Saturday, 19 September 2015

Xénos+phobos





Quando, há precisamente dois dias atrás, um amigo com quem falava no Facebook me desejou um bom Domingo e eu, incrédula corri a abrir o calendário para me certificar de que afinal, não era quarta nem quinta-feira como pensava,me apercebi de que os últimos dias me catapultaram para uma espécie de realidade paralela, desgastante e doentia que me fez perder a noção do tempo.
Adormeço e acordo a pensar em refugiados e agradeço por neste preciso momento ser apenas uma cidadã, uma entre milhões de pessoas por esse mundo fora que não têm sobre os ombros a difícil tarefa de decidir.
Mas não ter o poder (e o poder aqui é uma maldição),para alterar o destino de milhões de pessoas, não é o mesmo que não ter opinião sobre o assunto e expressá-la. Faço-o no Facebook , em casa e no café, mas só nestas salas virtuais onde se trocam ideias com conhecidos e desconhecidos se usa e abusa do termo XENOFOBIA. “xénos” e “phóbos” , palavras gregas que significam estrangeiro e medo, respectivamente. Portanto, xenofobia é o medo de estrangeiros. A quem usa e abusa do termo, só tenho a dizer que em lado nenhum se consideram xenófobas as atitudes associadas a conflitos ideológicos, choque de culturas ou mesmo motivações políticas.
Já referi várias vezes os perigos que nos espreitam quando permitimos que uma cultura diferente se torne a maioria dominante. Se olharmos para a história, ao longo dos tempos as civilizações têm gozado de um “curto” espaço de tempo para permanecerem intocáveis no mundo. Elas são invariavelmente substituídas por outras que as invadem, ocupam, combatem, evangelizam e alteram radicalmente. E para sempre. É pois, muito provável que esteja a chegar a nossa vez. Isto acontecerá na Europa. Não tenhamos dúvidas. A questão não é como, é quando. Abrir as fronteiras a mais e mais pessoas que vêm de culturas opostas à nossa, só acelerará o processo.
Não há por isso nenhuma xenofobia a comandar-nos no que aos refugiados da Síria diz respeito. O que há é um medo, enraizado por séculos e séculos de história, de sermos condenados à extinção. Receamos, penso eu, a extinção da cultura europeia mais do que a extinção do povo europeu. Isto é legítimo. E a legitimidade é tanto maior, quanto maiores forem as diferenças entre a cultura que “somos” e a que nos quer invadir.

Com todos os argumentos válidos sobre a nossa própria escassez material, estaríamos nós assim tão preocupados se os refugiados da guerra viessem do país ao lado? Ou da Suécia ou do Brasil, ou até mesmo do Japão? Penso que não. O problema de quem se manifesta a favor de fechar portas a estas pessoas que como nós são de carne e osso, nada tem a ver com as pessoas em si, mas sim com a sua ideologia. Porque ainda que não seja impossível sermos ocupados por espanhóis, ou suecos ou brasileiros, (qualquer povo em maioria se torna dominante), a ideologia islâmica é hostil e por ser tão hostil nem entre eles há entendimento. As mínimas diferenças entre os vários ramos do Islão são para eles abissais e intransponíveis.
É pois a ideologia que frequentemente constrói muros entre as pessoas, porque efectivamente e contrariando o ideal de Esquerda e também da extrema-direita, (meus amigos, que linda que é a palavra IGUALDADE!), quando se trata de pessoas ela é só uma palavra, porque as pessoas são todas DIFERENTES.
De Stalin a Mussolini, de Hitler a Abu Bakr, de Kim Jong (Un e Il), a Ayman al-Zawahiri, todos desejaram e desejam o mesmo: IGUALDADE. E vejam o que aconteceu e acontece a quem aos seus olhos era e é diferente. Todos eles apoiados por uma utopia estúpida e irracional de levar a justiça da igualdade aos quatro cantos do mundo, cometeram e cometem ainda a maior injustiça de todas que é: NÃO RESPEITAR AS DIFERENÇAS.
É pois, impossível levar a justiça da igualdade aos quatro cantos do mundo porque nem o mundo é quadrado, nem a igualdade é justa, nem as utopias são exequíveis.
E sim, encontraremos a paz quando todos formos capazes de dar a mão sem entregar a alma e de pedir um abrigo sem tomar a casa.

Ana Cristina Pinto