que seria quando crescesses. Trocamos a maquilhagem e as bijuterias, ouvimos as mesmas músicas e gostamos (quase sempre 😉) dos mesmos filmes. Falamos sobre tudo e sobre nada. Partilhas comigo o que entendes partilhar e eu esforço-me por não passar aquela barreira que protege a tua intimidade. Ainda nos desentendemos como se eu e tu falássemos línguas diferentes. Mas o pior, quero crer que já passou. És uma mulher. Quase pronta para o derradeiro voo, aquele que nos mudará para sempre porque há uma vida para além da minha que é preciso ser vivida e essa vida é a tua. 
Terminaste o secundário, vem aí uma nova etapa e o mundo inteiro aguarda-te. Tens mil e uma coisas para lhe dar. Dá-lhe as coisas certas. Amor, dedicação, empenho e alegria. Em troca terás pelo menos a certeza de que deste o teu melhor, da mesma maneira que quero muito acreditar que te dei a ti o meu melhor. Se alguma vez não dei, espero que me perdoes. Ser mãe é a coisa mais difícil do mundo. Um dia sabe-lo-às. 
Amo-te como se não houvesse amanhã, mas enquanto houver…amar-te-ei todos os dias.
(Parabéns, Mariana pelos teus 19 aninhos!💝💝💝💝 )


Monday, 3 July 2017

As voltas que tu deste ao coração da mãe, pá!

O Lucas não é meu filho, mas é como se fosse. Na verdade, o Lucas nem sequer é um ser humano. É um cão. Encontrei-o num apelo de uma associação protectora de animais e a foto exposta nas redes sociais mostrava um animal triste, solitário e carente. O meu coração foi tocado. E eu soube que tinha que fazer alguma coisa. Mais, soube que o Lucas andava à minha procura, ou eu à procura dele, embora naquela altura, nem me passasse pela cabeça ter um cão em casa. Mas apaixonei-me. Fazer o quê? Quando dei por mim, já estava a ligar para a tal associação, não para dizer que queria ver o Lucas, mas que queria ficar com o Lucas. Não podia deixá-lo no canil por mais um dia que fosse e no imediato, lá fui eu buscá-lo. Foi uma das melhores decisões que alguma vez tomei. 
Hoje, o Lucas já está há dois anos comigo e a minha vida nunca mais foi a mesma. Deu um salto qualitativo e quantitativo também, se quisermos mencionar a dose de amor que recebo todos os dias. 
O Lucas faz-me rir quando tenho vontade de chorar e desafia-me constantemente para brincadeiras que eu me lembro de ter apenas na minha infância ou na infância dos meus filhos. Ter esta criaturinha ternurenta e feliz em casa desperta a minha criança interior e dou por mim a brincar com uma bola, a adormecer depois de uma boa troca de mimos e a acordar de bem com a vida mesmo que o despertador seja uma ruidosa sequência de latidos ou pulos em cima da cama. Nada me incomoda. Nem mesmo os pêlos que todos os dias tenho que aspirar, as cadeiras de pernas roídas, ou os tapetes que é preciso lavar quando há um deslize e o Lucas faz xixi em cima deles. São coisas. Tapetes e cadeiras são coisas. Coisas que se substituem facilmente, ao contrário do Lucas, que quando partir deste mundo, jamais poderei substituir. E é por causa deste amor que lhe tenho que não compreendo como tanta gente é capaz de ser cruel com os animais. 
Não compreendo os abandonos que todos os anos se multiplicam a cada verão, nem compreendo as imagens de horror que correm nas redes sociais. Recuso-me a partilhá-las. Não por acreditar que não vale a pena fazer a sensibilização com terapia de choque, mas porque não aguento ver essas imagens uma e outra vez. Não sou capaz. Tudo em mim se revolta e a dor que toma conta de mim é insuportável. Não me atrevo a perguntar o que terão essas pessoas no lugar do coração porque nem é de coração que se trata. É de formação. "Se não gostas mantem-te à distância."
Respeito quem assume que não gosta de animais e é capaz de resistir às toneladas de ternura que eles têm para nos dar, mas não posso respeitar quem lhes faz mal. Gente que o faz merece-me ainda menos que desprezo. Quem é capaz de atravessar o peito de um animal com uma foice, regá-lo com gasolina e largar-lhe o fogo, espancá-lo ou induzir-lhe qualquer forma de tortura, merece morrer lentamente e em agonia, merece conhecer o inferno em cada dia da sua vida, em suma...não merece viver. Quem abandona um animal não merece viver.
É certo que a legislação endureceu para os casos de maus tratos e abandonos, mas como em tudo o resto, há sempre quem passe por cima da lei. Ainda bem que há associações. Ainda bem que há gente que se importa. Mas há ainda tanto a fazer que tenho a certeza que seria útil incluir nas escolas, nas aulas de cidadania talvez, esta pedagogia do respeito pelo outro, mesmo quando o outro é um animal. O respeito aprende-se e acredito que de certa forma o amor também. É possível aprender a amar, e as crianças, por serem crianças, estão muito mais receptivas a aprender do que os adultos. 
Quanto a mim, que tenho o maior respeito por todas as formas de vida, vou continuar a parar o carro para socorrer uma animal atropelado, seja ele um gato, um cão ou um pardal telhado, continuarei a apoiar as associações que cuidam daqueles que acabam na rua e continuarei, não até que o coração me doa, mas até que o coração me pare, a amar o Lucas, sem olhar às diferenças que existem entre nós, mas olhando sempre a tudo o que nos une. Ambos sencientes, ambos almas a habitar um corpo físico e ambos com sangue a correr-nos nas veias. Diferenças? Só vejo uma que vale a pena mencionar: Jamais um animal usará contra um ser humano, o mesmo requinte cruel que tantos (des)humanos usam contra os animais. E isso faz deles (animais), claramente superiores.


Saturday, 24 June 2017

O Azar de Pedrógão

Azar? Talvez. Incúria? De certeza!

Ninguém que eu conheço está disposto a pagar salários a um funcionário/colaborador/ trabalhador, caso este não desempenhe as suas funções com rigor e competência. Todavia, no que toca a governantes pagos por todos nós, desfazemo-nos em cortesias, salamaleques, vénias práqui e prácoli, façam eles a merda que fizerem. Desde presidentes de juntas, de câmaras, da república, ministros e deputados, tudo gentinha paga do nosso bolso, gentinha que ocupa cargos para nos servirem, servem-se descaradamente das posições que lhes confiamos, e a nossa voz em uníssono, "Sim, Sr. Doutor, sim Sr. Presidente, sim Sr. Ministro."
Respeitinho! Estudaram, são importantes, usam fatinho e gravata, falam bem, sorriem, distribuem beijinhos e abraços, arvoram-se de cultos e sapientes, a última bolachinha do pacote e o povo elege-os. Mas elege para quê? Para salvarem bancos enquanto a saúde, a educação e os meios operacionais de socorro sofrem cortes? Os bombeiros que vão de comboio, os bombeiros que arrisquem a vida com mangueirinhas, os bombeiros que se lixem?
Onde está a planificação florestal? Não sabemos já os malefícios de tanto pinheiro e eucalipto?
Onde está a mão pesada sobre os infractores, os incendiários, os proprietários (incluindo o próprio Estado) que não limpam as matas? Onde está a inclusão da Força Aérea no combate aos incêndios? 
Todos os anos falamos disto. Todos os anos se repete isto. E todos os anos é mais do mesmo. Os doutores que nós elegemos, os doutores que se tornam presidentes de freguesias, de municípios, de países, os que ministram, os que legislam, não são mais importantes que nós. São pagos por nós! 
Somos nós que lhes pagamos as gravatas com que se pavoneiam nas ruas, os almoços, as jantaradas, as viagens e os pópós. É do nosso bolso que sai o charuto do Sr. Costa e as peúgas que ele calça. Não me lixem! Neste preciso momento há 64 mortos confirmados em Pedrógão Grande! 64! E os números ainda podem subir porque dos 200 feridos vários estão em estado crítico! O momento é de dor mas também de pedir responsabilidades! Pedir, não! Exigir! Não ganhou a Seleção Nacional, não ganhámos a Eurovisão, mas perdemos a nossa gente! E perder, principalmente quando são vidas que perdemos, é um motivo ainda maior para sair à rua do que quando se ganha qualquer coisa.
Sem cortesias, sem vénias, sem salamaleques! Não há governante que mereça o nosso respeito quando pela sua mão morrem filhos de Portugal!




Saturday, 3 June 2017

Nova Gazeta: OPINIÃO | Os Muros e os Murros | ANA KANDSMAR

Nova Gazeta: OPINIÃO | Os Muros e os Murros | ANA KANDSMAR: Somos maus por sermos bons ou somos bons por sermos maus? Podíamos ter aprendido alguma coisa com séculos de divisão religiosa, racial ...

Tuesday, 23 May 2017

Lá vamos nós outra vez...

Da maneira que muitos falam do Alcorão, dão a entender que o conhecem bem, presumo então que já o leram. 
E a Bíblia, terão lido alguma vez? Eis um exemplo: "Deuteronômio 21:18-21-18 Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, 19 Então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; 20 E dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão. 21 Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá."
 Isto para dizer, que embora os cristãos hoje sejam bem mais pacíficos, tempos houve em que seguiam as sagradas escrituras à letra.
 Ainda há 40 anos se dava caça às bruxas em Portugal. Avançámos, é um facto. Mas não o fizemos porque nos tornámos bonzinhos, aliás, veja-se a decadência do Ocidente. Há muitos entre os ocidentais que matam por "dá cá aquela palha". 
Temos imensos terroristas em Portugal. Basta abrir o Correio da Manhã para o sabermos. Temos muitos outros sinais da nossa involução: O LGBT, o feminismo radical, o aborto, a eutanásia,a pedofilia, as touradas, as empresas de cosmética que ainda usam animais para testes, os bordeis com animais...enfim...
Para eles, os muçulmanos, o Ocidente é uma versão moderna de Sodoma e Gomorra. E analisando friamente, quem não concorda? Eu concordo. Somos a versão moderna de Sodoma e Gomorra. Eles detestam isto. Têm muitas razões para detestar e a principal delas talvez seja a ganância, o imperialismo ocidental que ceifou já milhões de vidas no Médio Oriente. Destruiu países. Os países deles. 
Se é perigoso para nós que milhares, milhões de muçulmanos se fixem na Europa, vivam nas nossas casas, casem com as nossas mulheres, procriem mais do que nós, não é esse perigo que justifica o ódio generalizado a todos os muçulmanos. Primeiro porque estamos a colher exactamente o que plantámos, segundo porque os muçulmanos não são todos terroristas. O nosso argumento contra eles não pode ser esse. Nós também temos terroristas. Não somos é todos terroristas. No dia do atentado em Londres houve bombardeio em Mossul. Morreram centenas de civis. Muitos eram crianças. Não chorámos. Todos os dias há atentados com vitimas mortais em países do Médio Oriente. 
Nunca choramos. 
Os consecutivos ataques no e ao Médio Oriente já provocaram mais mortes que a I e II GGuerra juntas. 
A solução justa é que o Ocidente ajude a pagar a reconstrução dos vários países que destruiu e devolva às suas origens os milhares (milhões?) de muçulmanos que têm entrado. 
Justa e urgente! Para além disso, controlar fronteiras não é o mesmo que impedir entradas. E o controlo é necessário.

Monday, 22 May 2017

A Guardiã já está nas Bertrands!

Pessoas queridas, o meu primeiro romance " A Guardiã, O Livro de Jade do Céu" já está por aí. Eis as Bertrands onde o podem encontrar: 

Aveiro
Chiado
Campo Pequeno
Torres Vedras
Colombo
Norte Shopping
Amoreiras
Almada Forum
Leiria
Montijo
Portimão
Açores (Ponta Delgada)
Coimbra Dolce Vita
Vasco da Gama
Antas (Porto)
Dolce Vita Funchal
Caldas da Rainha
Forum Sintra
Dolce Vita tejo
Shopping Cidade do Porto
*Se forem a qualquer loja Bertrand em que o livro não esteja exposto, peçam. Se não estiver na loja, o livreiro pedirá à editora.

Monday, 15 May 2017

Portugal dos pequeninos? Não! Dos GRANDES!


Ganhámos! Nós, tão habituados a perder, tão de cabeça baixa, tão deprimidos e derrotistas ganhámos. Ganhámos na Eurovisão depois daquele outro Euro que nos fez andar nas nuvens por um bom par de dias e que ainda gostamos tanto de recordar.

Podemos dizer que o último sábado foi pleno de emoções e houve vitórias para todos os gostos! O Centenário de Fátima para os crentes, a visita do Papa, o Tetra para os benfiquistas e o Salvador para quem, como eu, gosta de música.

Salvador e Luísa Sobral, a equipa maravilha que levou Portugal para um lugar que já tínhamos desistido de conquistar relembrou-nos que é possível fazer mais com menos. A simplicidade somou pontos e bateu a arte circense presente nos temas apresentados pelos restantes concorrentes e a bem da verdade, presente em tantas outras áreas da arte contemporânea e em tantas áreas da nossa vida. E isso faz-me refletir sobre o período da história que atravessamos.

Anda no ar uma aragem de mudança. Fartos do superficial, queremos voltar ao essencial, ao simples. Queremos a alma lavada e o coração cheio! Queremos acreditar outra vez que não precisamos de muito para fazermos bem, para sermos bons, para sermos Grandes!

Durante tantos anos após o Estado Novo, sedentos de novidades, sorvemos tudo o que vinha de fora, e parecia-nos a nós, tão envergonhados que estávamos de nós mesmos, que só o que nos vinha de fora era bom. Eis que finalmente, começamos a recuperar a nossa auto-estima e o nosso lugar no mundo! Desde o Euro que sinto Portugal uma fénix a renascer das cinzas! Há uma vontade crescente de mostrarmos que ainda somos o país dos Descobrimentos, dos Conquistadores! E mais importante, não precisamos hoje de conquistar pela espada. Basta-nos colocar amor no que fazemos para que os outros se rendam e se apaixonem por nós. O caminho é este. O da essência. Salvador Sobral foi o salvador do orgulho português no que à Eurovisão diz respeito e o mundo ficará melhor desde que a arte de amar por todos nós nos salve.


Monday, 13 March 2017

A injustiça do diz que disse

Um grupo de pessoas de bem, várias com as suas carreiras profissionais respeitadíssimas, estudantes universitários com um QI acima da média, gente pacífica, sem qualquer mácula ou beliscãozinho que seja na sua reputação, patriotas que amam Portugal e não se envergonham da história portuguesa, resolvem juntar-se para criar um grupo inofensivo, cujo único objectivo é exaltar a portugalidade, portugalidade essa que rompe fronteiras e transborda para o mundo. A página no Facebook da Nova Portugalidade, aberta a quem a quiser visitar, não tem um único “ponto negro” que se possa apontar. Não incita ao ódio, não fomenta a violência, não promove a exclusão. Cada post é um tributo a Portugal e tão somente isso. Os membros que já vão sendo muitos, publicam desde Goa, do Brasil a Moçambique, de Macau a Timor, sobre o que foi a nossa presença nesses países, sem a mínima referência a qualquer desejo de voltar às colónias, que foram o que foram e tiveram o desfecho que tiveram. A Nova Portugalidade é um grupo voltado para o futuro que mostra orgulho no seu passado. Não devia cada um de nós sentir o mesmo? 
Depois de várias conferências/ palestras organizadas pela NP uma delas com SAR D. Duarte de Bragança precisamente na UN, eis que dado o interesse do tema em volta dos chamados “populismos” se avança para a organização de uma palestra com o Prof. Dr. Jaime Nogueira Pinto, tendo para o efeito sido pedido um espaço na FCSH de Lisboa, que mereceu pela parte da AE interesse e autorização para a concretização do evento. Mas eis senão quando, uma RGA, com meia dúzia de pingarelhos, contesta a decisão tomada anteriormente e à revelia da vontade de 5mil alunos, exige ao director da faculdade, Francisco Caramelo, que cancele a mesma. Caramelo cedeu. Entendeu que os argumentos dos pidescos bloquistas que estiveram presentes na tal RGA, eram mais do que suficientes para o cancelamento. E o argumento, foi, dizem, falta de segurança. E a seguir inventam que a NP quis levar o seu próprio aparelho de segurança, como se…a NP tivesse um batalhão de gorilas como aqueles que encontramos à porta das discotecas, para dar no coiro aos alunos que se portassem mal! RIDICULO!
A leitura que faço é que estes energúmenos da AE nunca tiveram nada contra a NP, nem havia razão para ter e isso explica porque é que a autorização para a cedência do espaço fora inicialmente dada. Baseio o meu argumento no facto de, apesar de Francisco Caramelo vir dizer agora que não conhecia a NP, mente com todos os dentes, porque em datas anteriores a NP JÁ TINHA ORGANIZADO na FCSH outras palestras com outros intervenientes. E pasmem-se! Não houve em nenhum dos eventos qualquer reacção contra a NP. Então porque haveria agora? O motivo para o cancelamento também não foi o tema, pois essa informação foi imediatamente transmitida pelos responsáveis da NP por ocasião da solicitação da sala. Então o que terá motivado a corja de esquerda para exigirem o cancelamento? Jaime Nogueira Pinto. A continuação deste filme vislumbra-se facilmente. Como a coisa deu para o torto e teve a cobertura da imprensa, era preciso tentar remediar o erro para não ficar mal na fotografia. Só que já não era possível arrepiar caminho e então foi necessário arranjar uma boa justificação. 
Começaram então com a “caça às bruxas”, vilipendiando páginas pessoais dos membros e venderam à comunicação social a ideia de que a NP é um grupo de extrema-direita, fascista, xenófobo, racista e outros predicados, tais como “salazarista”, ideia convenientemente coroada com a fotografia do Rafael Pinto Borges frente à campa de Salazar.
Urge agora, dissecar isto. Qual é o problema? Que raio de democracia é esta em que estamos a viver se não podemos livremente e abertamente mostrar a nossa admiração ou estima por esta ou aquela figura? Porque é que o Salazar se tornou tabu, e o facto de um jovem, estudante universitário, culto e inteligente, detentor de valores e princípios que não envergonham ninguém, assumir abertamente que vê na sua obra e na sua personalidade, vários exemplos a louvar, merece imediatamente o rótulo de fascista? E porque é que o Salazar é uma tão grande personificação de malignidade, que não pode um membro de um grupo admirá-lo, que logo transpõe essa admiração para todos os restantes membros do grupo? Na NP há quem não goste de Salazar, há quem prefira Cunhal ou Soares ou a abécula do Sócrates. E depois? Qual é o problema? O objectivo da NP não é, nunca foi, criar um clube de fãs a ninguém. Se voltarem ao início do texto, lerão que a NP tem membros de todos os países da lusofonia. Alguns até são negros, pasmem-se! Cai por terra a acusação de que a NP é racista, certo?
Volto ao tema Salazar, porque me parece a mim, que nesse caso, também eu sou fascista e salazarista. Deixo aqui alguns, poucos que o texto já vai longo, pormenores que fazem toda a diferença entre admirar-se um homem e venerar-se o diabo.
Contextualize-se o tempo de Salazar. Um tempo que também foi o de Franco, de Mussolini, de Hitler. Comparem-se os ditadores da época para que se perceba que tipo de ditador era Salazar. Fale-se do famoso Tarrafal onde morreram 32 pessoas, nenhuma delas por fuzilamento, mas sim por doença. Fale-se de Humberto Delgado, morto pela Pide. É bem capaz de ser a única morte a imputar directamente a Salazar e ainda assim é preciso dizê-lo, Delgado era um traidor. O que há mais a imputar a Salazar? Era um ditador? Era. Teria sido melhor não ter havido ditadura? Não sei. Podemos tentar fazer um exercício honesto de reflexão sobre o que teria sido Portugal naquele tempo se não houvesse Salazar. Facilmente se percebe que na época, se não fosse uma ditadura de Direita teríamos uma de esquerda. E então sim, teríamos graves problemas. A esquerda com o apoio da Rússia e a Alemanha Nazi em guerra com a Rússia. É só somar 2+2. O que seria melhor? Um país com fome ou um país com guerra? A forma como Salazar conduziu Portugal para fora do palco bélico não é de louvar? E a forma como conduziu as finanças tendo levado Portugal a um nível de PIB nunca mais alcançado? E a honestidade que nunca lhe deu a conhecer a riqueza? E a construção em série de escolas por todo o país o que permitiu que Portugal não continuasse a deter o vergonhoso número de 80 analfabetos por cada 100 cidadãos? Parece-me que isto chega para dizer que António de Oliveira Salazar não é o demónio que a esquerda insiste em pintar e que a direita tem vergonha de assumir que admira. No seu tempo, e é sempre nesta perspectiva que é preciso analisar, Salazar foi o homem certo para Portugal. Que se examine honestamente a sua actuação à luz do tempo em que viveu e que se observe agora a Nova Portugalidade, sem o tom negativo que muitos lhe querem associar, e também à luz deste tempo em que vivemos.

Foto de Ana Kandsmar.

Thursday, 9 March 2017

A inveja das pulgas da minilândia


 Foto de Miguel Castelo Branco.

 "Há por aí um jornaleco do tamanho de uma folha de couve ressequida e amarelecida que dá pelo nome de «I», cambado, vazio e minúsculo, servido por periodiqueiros vão-de-escadas que mal sabem assinar o nome ou agarrar numa caneta.
Ora, esse pedaço de papel dedica hoje duas páginas a reproduzir fragmentos mal amanhados de passagens de textos do Rafael Pinto Borges, um trabalho mesquinho, torto na forma, vil no conteúdo. Os coscuvilheiros andaram a devassar-lhe a página no FB, a retirar frases, ligando-as a outras, para fazer a caricatura e a diabilização de um rapaz que - eles sabem - vale aquilo que 90% desta terra tristonha, envergonhada, dúctil e cinzenta não possui: inteligência viva, curiosidade cultural inesgotável, frontalidade, racionalidade e patriotismo transbordante.
Mal sabem as criaturinhas que o Rafael já terá lido oito vezes aquilo que eles lerão ao longo das suas vidinhas nodosas, que escreve admiravelmente, fala fluentemente três ou quatro idiomas - até russo e farsi compreende - e é, aceito-o de barato, superior a milhares de académicos de recibo verde. Sei que as cabeças ridículas e anãs produzem opiniões ridículas e anãs, mas que a inveja - que anda à solta pelas redes sociais (à esquerda, à direita, ao centro) - é o melhor testemunho do grande sucesso desta jornada triunfante que ontem conheceu o seu epílogo. Pois, gostem ou não, o Rafael e as dezenas de bons patriotas que militam por Portugal na Nova Portugalidade não vão parar; pelo contrário, vão-lhes proporcionar incontáveis momentos de inveja, de coscuvilhice e, naturalmente, de maledicência."
Miguel Castelo Branco

Sabemos bem que para qualquer jornalista, deturpar e/ou manipular, o que é dito é extremamente fácil. Basta fazer o que fez a jornalistazeca do i que não satisfeita em ter contactado apenas um dos envolvidos nesta polémica da conferência promovida pela Nova Portugalidade, ainda se deu ao luxo de cortar frases, descontextualizando o que é dito pelo Rafael Pinto Borges, para mais facilmente justificar a acusação de xenofobia,racismo, colonialismo, e salazarismo que lhe é descarada e injustamente feita. Eu que fiz jornalismo ao longo de mais de 20 anos e orgulho-me de ter sempre lutado pela imparcialidade, isenção e justiça, que sempre levei a minha actividade profissional com responsabilidade, pugnando sempre pela verdade dos factos, chegando a rejeitar as "linhas de orientação politica" da entidade que me pagava o ordenado, sofrendo por isso suspensões, não me revejo nesta forma suja de fazer jornalismo. A Ana Petronilho, claramente "pombo-correio" do BE, bem podia dedicar-se a outra actividade. Vender banha da cobra, por exemplo. Que se reflicta sobre o exemplo. Quando se parte para a difamação mais abjecta de um jovem que ainda é apenas um estudante universitário, bem se pode perceber que tipo de jornalismo é feito em relação a personalidades que verdadeiramente causam incómodo.
A saber:
Foto de Nova Portugalidade.
Uma rga arranjada depois da AE ter cedido o espaço. Vamos a factos: A Nova Portugalidade pediu a sala e para tal esclareceu de imediato que o objectivo seria realizar a conferencia subordinada ao tema " Populismo ou Democracia" tendo como exemplo Le Pen, Trump e Brexit. A AE achou interessante a realização de tal palestra e deu o "SIM". Nada portanto até aqui contra a NP, cujo presidente, Rafael Pinto Borges, é aluno da FCSH. O problema surgiu quando a AE soube quem era o orador. E foi nessa altura que meia duzia de bloquistas ressabiados decidiram reunir para impedir a concretização da conferencia. Como tal, os meninos pidescos da AE fariam bem em assumir que o problema deles não é com a NP, mas sim com Jaime Nogueira Pinto, que resolveram silenciar! Como se tivessem o direito! Como se!!!! Meia dúzia de garotos que ainda têm muito pão a comer para chegarem ao nível de Jaime Nogueira Pinto têm o descaramento atroz de o silenciar! É no mínimo repugnante! A atitude do director, conivente com a arbitrariedade dos pidescos é condenável sim, na medida em que não esteve à altura de lidar com estes putos mimados. Que este episódio sirva de lição e que nunca mais se repita!

O policiamento semântico

Fillon afirmou  não ser autista, e logo foi denunciado por uma galáxia de associações iradas. Há, pois, sob pena de retaliação, que riscar do léxico a utilização comum de vocábulos como cego/cegueira, surdo/surdez, deficiente/deficiência, gago/gaguez, coxear, paralítico/paralisia. O Ocidente transformou-se num imenso campo de concentração.”
(Miguel Castelo Branco)
É melhor que se pergunte primeiro sobre o que é que se pode falar para não incomodar ninguém. Há por aí muitas “virgens” ofendidas que se transformam em verdadeiras “hooligans” famintas de uma boa cena de porrada. Valha-nos o Facebook que lhes tira as máscaras e mostra quem elas são. E quem são elas? São as defensoras do politicamente correcto. As que infestam as redes sociais com publicações que falam da igualdade, da fraternidade, da democracia mas censuram imediatamente quem mostra outra linha de pensamento. Essas são as “virgens” que matariam quem não pensa como elas, se soubessem que ao fazê-lo, não seriam presas. Matariam em nome da democracia. Como não podem matar, hostilizam, denigrem, combatem com recurso à mentira, colocando nas nossas bocas coisas que nunca dissemos. São estas as “virgens” que escrevem coisas “românticas” como “ Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo” ao mesmo tempo em que “condenam à morte” quem se arrisca a dizê-lo! São as “Virgens” que estrebucham e latem como cães com esgana quando encontram quem se lhes opõe. Faltando os argumentos para rebater ideias, partem para ataques pessoais.
Digam-me do que é que eu posso falar para não incomodar ninguém! Restam-me se calhar as telenovelas, porque nem o futebol. Ai o futebol! Sou sportinguista e os benfiquistas arrasam-me.
Não posso mostrar que apoio Trump, Le Pen ou qualquer ideal nacionalista porque me torno racista, homofóbica, xenófoba, e o diabo a quatro. Não posso mencionar o perigo de uma islamização porque me chamam racista…outra vez. Não posso dizer que nem morta apoiarei grupos feministas porque me chamam "machista" ou pior misógina (mesmo sendo eu mulher, o que é que isso interessa?) Não posso dizer que não concordo com o aborto ou a eutanásia porque me chamam fascista. Ah…e retrógrada! Chamam-me retrógrada quase tantas vezes como as que mexem as pestanas. Não estou, portanto, na moda. Sou antiguinha. Cheiro a mofo e a naftalina! Depreendo que para se ser moderno deve-se é defender o AMOR recorrendo à defesa da morte. Para ser moderninha o meu cartaz devia dizer: “Eutanasiem-se e abortem-se para aí à vontade!”.
Não posso mencionar grupos como o LGBT, ou apenas gays, lésbicas ou transsexuais se não for para lhes elogiar as plumas e as lantejoulas com que se vestem nas paradas. Referir o "non sense", o "mau gosto", faz de mim homofóbica… outra vez.
Já agora…Para que raio servem as plumas e as lantejoulas? Não são já ridículos o bastante aqueles e aquelas ou devo dizer “aquelx” (ai a ideologia de género!),que para mostrar ao mundo com quem se enrolam na cama ganham trejeitos do sexo oposto? Dizia hoje um amigo que “talvez o façam para se convencerem a eles mesmos de que realmente são aquilo”. Sapatonas de cabelinho curto, botinha à tropa e maneirismos “à gajo” e larilas que afinam a voz, balançam as ancas para darem dois passos e andam com as mãos no ar como se enxotassem moscas…a sério? É preciso isso? E que tal se deixassem de guinchar como porcos a caminho do matadouro para que todos fiquem a saber quais são as vossas preferências sexuais e em vez disso, vivam, VIVAM, a vossa sexualidade da forma que vos faz mais felizes, com a discrição que é exigida a qualquer pessoa que não quer passar por ordinária, rameira, oferecida, vulgar.
Sabem, caros gays, lésbicas, trans, bi,tri, quadri e restantes renas do pai natal, ninguém quer saber de que forma é que chegam ao orgasmo. NINGUÉM QUER SABER! A vossa, a minha e a vida sexual dos caracóis só é interessante para vocês próprios, para mim e para os caracóis (respectivamente). Posto isto, caros pidescos, desculpem lá se vos incomodo, mas eu vou continuar a dizer o que penso. Quem não gostar faça o favor de ir ler as 50 sombras mais negras, as cenas do “ Avante” ou para os que preferem a lógica da batata, o Borda D’água.


Foto de Ana Kandsmar.

Thursday, 2 February 2017

Mas quem apoia o Trump? Quem, eu?



Foto de Ana Kandsmar.

Mas por que raio é que vocês pensam que eu apoio o Trump? Eu não apoio o Trump!
Reparem, eu sou como vocês que apoiam a imigração ilegal. Apoio a inexistência de qualquer barreira que impeça a entrada seja de quem for, seja em que país for. Estamos a falar do muro? O famoso muro entre o México e a América? Mas isso é uma afronta à liberdade do povo mexicano! Sou completamente contra que se tente impedi-los de passarem para o país vizinho, sem qualquer legalidade para tal, podendo assim trabalhar sem pagar impostos, ou obedecer a qualquer outra obrigação imposta pelas leis americanas. É uma afronta aos cartéis de droga que assim vêem a vida a andar para trás quando querem passar o produto! É uma afronta aos imigrantes ilegais de qualquer outro país, que usem a fronteira do México para entrar na terra do tio Sam. O que eu apoio é a abertura das fronteiras de todos os países, sem restrições, tal como acontece aqui na Europa. Toda a gente circula, não à vontade, mas à vontadinha! E assim é que é bom! Caramba, se não houvesse Schengen, teria sido uma complicação dos diabos para que se tivessem movido dentro da Europa, os terroristas de Paris, de Nice, de Berlim, de Colónia, de Madrid, de Londres. Escusam de me lembrar que muitos destes terroristas nasceram na Europa. Isso já sabemos. Mas depois de terem deixado o seu rasto de sangue, circularam de uns países para os outros, sem qualquer dificuldade, certo? Graças ao senhor que existe Schengen. Digam em uníssono: Avé, Avé! Conseguem ao menos imaginar agora a minha indignação com as medidas absolutamente estúpidas de Trump? C’um caneco! Há que ter pena daquele traficante de droga, que vai ter muito mais dificuldade em passar um muro que já existia, mas que agora ficará mais alto, mais robusto, mais extenso, convenientemente patrulhado. Eu cá se andasse a passar cocaína entre o México e a América, ficava lixada! Ficava pelos cabelos! Assim, estou solidária. E pensemos nas famílias, meus Deus! Mas vocês estão loucos? Eu vivo num país onde ninguém leva a mal a evasão fiscal! Ninguém se chateia quando alguém se furta a pagar os seus impostos e o meu governo não tem qualquer medida para conter ao máximo esse tipo de abuso! Também era o que faltava! Ora, então, por que raio, apoiaria eu um tipo, que ainda por cima é feio como o diabo e aposto que cheira mal da boca, numa medida que põe cobro à imigração ilegal e também acaba com essa possibilidade de haver gente, que foge às suas obrigações contributivas? São mas é tontos! Imigração Ilegal é que é! Repitam comigo muitas vezes, vá lá: Imigração Ilegal é que é! Façamos disto um mantra! Imigração Ilegal é que é! Ohmmmmmmmmmmm…!
Sejamos francos, até o Canadá concorda com a imigração ilegal. Deve ser por isso que ninguém se insurge contra o Canadá que vai deportar nos próximos tempos, milhares de portugueses. Essa coisa de haver deportação de imigrantes ilegais tugas naquele país e ser essa a razão pela qual, vêm todos de carrinho, (desculpem, de aviãozinho), é uma daquelas notícias fake da Imprensa Falsa, certo? Ou seja, meus caros, os portugueses que estão a ser despejados na sua terra natal, são-no porque passavam a vida a reclamar das temperaturas negativas do Canadá e não porque são imigrantes ilegais. Parem lá de dizer parvoíces, porque o único que não gosta de imigantes ilegais é o Trump. Portanto, crucifique-se o raio do artolas!
Outra coisa de que o Trump não gosta é da ideia de receber muçulmanos às pazadas. E isso, tal como a vocês também me revolta. Felizmente na Europa ninguém toma esse tipo de atitude. Cá, nós estamos muito dispostos a recebê-los, benza-nos Deus! O quê? A Suécia está a fazer o mesmo que o Trump? Estão a deportar muçulmanos? Muçulmanos, que é como quem diz…árabes. No meio deles, também cristãos, não? Epá, mas está mal! Mas que raio é isso? Ainda há pouco tempo estavam a portar-se tão bem! Olhem a Suíça que nalgumas escolas até baniu a carne de porco das ementas! Então, não é muito mais bonita esta coisa da inclusão de culturas que têm tanto a ver connosco como o cú com as calças? Isso é xenofobia, pá! Ponham-se os olhos em Londres, Bruxelas, Paris, Colónia, Berlim,…lá não há nada dessa coisa horrível que é a xenofobia! Vivem todos harmoniosamente, coabitam todos pacificamente sendo que existem áreas em qualquer uma destas cidades que praticamente estão restritas a nativos, onde as mulheres nacionais não passam, e para o fazerem têm que cobrir os cabelinhos com o lenço. Mas está tudo bem. Há polícia aos magotes a patrulhar as ruas, precisamente para garantir que coabitam todos pacificamente e está-se bem. Eu por mim, acharia um piadão ter à porta do meu prédio, um gajo entroncado, com cara de buldogue francês (perdoem-me já todos os buldogues) e de Kalashnikov na mão. 
Em alguns países europeus, retiram-se das ruas os símbolos cristãos para não ofender os nossos protegidos islâmicos e está tudo bem. Reparem, eu e vocês também temos um comportamento semelhante nas nossas casas. Quando temos visitas que coabitam connosco alguns dias no nosso sacrossanto lar, ajustamos os nossos hábitos e costumes às nossas visitas em vez das visitas ajustarem o seu “modus vivendi” aos seus anfitriões. É que não faltava mais nada, não o fazermos! É o mínimo para as regras da sã convivência! A visita tem por hábito dormir até ao meio dia quando nós costumamos acordar às 7? É óbvio que passamos a sair da cama ao meio dia, para não acordarmos a criatura a quem oferecemos o tecto. A visita tem por hábito arrotar à mesa e cuspir para o chão? É nossa obrigação passar a cobrir a tijoleira de cuspo e fazermos concertos de arrotos ao jantar. Ainda se economiza na água para lavar a dita, basta passar a esfregona, e os jantares pelos menos, ficam muito mais animados!
Ah, pá, e depois há a questão das mulheres. Eu lá seria capaz de apoiar um tipo que é misógino? Nada disso. O gajo trata as mulheres abaixo de cão, diz umas alarvidades em relação às mulheres que optam por expor-se, assim a modos que…em demasia, estão a ver? Mas bolas, abençoadas sejam, como dizia uma amiga minha! Têm todo o direito e também merecem todo o meu apoio. Elas e os muçulmanos, que eu cá sou multicultural e tenho a certeza de que eles sim, têm muito o que nos ensinar sobre como tratar bem as mulheres. É também por isso que faz todo o sentido que hordas de feministas se insurjam contra o idiota do Trump e participem em manifestações organizadas por mulheres muçulmanas. Quando a América, ou qualquer outro país da Europa estiver apinhada de islâmicos quero vê-las de maminhas ao léu a reivindicarem os direitos às suas liberdades! 
Ahhh…pois é…não vou ver, sabem porquê? Porque esses muçulmanos a quem devemos toda a tolerância do mundo não a terão connosco e acabarão com os movimentos feministas enquanto o Maomé esfrega um olho. Oh…que chatice! 
Opá…ganhem mazé juízo!

P.S ( Não, não gostei dessa ideia de deixar de fora da lista de países interditos a Arábia Saudita e o Egipto. Não, não gostei que tivesse sido incluído o Irão, por razões óbvias. Sim, o Trump tem falta de sensibilidade politica, e a diplomacia não é o seu forte. Sim, eu apoio o Trump. Até ver.)

Tuesday, 31 January 2017

Os Murros e os Muros

Somos maus por sermos bons ou somos bons por sermos maus?

Podíamos ter aprendido alguma coisa com séculos de divisão religiosa, racial e étnica. Não aprendemos. Não há sinais de que 2017 venha a ser um ano melhor do que os que o precederam. A Europa continuará a escalar a montanha do autoritarismo liberal e a guerra contra o terror acabará por converter-se numa guerra de extermínio. E a ver bem, tudo isto acontece porque nos tornámos outra vez, adeptos do niilismo. Niilismo em todas as frentes, diga-se. Moral, ético, existencial, político. Diga-se também que do niilismo à anarquia não vai nenhum passo. Se as sociedades actuais não acreditam em nada, não respeitam nada e exigem total liberdade para tudo e para todos, é porque estão decadentes. Mas isso, todos sabemos, e não é preciso ser especialista em coisa alguma para o perceber. "Um niilista é um homem que não se curva ante qualquer autoridade; nem aceita nenhum princípio, qualquer que seja o respeito que esse princípio envolva". Era assim no tempo de Turguêniev quando escreveu a obra "Pais e Filhos", e continua a ser assim, hoje.
Não aprendemos nada com o alastramento das desigualdades e embora séculos de história nos mostrem que elas trazem ao colo conflitos sociais, continuamos a dissemina-la. Os que ainda nos manipulam, entretanto conscientes da extensão do mal que produzem, vão receando a revolta das marionetas. E diz-se por aí, constroem bunkers, ora para se protegerem de um cataclismo, de uma guerra nuclear, ou, cada vez maior a hipótese, da rebelião dos mais pobres. Há muitas formas de morrer. Talvez um bunker evite algumas. Não evitará certamente a lei da vida. Morre-se de qualquer maneira.
Mas é pena que tenhamos chegado aqui. Enquanto escrevo isto, sinto um pouco do que terá sido a tristeza de Anne Frank ao chegar ali. Ao momento terrível em que já não se pode fazer vista grossa ao conflito, ao ódio e ao temor de perder a vida. E fico ainda mais triste porque sei que os próximos anos, talvez mais 10, 15, serão anos de profundas atribulações e todos eles depois de 2017 serão ainda piores que durante. Deixaremos para os nossos filhos, que aprenderam connosco a intrepidez do niilismo, a necessidade de o repudiarem, às pressas, para então recuperarem o que foi perdido às nossas mãos. Usarão como armas várias paixões mortais: racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, e homofobia. Estamos então à beira de uma guerra onde o mal combate o mal. E logo nós que temos sempre em mente as guerras entre o mal e o bem, hoje, como podemos observar, tudo mentira. É sempre o mal que combate o mal. Deve ser porque somos afinal humanos e todos os humanos são maus. Ou quase todos. Talvez que o bem se silencie nesta coisa dos conflitos. O bem nunca se quer envolver. E como dizia Mandela, “ Para que o mal vença, basta que os bons não façam nada.”
O apartheid, sob diversas modulações, será restaurado graças aos novos impulsos separatistas. Construiremos mais muros. Controlaremos mais fronteiras com policiamentos que não se farão rogados a premir gatilhos e as alianças cada vez mais frágeis acabarão por ruir como castelos de cartas. O mundo tal como era desde o final da Segunda Guerra Mundial, acabou. Sofremos mudanças com a Guerra Fria e a derrota do comunismo, sofremos mudanças com as descolonizações, mas se mantínhamos o mundo respirável era porque ainda queríamos muito acreditar. As democracias entretanto instauradas, a queda do muro de Berlim, tudo isso ainda nos fazia acreditar…. De lá para cá demos um salto gigantesco no vazio. Deixámo-nos de efabulações. Tornámo-nos outra vez niilistas e o mundo tornou-se irrespirável.
O Hunger Games que conhecemos do cinema é uma analogia bem construída daquilo que é afinal a nossa realidade. Começou logo no princípio do século com o choque entre a democracia e o capitalismo. A democracia liberal e o capitalismo neoliberal digladiam-se pelo primeiro lugar no pódio. Os governos economicistas e o povo digladiam-se pelo primeiro lugar no pódio. O Humanismo perdeu, creio que definitivamente, o primeiro lugar no pódio. 
Os desejos humanos colocaram a tecnologia num pedestal sagrado e o capitalismo venceu o humanismo nesse processo.
Se há um demónio a culpar por tudo o que já foi feito até aqui, esse demónio chama-se capitalismo. Foi ele que tornou mais profundo o fosso entre ricos e pobres, foi ele que devastou o Médio Oriente, é também ele que muito mais do que qualquer guerra, multiplica refugiados, pois, como alguns já se terão dado conta, mais do que em busca da paz, eles saem em busca daquilo que só o dinheiro pode comprar. E eis que chegámos aqui.
Nos anos 70, e ainda nalguns que se lhe seguiram, os miúdos brincavam na rua. Tudo corria bem até ao momento em que as brincadeiras deixavam de ser pacíficas. Nessa altura, os nossos pais mal nos viam envolvidos em brigas, pegavam-nos pelos braços e obrigavam cada um a seguir para sua casa. Acabava ali a discórdia. Cada um em sua casa. Embora as minhas memórias de infância sejam mal comparadas com o que se vai passando pelo mundo, sinto que é preciso haver “pais” que nos puxem pelo braço e nos obriguem a cada um, a ficar na sua própria casa. Recordo-me que o meu pai, perante a minha insistência em voltar à rua, dava um murro na mesa e dizia “Basta! Cada um no seu canto!” É preciso agora, perante esta guerra entre culturas, entre muçulmanos e cristãos, árabes e ocidentais, que alguém dê o murro na mesa e diga “Basta! Cada um no seu canto!” Trump está a dar esse murro na mesa e as medidas de controlo de fronteiras mais não são que a tal advertência: “Basta! Cada um na sua casa!” Os murros e os muros, serão cada vez mais. Mas agora, há que dizê-lo: Fazem parte da paisagem. 

Wednesday, 25 January 2017

Silêncio

Nesta peregrinação de dúvidas e torturas, Silêncio recupera um passado português quase esquecido. Nem sempre a árvore da fé consegue ramificar.

Foto de Ana Kandsmar.
Espero que não se imponham limites ao número de estrelas a dar a Andrew Garfield. Ou a Martin Scorsese. “Silêncio” é muito provavelmente a primeira maravilha da 7ª Arte em 2017. 
Saio do cinema com a alma partida. Sempre me interessei por estas incursões religiosas.
O que é que um homem é capaz de fazer por um Deus invisível? Matar e deixar-se morrer? Certamente. Ou pelo menos, no que à cristandade diz respeito já foi assim em tempos. 
Não deixam saudades, esses tempos. Mas o que se pode tirar do filme de Scorsese é muito mais do que uma cegueira religiosa. Subsistem em toda a película, dois momentos distintos: a fé e a dúvida. 
Para muitos católicos terá ganho a dúvida, pois, a história centra-se nos apóstatas Ferreira e Rodrigues. Quanto a mim, que não sou católica, ganhou a Fé. Um e outro, especialmente, Rodrigues, continuaram a acreditar e morreram a acreditar. 
Aparece-nos ainda Kichijiro, o homem moderno do séc. XVII. O homem que quer ser salvo de todas as formas em que é possível ser-se salvo. No corpo e no espírito. Não quer perder a Terra e ainda assim ganhar o céu. Tal como todos nós, sobreviventes do Sec.XXI, que queremos a salvação de tudo o que nos for possível salvar, Kichijiro também quer todas as salvações. 
Reparem em quantas vezes trai a si mesmo e quer confessá-lo. Julga-se obviamente um traidor de Deus, da fé que diz sentir, mas trai-se apenas a si próprio, de cada vez que permite que outros o verguem ao medo de seguir o seu próprio caminho. 
Não consigo deixar de pensar que temos todos, uns mais do que outros- e queira Deus que eu seja uma das que menos- um pouco de Kichijiro. Vejo por aí gente de convicções tão fracas que por muito menos, pisariam sem hesitações os seus próprios pulmões, quanto mais uma imagem de Cristo. Esmagá-los-iam sem pestanejar, até ao sufoco. 
E é por isto que chego a admirar a frieza nipónica. A frieza que é cínica e amável como só a frieza consegue ser. Se Inoue (o inquisidor) fosse um homem apaixonado, teria sido forçosamente cruel. Assim, não o foi. Permitiu a Kichijiro enganar-se a si próprio de todas as vezes que foi confrontado com a sua essência, a profundidade dos seus pensamentos, e eis que sendo a profundidade rasa, escolheu agradar ao seu carrasco, para mais uma vez pedir perdão a si próprio. 
Vejo isto todos os dias. Nas conversas de café, nos murais do Facebook, nos gabinetes dos legisladores, no palanque dos governantes. Que os Kichijiros deste mundo, possam também enganar-se e traír-se. Possam também procurar a absolvição. 
Não a encontrarão, como Kichijiro não encontrou.

Thursday, 19 January 2017

“We did a lot of shit.”




Foto de Ana Kandsmar.

Li algures que este homem poderia ter dizimado a humanidade com uma bomba atómica, e ainda assim, seria glorificado pelos média, e por arrasto, por toda a população que se satisfaz com o que lê e ouve nas notícias. Há muita gente que se satisfaz com o que lê e ouve nas notícias. E é por isso incrível, a quantidade de gente não pensante que se deixa manipular pela propaganda da Reuters que já vem filtrada pelas várias agências de inteligência, nomeadamente a CIA, e da qual são subscritores os mais variados meios de comunicação do mundo, incluindo a CNN. 
A América beneficiou imenso com a Segunda Guerra Mundial, que arruinou os seus principais oponentes (a Europa, a União Soviética, a China e o Japão). Granjeou condições de exercer a sua hegemonia económica, tanto mais que metade da produção industrial global estava concentrada em meia centena de Estados. Talvez seja por causa da sobrepopulação. Quanto mais gente, mais escassez, e isso, não há como negar, mas também pode ser apenas a ganância que os mobiliza. O controlo de tudo nas mãos de meia dúzia é muito bom, sobretudo para a meia dúzia. 
Seja como for, lá que parece haver uma agenda para nos infernizarem a vida, parece. 
Portanto, vamos aos anjos. Nada melhor do que se colocar nos boletins de voto uma cara simpática que personifique (neste caso) o sonho americano. Tal como Martin Luther King defendeu naquele seu famoso discurso durante a Marcha de Washington em 63. “ Eu tenho um sonho que as minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver numa nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu carácter.” A América chegou lá e ainda bem, só é pena que tenha chegado apenas a meio sonho cumprido. O sonho de King devia ter-se realizado também na parte em que as pessoas são julgadas pelo seu carácter. Obama, consolidou o Black Power nas terras do tio Sam e a lufada de ar que levou aos americanos (e ao mundo), foi tão fresca, que nos deixámos ludibriar pelo seu carisma. Não digo que Obama seja um mau homem. Parece-me que não é, de todo. Mas para o nosso mal, foi um excelente fantoche. Só as imagens da família perfeita, as fofices entre Obama e Michelle, ele quase um cavalheiro inglês, ela, a perfeita grande mulher por trás do grande homem, o cão d’água português a correr feliz pelos corredores da Casa Branca, é que nos turvaram a visão. A nós e à Academia que lhe atribuiu o Nobel da Paz. Obama mereceu-o tanto quanto Hitler ou Estaline. Milhares de mortos em todo o Médio Oriente, não lhe dão propriamente o móbil para a atribuição de tão importante louvor. Lembro-me do famoso caso dos drones. Mas há mais. Vejamos: O financiamento do Estado Islâmico e a farsa em torno do esforço para combater o terrorismo. A colocação de fantoches no lugar de governos estáveis e respeitados no Médio Oriente. A América trucidou a Síria e levou o mundo inteiro a crer que os vilões nesta história bebiam vodka e usavam ushanka. Culminamos com a campanha difamatória de que a Russia terá usado hackers para manipular os resultados eleitorais que deram a vitória a Trump e a expulsão dos seus diplomatas. Tudo a bem da mentira. Em matéria de politica internacional, Obama colou o mundo ao movimento derradeiro do DoomsdayClock. Deu combustível às “revoluções de veludo” no leste europeu e financiou a horda fascista na Ucrânia. Desafiou a paciência de Putin. Mas, Obama não foi apenas um mau presidente para fora, foi-o também para dentro. Wall Street manteve-se incólume mesmo após a sua promessa de lhe cortar os tentáculos de polvo, e ao invés disso, favoreceu a banca e deu um novo fôlego ao capital. O programa ObamaCare revelou-se um desastre. Eis que após o primeiro mandato, o reformador e moralista do “Yes we can”, passou a sê-lo do “Yes we Did”, e completo: “We did a lot of shit.” 
A América é um país que pela sua importância não pode continuar a resvalar para o abismo. Porque quando cair, não cairá sozinha. Levará com ela um planeta inteiro. Relembremos erros do passado que nos custaram caro: O golpe fascista de 1973 no Chile, a intervenção militar no Panamá,Honduras e Paraguai. A invasão e destruição da Líbia e finalmente a intervenção criminosa no Iraque que constituiu a bola de neve que nos empurrou até aqui. 
Por tudo isto, Obama vai amanhã e já vai tarde. Não sei que tipo de presidente será Trump e desconfio que o tão afamado establishment do qual Obama faz parte não o deixará aquecer o lugar, mas espero que este “let’s make America great again”, aconteça e se transforme num Let’s Make The World Great Again. Com Trump ou qualquer outro. Não sou só eu que agradeço. É o mundo inteiro que agradece.

Tuesday, 3 January 2017

Imortais

"Somos imortais mas temos que morrer primeiro."

Ana Kandsmar in " O Livro de Jade do Céu."


Sunday, 1 January 2017

Bem-Vindo 2017!

Foto de Ana Kandsmar.

Que sejas tu, o Novo Ano, portador do fim do globalismo. Não de um globalismo que una, sendo que essa é a primeira ideia que lhe associamos, mas deste globalismo que destrói nações, arrasa as suas economias e identidade cultural. Que devolvas a soberania a cada povo, a sua autonomia com tudo o que lhe é adjacente, incluindo uma moeda própria. Que as parcerias sejam de facto parcerias, com base no respeito e aceitação das diferenças ao contrário da pretensão que nos tem acompanhado nos últimos anos: A ditadura da igualdade. Que sejamos capazes de caminhar lado a lado, sem a tirania das submissões. Que tu 2017, nos tragas a coragem necessária para que recusemos os totalitarismos das forças externas que oprimem povos inteiros. Que sejas um novo ano criador da força indutora da verdadeira democracia.
Desejo que finalmente tu, 2017, mostres aos que gritam que querem salvar o planeta o quão importante é hesitar mais antes de comprar o par de sapatos que vem da China, passa pela Holanda e só depois chega a Portugal, ainda assim vendido a preço de tuta-e-meia. Que se perceba que o que é muito barato para nós, provavelmente será muito caro a alguém. Que sejas o ano em que não fechamos os olhos à dor do outro.
Que não continuemos a destruir o planeta mil vezes mais cada dia por um novo gadget ou uma porra de um creme para o rosto. Que se olhe também por isto, para os que partilham o planeta connosco. Há mais vida na Terra que não é humana do que aquela que o é. Haja respeito! Não se salva o planeta com medidas patéticas e hipócritas. Haja consciência!

Os últimos anos têm sido uma âncora para a nova consciência de Unidade. Que não se confunda Unidade com falsa união. Os que defendem o individualismo dos cidadãos transformados em nómadas, os que defendem o espirito de cidadão do mundo, o cidadão que perde raízes, que não tem pertença e que erra por aqui e por ali consoante as necessidades dos mercados e do comércio livre, esquecem-se de que não estão a tornar-se unos, integrantes de qualquer coisa, mas ao contrário, apartados de tudo, isolados, e por consequência, cada vez mais egoístas e perdidos. Que os que defendem a migração percebam que migrar quase nunca é consequência de escolha, e que quase sempre se migra por necessidade. Que 99% dos migrantes prefeririam continuar a viver nos seus países de origem e que, se não se deve impedir a livre circulação de pessoas, é exigível que se criem condições para que seja possível a cada um escolher Ficar. 
Por anos acreditámos no poder da liberdade individual. O “ Eu Quero e Posso” tornou-nos reféns de uma selva de onde ninguém se salva sem sacrificar o outro. Esquecemo-nos de que mesmo na selva onde vivem os animais selvagens e inferiores, existem códigos de conduta e ética. Abre-nos os olhos para a necessidade de mudarmos no sentido da evolução e não do seu inverso. O homem não vem à Terra há milhares de anos para, chegado aqui, ter-se convertido num consumidor emburrecido e apenas isto.
2017, espero que nos mostres a diferença entre pertença/ identidade e xenofobia/racismo. E ensina a quem prega o seu contrário que defender a primeira não é praticar a segunda. Traz finalmente a paz para quem vive sobre a ameaça das armas. A paz para o Médio Oriente. A cada país a recuperação do que é seu e a coragem para lutar pela prosperidade a que tem direito. Que o empobrecimento dos povos, o desemprego, a precariedade, a corrupção, os lobbies, a insegurança, a decadência e o medo, sobretudo o Medo, tenhas deixado lá atrás, entregues a 2016.
Sejamos todos mais felizes contigo, 2017.