Sunday, 11 May 2014

Orgulho besta

E há quem se deixe ressequir por dentro, assim, por coisa tão pouca?
(perguntas de resposta óbvia.)
Os brasileiros chamam-lhe, salvo erro, «orgulho besta».
 O adjectivo é devido, porque a estupidez revela-se em toda a linha de manifestação desta terrível forma de sentimento. Também sou orgulhosa – quem o não é? – e também me custa dar o braço a torcer. Mas há um ponto de sufocação, de ânsia por uma aproximação, uma explicação ou um passo em frente, que me derrota invariavelmente os «orgulhos bestas», por inexpugnável que pareça a fortaleza em que se barricaram, num prazo que nunca ultrapassa os dois dias. 
É, deduzo, virtude da minha condição feminina. Estou, de resto, pronta a admitir que, mais do que a expressão de uma índole conciliadora, esteja em causa a propensão da mulher para verbalizar os seus estados de alma e esvaziar em jactos de palavras os copos de águas turvas que vai enchendo gota a gota. 
O certo é que consigo quebrar o silêncio e pedir - como peço - desculpa. Razão por que não conto morrer de estupidez. Porque o «orgulho besta» é dos tais que recusam, sem um estremecimento de dúvida, o amor, a compreensão, a mão estendida, mesmo que ao fazê-lo risquem da sua vida qualquer hipótese de felicidade.