Tuesday, 16 December 2014

Uma bela critica! Obrigada, Francisco! :)



“Dificilmente passará pela cabeça de alguém que num livro aparentemente algo profético e com contornos bíblicos, contenha romance, sexo, suspense e aventura. Mas afinal, os deuses devem estar loucos e quem sabe se a autora não se conectou também com os planos superiores que evoca, ao tomar consciência total da sua espiritualidade. É a única justificação para o profundo conhecimento que revela sobre as matérias técnicas e dados históricos abordados, e ao mesmo tempo para tamanha imaginação, o que nos leva a questionar se Ana Cristina Pinto não será uma espécie de guardiã, como a personagem retratada no seu livro. Não é esse o papel do escritor, transportar-nos para outros mundos, em que a ficção se confunde com a realidade?”


(Francisco Gomes, jornalista do Correio da Manhã e CMTV)


Saturday, 8 November 2014

Sobre a (In) tolerância...




Quase tudo pode ser eliminado pelo seu oposto. O ódio pode erradicar o amor, o amor pode erradicar o ódio, a alegria/tristeza e o seu contrário, praticamente tudo pode ser banido graças à existência do seu inverso.

Do que me consigo lembrar, a única característica humana que foge a esta regra é a intolerância. Por mais que se faça para acabar com ela, resiste a tudo. Repare-se que numa guerra entre tolerantes e intolerantes, nunca, mas nunca é possível ganhar o tolerante.
Na frase " Eu sou intolerante com a intolerância", onde é que está o "erro"? Está no facto de que quem é intolerante com os intolerantes é intolerante consigo mesmo. E por mais que ele queira acabar com a intolerância, resistirá sempre pelo menos uma: A sua própria.
A tolerância, por definição aceita (tolera) tudo. Inclusive a intolerância. Ao contrário, o intolerante não aceita, não tolera nada. Nem mesmo a intolerância. Não se aceita nem a si próprio, e não se aceitando a si próprio condena-se a existir, porque se perpétua. Este é só mais um paradoxo como tantos outros. E o que eu amo nos paradoxos é que eles nos obrigam a defrontar a nossa pequenez e simultânea complexidade. Somos tão complicados, porra! Somos tão miudinhos, emaranhados, confusos! É disto que somos feitos. De confusão. Não há clareza nem linearidade. Por isso, quando nos queremos menos caóticos digo sempre: Impossível. Nós somos o caos. A experiência humana é o caos e talvez o seu grande objectivo não seja sair dele, mas aprender a viver nele. Sem culpas. Quem é que já pensou nisso?
Venham daí os defensores da tolerância e eu digo-vos que são tolos porque permitem à intolerância que continue a existir. Venham daí os intolerantes e eu digo-vos que são estúpidos porque continuarão a eternizá-la. Mas se temos que escolher entre uma coisa e outra, se entre os males temos que escolher o menor, acredito que entre uma e outra, a tolerância nos atira mais para o abismo. A palavra é mais bonita...o conceito, visto à superfície...muito mais agradável. Mas quando tudo se permite, dá-se azo a uma passividade e liberdade que também, tudo destrói. Talvez que, o grande paradigma dos nossos tempos não seja a obtenção de liberdade. Mas de limites. Os limites protegem-nos mais que a liberdade. Ou... o que de bom pode vir de uma carro que se conduz sem travões?



Friday, 10 October 2014

Bares de Alterne



Clientes aliciados a beber com ilusão de sexo 


Vistos do exterior, parecem bares vulgares. Contudo, o seu interior esconde os dois mais antigos vícios do homem. Álcool e mulheres. Mas ali não se procura vender o corpo. "Vende-se companhia", conta uma das alternadeiras.
 Nos bares de alterne, os clientes são incentivados a pagar bebidas a preços exorbitantes, em troca de convívio. Por alguns minutos de companhia, conversa e talvez uma dança ou duas, um cliente gasta facilmente entre 50 a 100 euros, muitas vezes numa bebida apenas. Cabe à "alternadeira" ser astuta o suficiente, para levar o homem a gastar o máximo no mínimo de tempo possível. Depois da primeira abordagem e do primeiro copo, tudo se torna mais fácil.
Aqui ganha mais quem melhor souber seduzir o cliente. Frutos de relacionamentos problemáticos, casamentos desfeitos, carências afectivas ou insegurança económica, homens e mulheres reconhecem nestas casas o local ideal para se encontrarem e lucrarem com esse encontro. A bem da verdade, elas lucram mais do que eles.
A maioria das mulheres da noite prefere "esconder-se" com os usuais disfarces (perucas e lentes de contacto de cor) e nomes "artísticos", mas também trabalha no alterne quem prefira não usar nada disso, ficando-se apenas pelo nome fictício.
Com uma pseudo-simpatia, pseudo-afecto e uma conversa envolvente em que não faltam as promessas de um possível encontro sexual (raramente concretizadas), estas mulheres conseguem levar os mais carentes e/ou desprevenidos a gastarem muitas vezes o dinheiro que não têm. Mas esse é o preço. O preço do jogo de sedução ilusória que os homens que frequentam as casas de alterne parecem estar dispostos a pagar.

Amplamente difundidas em Portugal, as casas de alterne continuam a constituir um dos mais bem sucedidos negócios da noite. Segundo as estatísticas, das cerca de 30 mil mulheres que vivem do negócio do sexo no nosso país, 10 mil trabalham em bares de alterne.
Embora estes espaços de diversão nocturna se encontrem consideravelmente longe dos velhos padrões da prostituição, o certo é que continuam a ser confundidos com "casas de meninas" onde o sexo é a transacção principal.
A região Oeste acolhe vários destes por isso seleccionamos três para perceber como funcionam. Bares completamente diferentes quanto ao seu aspecto físico e clientela que os frequenta, mas iguais na forma como funcionam.
"Muitos clientes procuram-nos apenas para desabafar". Carla (nome fictício) tem 25 anos, é portuguesa e trabalha na noite há 4. Foi mãe aos 18 de uma menina que nunca conheceu o pai, porque este não a quis assumir nem vê-la uma única vez . Depressa percebeu que os 350 euros que levava para casa, do seu trabalho como caixa num supermercado, mal chegavam para pagar a renda das águas- furtadas em que vivia em Lisboa. Por isso não hesitou quando uma amiga a convidou para trabalhar com ela numa casa de alterne em Setúbal. "Eu precisava mesmo de ganhar mais dinheiro. Com o meu salário já só conseguia aumentar as dívidas e foi em muito boa hora que soube do bar", conta. Segundo o relato de Carla, a sua situação ainda melhorou mais quando foi para um bar de Torres Vedras. "Aqui consegui uma casa melhor e mais barata e como não existem tantos bares em Torres também não há tanta concorrência, logo conseguimos trabalhar mais", afirma. 
E em que consiste esse trabalho? Carla foi peremptória ao responder que o sexo nunca fazia parte do acordo entre ela e o cliente: "Limito-me a abordar o cliente, sendo simpática com ele. Apresento-me, pergunto se posso ficar ao lado dele e caso a resposta seja afirmativa a conversa flui naturalmente", revela. 
E do que costumam falar? "De tudo. Dos problemas deles. Às vezes até dos problemas que têm em casa, com os filhos, as mulheres. Muitos clientes procuram-nos apenas para desabafar. E nós ouvimos, estamos atentas, mostramos interesse. O cliente gosta disso. Ser boa ouvinte é um requisito fundamental para se trabalhar nesta área", refere Carla. "Depois sugerimos ao cliente que peça uma bebida para ele e outra para nós. Isto deve acontecer nos primeiros 10 ou 15 minutos de conversa, porque não podemos perder muito tempo com o mesmo cliente", descreve. 

Decorridos mais alguns minutos de conversa após a primeira bebida, surge o pedido para uma segunda. E assim sucessivamente. A "alternadeira" só abandona o cliente quando percebe que este não está disposto a pagar mais. "Quando o cliente diz que não paga mais, então saímos da mesa e abordamos outro. Mas não somos mal-educadas."Despedimo-nos da mesma forma simpática, porque queremos que esse cliente volte", sublinha. 

E quando o cliente é mais atrevido e se quer aproveitar da mulher, o que fazem? "Nesse caso, deixamos bem claro que não é para isso que aqui estamos. Nós apenas fazemos companhia ao cliente, Dançamos para ele ou com ele se for o caso. Nunca mais do que isso. Para evitar problemas temos sempre o segurança que vai passando para ver se está tudo bem e evitar abusos. Se for mesmo necessário o cliente é convidado a sair"

3500 a 5000 euros por mês, com alguma sorte, mas também muito "engenho", uma noite pode render a Carla e a mais 5 mulheres que ali trabalham, cerca de 200 euros. Às vezes mais. Em média ganham por mês cerca de 3500 euros mas podem chegar aos 5 mil. Recebem no final de cada noite o valor total da primeira bebida e 50% das posteriores. "Tudo depende dos clientes que entram. Tem mais a ver com a quantidade de clientes do que com o recheio das suas carteiras. Neste bar quase todos os que entram são de classe média/média alta e até alta. Por isso costumam pagar bem. Se forem muitos, melhor ainda", explica. 
Aqui os preços das bebidas não diferem muito dos praticados em outros bares. O mínimo que um cliente paga por uma bebida que oferece a uma mulher são 15 euros. Neste caso o copo apenas contém sumo ou água. E poucas são as mulheres que aceitam bebidas nesse valor. "Nem pensar. Eu não estou com um cliente por 15 euros. Peço sempre o primeiro copo no mínimo de 25 euros, nesse caso já pode ser whisky ou vodka, qualquer coisa com álcool. Depois existem ainda outros preços, um copo de 30, 50, ou 60 euros. E temos ainda as garrafas de champanhe ou whisky, embora as de champanhe sejam as mais pedidas", relata. 

Neste bar de alterne em Torres Vedras, as luzes criam um convite à intimidade e na pista está o varão onde Carla faz os seus shows de strip-tease (pool dance) e por isso mesmo acaba por ser uma das mulheres mais bem pagas do bar. "Os clientes preferem pagar bebidas às mulheres que dançam. E por vezes até pedem uma table dance ou um privado. É aqui que entram as garrafas de champanhe. Por uma "mini gância", por exemplo, eu tento sempre acordar com o cliente 120 euros para cima, chegando às vezes aos duzentos, em troca de uma dança no reservado", admite a alternadeira. 

Como a maioria das mulheres que trabalham no alterne, Carla não parece importar-se que a vejam nua, enquanto rodopia no varão, com uma sensualidade que não passa despercebida a nenhum dos homens que a vêem. "Sinto-me desejada. E isso dá-me poder. Eu sei que é assim que consigo levar o dinheiro que quero para casa. Gosto muito de seduzir. De estar no controle. É o desejo deles que os leva a pagar e eu limito-me a alimentar esse desejo com este jogo. Mas não passa de um jogo. Sexo, só faço com quem eu quero e desejo também", confessa. 

Quando perguntamos se Carla se sente realizada com a vida que tem, a resposta não podia ser mais honesta: "Realizada? Não. Claro que não. Gostaria de ter sido enfermeira. Ainda estudei até ao 9º ano. Não foi possível mais. Mas é a vida que tenho. Agora tenho namorado, tenho a minha filha comigo, ganho bem, compro o que quero e ainda tenho a admiração dos meus clientes. A amizade deles. É um mundo quase perfeito".

"O que acontece no privado não tem nada a ver com sexo" 

Entre Caldas da Rainha e Rio Maior encontramos outra casa de alterne, que chegou a ter 15 mulheres a trabalhar, quase todas oriundas dos países de Leste. Poucas brasileiras e ainda menos portuguesas.
Tal como noutros bares que o nosso jornal visitou, não existem mulheres a trabalhar ilegalmente. A maioria é casada. Algumas mães. No entanto, ali estão, noite após noite, para ajudarem com mais algum dinheiro no orçamento familiar.
Ao contrário do anterior, este não tem entre os seus clientes homens de classe média/alta. Aqui as classes baixa e média são predominantes. O próprio espaço em si também não convida à entrada de um público mais exigente. Mas as mulheres, não sendo modelos, chamam a atenção, quanto mais não seja devido ao tipo de roupa que vestem. Reduzido. Provocante. Quanto aos preços, o mesmo. Bebidas no mínimo de 15 euros, sendo constituída apenas por sumo ou água, e as alcoólicas de 25 até 30 euros o copo. E claro, depois as garrafas de whisky ou champanhe. 50, 80, 120, 150 euros ou mais ainda se o cliente aceitar pagar.
Aqui as mulheres ganham 60% do que conseguirem que o cliente pague. Em média 100 euros por noite. Cerca de 2.500 euros por mês. Em frente aos espelhos que revestem as paredes da sala principal, Mónica (nome fictício) dança alegremente com as colegas enquanto espera que o bar se encha de clientes.
Também aqui o ritual de aproximação é o mesmo. Primeiro fazem-se as apresentações, depois um pouco de conversa e a sugestão da bebida. Alguns minutos depois observamos Mónica a sair da sala com o cliente em direcção a um cubículo isolado e escuro, onde cabe apenas um pequeno sofá.
Atrás deles segue o segurança com o balde do gelo e a garrafa de champanhe. Trinta minutos depois, Mónica regressa à sala. Ficámos então a saber que o tempo estipulado no privado são exactamente os trinta minutos. Se o cliente quiser mais tempo, terá de pagar outra garrafa, que custa no mínimo 120 euros. Mas Mónica desta vez conseguiu acordar a ida ao privado por mais uns euros. 150. "O que acontece no privado não tem nada a ver com sexo. O que acontece é que alguns clientes preferem estar mais à vontade. A maioria dos nossos clientes são de perto e não querem ser vistos aqui por alguém que os reconheça. Por isso preferem o privado."
Mónica tem 34 anos e deixou a Ucrânia há 2. Já se apaixonou mas nunca casou. Um amor não correspondido empurrou Mónica para as teias do alterne. "Ele não me amava. Usou-me. O amor não presta. Não quero amar outra vez. Isso é só ilusão. Maior ilusão que a que vendemos aqui todas as noites. Aqui eu não faço sofrer ninguém, e por amor eu já sofri demais", desabafa. "Antes isto do que a prostituição. Aqui nós só seduzimos o cliente. Somos simpáticas, alegres e damos afecto. É tudo o que a maioria quer de nós. E quando aparece algum que quer mais do que isto temos que saber dizer não. Antes isto do que a prostituição", avança.
Se as mulheres que trabalham no alterne não vendem sexo, quisemos saber o que leva a generalidade das pessoas a pensar que sim, e porque é que esta actividade não é bem vista pela sociedade. "As pessoas são preconceituosas e falam mal do que não conhecem. Muitos dos que dizem mal nunca entraram num bar de alterne", sustenta. Apesar disso, Mónica reconhece que também aqui não há regra sem excepção. "Algumas mulheres fazem sexo por dinheiro. Mas a maioria não faz. E as que fazem, raramente o fazem aqui. Combinam com o cliente e fazem lá fora. Mas isso é péssimo. Para além de elas passarem uma má imagem da actividade, ainda estragam o negócio. Cliente que paga lá fora, não vem pagar cá dentro e isso é mau para o negócio", diz. Por mais irónico que pareça, segundo Mónica, a única coisa que a mantém afastada da família que deixou na Ucrânia é precisamente o seu apego a ela. "Eu dou muito valor à minha família. Sou muito apegada a ela. E é pelos meus familiares que estou em Portugal. Do que eu ganho aqui, pouco fica comigo. Mando-lhes praticamente tudo. Sou eu quem sustenta os meus pais, avós, irmãos e sobrinhos. Não quero que lhes falte nada", indica.

"Eu não sou prostituta"

Com oito anos de experiência na noite e 36 de vida Suzy (nome fictício), confessa "sem papas na língua" que já passou pela prostituição mas trocou a "venda do corpo" pela "venda de companhia". Saltitou por várias casas de alterne, tendo encontrado "poiso" nos últimos tempos num bar mais pobre e de aspecto duvidoso, nos arredores da Benedita.
 Com condições semelhantes às dos outros bares, funciona com quatro, no máximo, cinco mulheres, quase todas oriundas de Leste, mas aqui quem "dá as cartas" é uma brasileira rebelde e atrevida, que diz já ter apanhado com toda a tareia que a vida foi capaz de lhe dar.
Com quatro filhos ainda menores a viver do outro lado do Atlântico, dois deles fruto de um segundo casamento que também terminou mal, Suzy conta ter já sido por várias vezes vítima de violência por parte dos homens com quem se relacionou. Por isso, não é de estranhar o azedume na voz, nem a frieza no olhar quando nos fala das motivações que a levaram a procurar esta vida. "Eu sei que já vendi a alma ao diabo. E continuo a fazê-lo quando finjo ser simpática com estes homens que aparecem aqui. Mas é a única maneira de eu conseguir o dinheiro", comenta. Mas assegura: "Eu converso apenas. Seduzo. Mas não chego ao contacto físico. Eu não sou prostituta. Se o cliente me paga bebidas porque fica na expectativa de um dia ter relações sexuais comigo...problema dele. Eu aqui não faço nada disso".

Quando perguntamos se Suzy consegue permanecer sóbria durante toda a noite, apesar do consumo excessivo de álcool, a sua resposta não deixa margem para dúvidas: "Ingerimos poucas quantidades de álcool. Quase sempre 90% de água ou sumos e 10% de álcool. No caso do whisky é ainda melhor, porque podemos trocar por sumo de maçã sem que o cliente repare na diferença". Os bares que visitámos não parecem ter como prática comum o incentivo ou exploração da prostituição (o que constitui o crime de lenocínio). Com ou sem prostituição, as casas de alterne continuarão a vender ilusões e pseudo-afectos.

  -  Ana Cristina Pinto







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Alguém que posta: " Creme de banana. É muito bonito, não acha?" Remete-me logo para um lugarzinho pimbalhão no meu cérebro e ocorrem-me várias coisas: uma musica do josé cid, a minha ultima visita ao jardim zoológico e uma vontade quase irreflectida de responder: " Bonito,não sei. Mas é muito saboroso"

Tuesday, 7 October 2014


Ainda bem que não há qualquer problema em dizer merda no blog, porque sinceramente, estes putos das praxes são mesmo uns merdas. Uns grandes merdas. Espero que o canudo sirva ao menos para aliviar a imundície que vai naquelas cabeças.



Friday, 3 October 2014

Coisas substancialmente irritantes:


Aquelas torneiras amigas do ambiente.
Primeiro, pareço uma autista a acenar à frente da torneira, por baixo da torneira, à volta da torneira, até conseguir que aquilo comece a deitar água. Normalmente, claro, com a casa-de-banho cheia de pessoas que, obviamente, sabem utilizar eficazmente aquelas torneiras e estão mentalmente a pensar: "coitadinha, deve ter algum atraso..."
Depois, é suposto eu conseguir lavar bem as mãos em 3 segundos, senhores!?
Ou terei eu de obsessiva-compulsivamente carregar, acenar, ou o que quer que faça que active a dita, para conseguir que aquilo se ligue novamente mais umas 3 ou 4 vezes?
Sinto-me quase como um um puto virgem imberbe à procura do ponto G.

P.S.( Ah, pior que isso ainda, é a mija do helicóptero: Sentas-te na sanita e de 10 em 10 segundos agitas os braços no ar, para que a luz volte a acender-se...)


Thursday, 2 October 2014

Wednesday, 1 October 2014

O valor das coisas

Tenho duas gavetas na sala onde só guardo tesouros. Coisas de muito valor.
Uma tem pacotinhos de supari, masala tea bags, caixas de incenso, sabonetes de açafrão e sândalo, um sari lindo, rendado, fiadas de flores de jasmim já secas e esboroadas e ainda um cd de Ravi Shankar. Um cd que quando toca, solta um som tão mágico e envolvente como só uma cítara pode ter. 
Na outra, tenho postais ilustrados. Alguns, oferta de amigos e familiares próximos que foram fazendo questão de me mostrar que eu estou no coração deles. Outros, alegremente infantis, feitos pelas mãos dos miúdos. 
As palavras ternurentas com que me brindaram nessas recordações de infância, carregam tanta ternura e fé na mãe que eles acreditavam ter, que ainda hoje guardo tudo com a convicção de que se a minha casa sofresse um incêndio, seriam estes pequenos (grandes) tesouros que eu tentaria salvar a todo o custo. 
Quando tenho saudades da Índia, enfio o nariz na gaveta e deixo-me inundar pelos cheiros do mercado de Margão enquanto a cítara de Ravi Shankar enche a casa. 
Quando é a nostalgia dos filhos ainda pequenos, os cheiros das loções para bebé e os pós-de-talco, os bracinhos pequeninos a enlaçar o meu pescoço, os choros a meio da noite a interromper o sono que foi entretanto roubado por um papão adulto e egoísta…quando é a saudade imensa de ser assim tão importante na vida de alguém: um farol, uma torre, uma fada… as fotos que me mostram os seus rostinhos risonhos não me chegam. 
Preciso das palavras. E então leio naqueles postais infantis o maior amor do mundo, cristalizado, perene, imortal. 
Um dia, eu hei-de morrer e a Índia, continuará a ser a Índia. Com ou sem dejectos e cadáveres que bóiam indiferentes ao choque dos turistas, o Ganges e o Yamuna, continuarão a ser os rios onde adoraria  molhar os meus pés. 
Um dia, eu hei-de morrer, e o amor dos meus filhos por mim e o meu por eles continuará vivo. 
Com ou sem dramas próprios da nossa convivência, também ela indiferente ao choque de gerações, os nossos dias juntos, serão talvez a minha única marca relevante no mundo. 
E é por isto que me são tão importantes estas duas gavetas. 
Em mais lado nenhum guardo tanto valor. 
Tudo o resto só tem preço.


Tuesday, 30 September 2014

Na lista enorme das "coisas" que eu amo: Keane.

Vanity publishing



«Publicação da vaidade» (ou como quem diz: A arte de editar livros que até podem não valer um caracol mas editam-se na mesma porque a editora não tem nada a perder.)

O que há para dizer? Assim de repente o que me ocorre é: Não gosto. E não gosto porque não considero que isso seja publicar livros. Já recebi várias propostas de vanity. Vários e-mails das editoras, dizendo “ Gostámos muito do seu original, achamos que tem potencial editorial e temos todo o interesse na sua publicação”.

….mas… e lá vem o “mas” aporrinhador, o empata fodas, o desmancha prazeres…mas… apenas se eu passar umas notas porreiras à editora porque: “(…) como deve compreender, a editora não pode suportar os riscos inerentes à publicação de um autor desconhecido”.

Ahhhh…então é assim que funciona! Primeiro pagas e não bufas. Ou seja: Tu dás dois anos da tua vida para escrever uma estória, fazes noitadas, directas, perdes horas em pesquisas disto e daquilo, depois envias para as editoras que te dão primeiro a boa noticia: “ Sim!, Sim!, Sim!” (Lembram-se daquele anúncio da gaja a lavar o cabelo com Herbal Essences? É quase isso.), e logo a seguir a má : “ arrisca tu, que nós só cá estamos para ficar com 90% do PVP, e nem nos vamos preocupar muito com a distribuição porque: há uma, nem são tantos exemplares assim, há duas, já estão pagos e há três, o pior que pode acontecer é correr mal, mas para nós corre sempre bem.
Ah é? Ok. Tudo bem. Amigos como dantes. Olha, o meu original vai continuar na sombra porque eu não vou pagar para que ele veja a luz do dia. Ponto. Se alguma vez se publicar alguma coisa minha, será porque é realmente bom e não porque eu “subornei” alguém para isso.

É isto mesmo: O Vanity Publishing soa-me quase a suborno.

Quem o defende até usa bons argumentos. Reparem: É uma boa maneira de o autor ir ganhando nome, confiança, habilidade na escrita (porque motivado com a crescente massagem ao ego vai escrevendo cada vez mais e melhor.) Será que vai? Hum? Mas admitindo que isso tudo até pode ser verdade: Até lá, o leitor vai ficando cada vez mais confuso na hora de comprar um livro, porque por entre a parafernália de títulos a forrar as paredes das livrarias, arrisca-se e muito, a levar para casa, tudo, menos um bom livro. E já nem me refiro ao conteúdo, porque isso, meus amigos, há gostos para todos os géneros e ainda bem. Refiro-me à forma, à básica e elementar preocupação que quem quer ser escritor deve ter, e quem quer ganhar a vida publicando o que outros escrevem, também: Revisão de textos e correcção de erros gramaticais, ortográficos e por aí fora.

Pois é. O Vanity até pode colocar mais livros na mesa do leitor, mas não deixa de ser um concorrente desleal e duvidoso de todos aqueles que realmente escrevem, sejam eles nomes consagrados ou anónimos lixados.




Monday, 29 September 2014

Dador de Memórias



Vi o "The Giver". Um filme sem um grande enredo, bastante previsível até, mas com uma mensagem poderosa. Cabe que nem uma luva aos nossos dias. Tem alguma similaridade com o " Equilibrium" um filme de 2002 que conta a história dos que sobreviveram à 3ª Guerra Mundial. Os que ainda podiam contar essa mesma história, sabiam que os humanos jamais sobreviveriam a uma 4ª grande ofensiva. Era preciso parar e para isso foi-se o mais longe que se pode. Tomar diariamente um medicamento inibidor das emoções, foi neste filme, a solução encontrada.

Em " O Dador de Memórias", a injecção milagrosa do esquecimento também pareceu ser a única capaz de propiciar a paz. Esquecer quem fomos, do que somos capazes, o que sentimos e porque nos emocionamos. Quando eu digo que a mensagem é poderosa, digo-o sobretudo por pensar que o caminho para um " The giver" ou "Equilibrium" real já está aberto. O que foi durante muito tempo considerado impossível, pela ciência, começou a tornar-se um facto comprovado no final da década de 1990, graças ao neurocientista egípcio Karim Nader. Hoje já se sabe que a PKMZeta é a proteína capaz de apagar memórias. E é eficaz.

A questão que importa aqui é: Se perdermos o que nos define enquanto seres humanos, ainda que nos salve de nós mesmos não nos condena a um outro tipo de morte? Talvez à pior das mortes? Aquela, em que vivemos mas não nos sentimos vivos? Quem não sente, quem não recorda, quem não se emociona, quem, em suma, vive automatizado, não pode em boa verdade dizer que está vivo. Ou pode?


Mafalda ao Poder! Já!!!







Esta é a Mafalda, a Contestatária, do Cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado, mais conhecido por Quino.

A Mafalda “nasceu” a 29 de Setembro, há 50 anos atrás.

É assim um bocadito “cota” mas está cada vez mais fresca e mais aguerrida e sempre actual.Sempre questionando e ralhando e contestando…faz-nos falta uma Mafalda na Assembleia da República!Ai isso faz!


Tuesday, 23 September 2014

Vida de uma solteira (taralhoca) no Facebook.

Maria Albertina faz like numa foto.
Stalker 1, faz like também, mesmo quando não percebe o que leu.

Maria Albertina posta uma foto com uma frase que indica que terá sofrido muito nas mãos dos homens e jamais voltará a confiar na espécie. Stalker 1 comenta em 0,2 segundos e dá a entender que nem todos os homens são iguais. Stalker 2 comenta logo de seguida, que deverá confiar apenas nos homens que demonstram ter sentimentos verdadeiros e não querem, como outros, saltar-lhe apenas para a cueca. Stalker 1 comenta de seguida, que ela não deverá confiar em qualquer homem que lhe diga que não é como os outros. Maria Albertina suspira e não comenta mais.

Stalker 1 mete conversa no chat, embora Maria Albertina esteja em modo "aparecer offline", com a frase "então, estás escondida?!". Maria Albertina suspira e não clica em ler a mensagem, vendo apenas a primeira frase que ele escreveu, para ele não saber que ela viu efectivamente o que ele disse.

Maria Albertina comenta um post de João Diogo, a quem realmente acha piada, picando-o. Stalker 2 vê, e também sendo amigo, comenta. Stalker 1 está neste momento deprimido porque Maria Albertina continua a comentar post's de outras pessoas, mas não lhe responde no chat.

Stalker 1 insiste, com a cartada da pena "então, estás chateada?".
Maria Albertina suspira de tédio e responde: " Não, estava a jantar. Tudo bem?" Stalker 1 sorri e tem um orgasmo mental:" Afinal ela liga-me!".

Stalker 2 mete conversa no chat "como correu o dia, linda?". Maria Albertina pensa: "não me chames linda."

Maria Albertina pensa: "porque raios o João Diogo não mete conversa?....Estúpido!"

João Diogo envia finalmente um link de um cãozinho fofinho. Maria Albertina sorri e pensa:" Ohhh , que querido!! Ele até gosta de cãezinhos como eu!".

Stalker 2 continua a ser ignorado.
Stalker 1 continua a ser ignorado.

João Diogo mete conversa com Lurdes, Marta e Leonor, com a mesma foto do cãozinho.

Maria Albertina pensa que a relação pode dar em algo, já que parecem ter imensas coisas em comum.
João Diogo pensa que este fim-de-semana vai facturar.
Stalker 1 já bebeu metade de uma garrafa de Whiskey.
Stalker 2 manda o Facebook à merda e vai ver porno.


Sunday, 14 September 2014

AS “estampas” da nossa vida…


Acredito que todas as mulheres têm outra mulher pela qual, em algum momento das suas vidas foram trocadas. Essas, as que nos levaram algum dia ao término de uma relação, se forem tão ou mais bonitas que nós (e nós temos olhos na cara para ver isso) até compreendemos. (Não no momento, mas mais tarde). Mas quando isso não acontece, quando o homem que amávamos ou nos dava pelo menos a volta aos sentidos, nos troca por alguém francamente pior, então esse facto transforma para todo o sempre, a outra, (a ladra), numa "estampa". Uma croma purulenta, vurmosa e infecta. Eu tenho uma "estampa". Ou duas. A minha amiga também tem uma e não deve haver mulher que não tenha a sua. Até mesmo as próprias “estampas” são bem capazes de ter um destes exemplares a assombrá-las, por mais difícil que isso nos pareça. Mas confiando na lei de Murphy, temos que acreditar que há sempre pior.
A primeira “estampa” que a vida me deu, foi há uns bons anos atrás. Tinha então 15 anos. Era a minha primeira paixoneta, coisa de adolescente e nunca passámos dos beijinhos. Mas eis que surgiu a primeira larápia dos meus afectos. Era já na altura uma miúda feia, com um nariz demasiado pontiagudo, demasiado sardenta, com uns olhos pequeninos e apagados. Nada de interessante portanto. Mas ela somou e seguiu e uma noite, em que eu estava num bailarico da aldeia, cheia de esperança de o ver (a ele), encontrei-o aos beijos com aquela coisa achinesada, atrás do palco de onde ressoava a cacofonia pimba. Tudo bem. Tinha 15 anos. Facilmente parti para outra, depois de ter chorado 3 dias seguidos. Não há muito tempo, encontrei-os aos dois, também numa festa da aldeia, mas já não os vi aos beijos. Ele tinha uma bebedeira descomunal e ela, ao nariz em forma de gancho e olhos mortiços, somava um buço que vai daqui a Paris. Ele estava coxo, marreco, e com um rosto enrugado e macilento, marca de muitas noites bem regadas a álcool. Nunca largava a cerveja e ela agarrava-se ao balcão do bar improvisado, olhando para ele de soslaio, volta e meia dizendo-lhe qualquer coisa. Parecia zangada. Até que a “coisa” deu para o torto e ele deu-lhe um estalo tão grande que ela rodopiou para o outro lado do balcão. Veio ajuda. Alguns homens agarraram-no e ralharam-lhe por ele estar a fazer aquelas figuras tristes. Mas ele continuava a falar alto e a chamar à mulher todos os nomes de que se lembrava. Até que cambaleante, seguiu para casa com ela atrás. «Coitada.» Ouvi dizer, «Hoje é mais uma noite em que ela vai apanhar e acabar a dormir na rua.» Foi quando me lembrei dos meus 15 anos e daqueles 3 dias de pesar por ter sido preterida. Não consegui deixar de sorrir quando pensei : “Abençoadas lágrimas. Esta levou-o, mas não levou grande coisa.” Alívio. Alívio não, gratidão mesmo. Felicidade extrema!
Ontem uma amiga, mostrou-me uma foto em que posava alegremente a “estampa” dela. Fiquei chocada, horrorizada a olhar para aquilo. A única imagem que me veio à cabeça foi a de um travesti que encontrei a deambular pelas ruas do Porto, na década de 80. Podia jurar que se tratava da mesma pessoa. Receei ter pesadelos ontem à noite. Se ao invés de loura (falsa), ela tivesse o cabelo preto, podia bem passar pela matriarca da família Adams. E isto levou-me (como era esperado), a recordar-me da minha estampa mais recente. Outro “mistério da fé” que eu nunca vou perceber. É claro que eu não me acho linda de morrer, nem tenho a pretensão de ser o máximo que algum homem pode desejar (era o que faltava!), tenho plena consciência de que não subo ao pódium dos cânones da beleza feminina, mas por amor da santa! Aquilo é pior que uma albina! Aposto em como ele consegue ver-lhe a comida no percurso que faz da garganta ao intestino grosso! Tem sinais na pele (até onde se pode ver), com diâmetros que davam para fazer ringues de patinagem artística! O rosto é tão parco em harmonia que me dá a sensação de que o Criador (faltando-lhe peças), foi buscar aos falecidos, uma orelha aqui, outra ali, o nariz dacolá, o olho direito deste e o esquerdo daquele…C’órror! E o gosto pela roupa e acessórios? Será que ela não tem amigas? Sim, amigas de verdade que sejam capazes de lhe dizer: “ Querida, isso não te favorece…e é pindérico.” Enfim…
A minha amiga, a tal que foi trocada por um travesti, que é bonita e tem um charme de fazer inveja, anda com a foto da sua “estampa” no telemóvel. E a razão é muito boa: “ Quando estou com uma crise de auto-estima – confessou-me – olho para ela e sinto-me logo muito melhor.” Nunca tinha pensado no quanto isto é terapêutico. Acho que vou fazer o mesmo à minha. Download da foto que há tempos consegui apanhar no Facebook e sou capaz de ir um bocadinho mais longe: Imprimir e colar em pontos estratégicos da casa. Sei que é cliché mas é bem capaz de funcionar: Uma na dispensa para afastar as formigas e outra na casa de banho para me estimular o recto em dias de obstipação. Fica bem mais económico do que o Dulcolac e o Activia e é bem capaz de surtir o mesmo efeito.


Friday, 12 September 2014

Já me apetecem Outono e Inverno. Gosto de dias frios. São aborrecidos, cinzentos e tempestuosos lá fora, mas tão quentinhos, aconchegantes e calmos cá dentro.Como diz a "pirralha", « A Primavera e o Verão são as estações sexy, mas o Outono e o Inverno são as fofinhas.»


Wednesday, 10 September 2014

A Relação com a Mão: Contraceptivo 100% eficaz!

O lugar mais confortável que podemos almejar, quando opinamos sobre o que quer que seja, é sempre aquele que nos permite agradar a gregos e a troianos. E quanto mais polémico for o tema, maior é a tentação para nos colocarmos aí, nesse limbo de conforto, onde não há preto nem branco, tudo é cinza, comodidade, neutralidade, em suma, um pacato banho-maria que nos dá a ilusão de assertividade e equilíbrio. Esse é o reino do Assim-Assim. O problema é que nós podemos ter uma atitude assim-assim para muitas coisas. “Gosta do bife bem ou mal passado? Assim-assim”; “ Prefere o café forte ou fraco? Assim-assim”; “ Como é que lhe corre a vida? Assim-assim”, e por aí vamos. O nosso tanto faz como fez, o deixa andar, o tanto dá como se deu, pode aplicar-se a muitas coisas, mas ao aborto não. Dizer-se: “eu não sou a favor do aborto, mas defendo que a mulher é quem deve decidir” é ter esta atitude assim- assim. Numa questão tão importante e delicada quanto esta não pode haver ambiguidades. Falamos de vidas, não de escolhas que pouco ou nada nos afectam. Não se pode dizer que se é contra o aborto e ao mesmo tempo defender que a mulher tem o direito absoluto e supremo de decidir se interrompe ou não uma gravidez. Não sejamos hipócritas. Quem defende que a mulher é quem deve ter o poder de decisão sobre o que acontece a outra vida, não pode em verdade dizer que é contra o aborto.
Vi alguns comentários que defendem que o aborto não é usado enquanto contraceptivo. Lamento, mas isso não é verdade. Não para todos os casos. Um dos trabalhos que fiz cerca de 2 anos após o referendo que deu a vitória à prática do IVG, deixou bem claro que muitas mulheres, sobretudo as mais jovens abortam por "dá cá aquela palha". Um dos obstetras com quem falei na altura revelou que algumas jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos faziam em média 4 abortos por ano. Num dos casos, (o mais chocante) uma jovem de 22 anos terá recorrido ao aborto 11 vezes no espaço de 2 anos. Ora…estes são casos a nível local! Não estou a reportar este trabalho que fiz, para a totalidade do país. Nem quero imaginar como serão os números para Portugal inteiro. Segundo o DN, entre 2008 e 2012, registaram-se em Portugal cerca de 100 mil interrupções voluntárias da gravidez, sendo que, mais dois anos passados o número terá duplicado. A boa notícia é que os casos após aborto que recorrem às urgências dos hospitais diminuíram consideravelmente. (Para alguma coisa a nova lei teria que servir!) Se falarmos na pílula abortiva (do dia seguinte), então o choque é ainda maior. Existem miúdas que vão busca-la à farmácia, praticamente mês sim, mês não. Não, não estou a exagerar! Isto é preocupante porque estamos a falar de mulheres muito jovens que muito provavelmente no futuro nunca mais poderão vir a ser mães!
Contudo, penso que o mais importante nesta questão é que ainda não percebemos que a mulher, manda sim no seu corpo. Sem dúvida. Mas o corpo que está dentro dela, não é o corpo dela. É o corpo de uma criança, que está em formação, e que como já vimos (um feto com 10 semanas), é um feto como o que se pode ver na imagem. O que eu costumo perguntar sempre é: se não se pode matar uma criança que já nasceu, porque é que se aceita que se mate uma que ainda está em formação? Qual é a lógica disso? É com base nessa reflexão que considero perfeitamente surreal que se argumente que em casos extremos, (como esse mais recente, por exemplo do pai que matou a criança em água a ferver), pais que matam os seus filhos, tenham eles a idade que tiverem, sirvam de exemplo para justificar o aborto. Nada disso serve de exemplo para justificar um aborto! Um crime não pode justificar outro crime! Não faz sentido! Se a vida fosse valorizada pelo tempo que se respira sobre a terra, então os idosos seriam tratados como reis e rainhas, certo? E não o são. São atirados para lares de 3ª idade, abandonados, negligenciados, esquecidos. Um bebé ainda no ventre da mãe não tem menos direito à vida que outro que acabou de nascer. Porque teria? Porque o ouvimos chorar? Porque lhe mudamos a fralda, lhe damos os seios para que ele se alimente? E quando está no nosso ventre? Não se alimenta também de nós? Não chora? Não reconhece o toque da mão da mãe sobre a barriga? Não se acalma quando a mãe lhe fala? Bom, eu sou mãe e posso garantir-vos que um bebé no nosso ventre faz tudo isso. Na primeira ecografia que fiz do meu filho, (tinha ele 6 semanas), estava a chuchar no dedo.
Quero que fique bem claro que acredito sinceramente que ninguém é a favor do aborto e que aquilo que se pretende evitar é que mais mulheres continuem a ser penalizadas, quer pela sociedade, quer pela negligência de quem a troco de alguns euros arrisca a fazer o que não sabe ou não tem condições para fazer. Mas também acredito que já vai sendo tempo de nos deixarmos de egoísmos. Não estamos a falar de mulheres que vivem nas décadas de 80/70/60 ou anteriores. Não estamos a falar de mulheres que vivem em países de 3º Mundo, onde a informação e métodos para evitar uma gravidez, são de difícil acesso ou mesmo inexistentes. Estamos a falar de mulheres que tendo a possibilidade de levantar contraceptivos gratuitos nos centros de saúde, preferem assobiar para o lado e nunca lá põem os pés. Estamos a falar de mulheres que em larga escala e independentemente da sua classe social, têm acesso à internet, defendem práticas de libertinagem sexual que vão desde o swing ao mamading, exibem iphones e unhas de gel. Será que é mesmo por causa dos parcos recursos monetários que se recorre tanto ao aborto? Sinceramente, não me parece. O que as leva à IVG é a crise de valores. A crise de humanidade e não a crise monetária.
Hoje só engravida quem quer. Fazer sexo é muito bom, mas há consequências e eu não acredito que exista uma só mulher com mais de 14 anos, neste país que não saiba que as há e quais são. E acima de tudo, que não saiba o que, e como fazer para evitar uma gravidez não desejada. Posto isto, se me perguntarem se eu acho que deveríamos voltar a criminalizar, só posso em coerência dizer que a mesma lei que defende a vida de quem já deu o seu primeiro berro no mundo, deve ser a lei que defende a vida de quem ainda se prepara para o fazer. Reforço que a mulher é dona do seu corpo sim, mas o corpo da criança que ela carrega não é o seu corpo. É outro corpo. Outro ser. A melhor solução de todas creio eu, virá a longo prazo (ou não). Só dependerá de todos nós. Eduquemos as nossas crianças para os valores que valem realmente a pena. Às meninas, ao invés de as considerarmos inocentes e ingénuas, ensinemos tudo o que há para ensinar sobre o sexo e o amor, sobre o quanto é maravilhoso esse encontro de dois corpos que se amam, mas também a importância de conhecer todas as regras desse jogo da sedução. Levemo-las a tempo às consultas do planeamento familiar, ginecologistas, o que for preciso para que elas estejam preparadas, protegidas e conscientes dos seus actos. E isto não é para fazer depois de elas terem 16 ou 17 anos. É para fazer logo que elas comecem a menstruar. Aos meninos, ensinemo-los a assumir responsabilidades, a cuidar do que criam…em suma, a protegerem a sua e a vida de quem com eles se envolve.
Acrescento que para os adeptos do assim-assim existe uma coisa muito boa: A relação com a mão. E atenção que, quando eu falo em relação com a mão, não a sugiro apenas aos homens. As mulheres também podem ter uma relação assim-assim com a mão. Assim-assim, porque será sempre aquele tipo de relação que dá prazer mas nem tanto e faltam sempre muitas coisas: o corpo do outro, os beijos, as caricias e os afectos verbalizados. Por isso é uma relação assim-assim. Dá para o gasto. Para o alívio momentâneo. A vantagem é que uma relação com a mão não coloca ninguém numa situação que não deseja. Diria mesmo que a relação com a mão, já traz um método anticoncepcional incorporado e que é 100% seguro!
Por último…sim, é vergonhoso que o estado pague a quem quer matar e não ajude a quem quer dar a vida. Tudo o resto que possa ser dito a este respeito, na minha opinião, são desculpas, disparates, parvoíces, tretas e uma enormíssima falta de bom senso.


Tuesday, 9 September 2014

2 kinds of Man



Em conversa, disse-lhe: amei imenso ""o homem sem qualidades". Referia-me ao livro do Musil que comprei numa feira do livro, mas a verdade é que, num aligeirar do discurso , acabara de resumir grande parte da minha vida amorosa.

É que há deles assim...e depois há os outros...

Saturday, 6 September 2014

Mimos & Gatices



É tão bom quando o amor ronrona!
A medida que envelheço dou menos atenção ao que as pessoas dizem...
simplesmente observo o que fazem.


Monday, 1 September 2014

The First or the Last?

"Os homens gostariam de ser o primeiro amor de uma mulher.
As mulheres têm um instinto mais subtil: gostariam de ser o último amor de um homem."

Oscar Wilde in "the importance of being Earnest"



Saturday, 30 August 2014



Depois do bolo, do brinde,dos votos, fica a certeza de que estes 20 anos ao teu lado podiam sim, ter sido melhores, mas se o fossem, não seriam os nossos.Os nossos 20 anos foram únicos. Foram, mais coisa menos coisa,7200 dias de aprendizagem, adaptação, conhecimento,respeito,orgulho, evolução e amor constantes.

Foram 7200 dias de construção de dois seres humanos, um filho e uma mãe que todos os dias se surpreendem e superam. Há 20 anos atrás, deixei, ( como te disse hoje) de ter o "rei na barriga". Mas és, sem dúvida, o meu príncipe. Alguém por quem vale a pena acordar todos os dias. E se tantas vezes fui a tua torre e o teu farol, outras tantas, foste tu a minha torre, o meu farol.

Agradeço-te por me teres escolhido para esta tarefa. A melhor de todas. A mais difícil, mas a mais bonita. Ser tua mãe não foi uma sorte tua. Foi antes uma sorte minha. Ou de ambos. Quero acreditar que um dia dirás que foi uma "sorte" de ambos. Essa constatação transformará o pior dos nossos dias, num dia óptimo. Num dia excelente. Parabéns por mais um aniversário, Rafael. Espero poder dividir contigo pelo menos mais 7200 dias e quando eu já não puder fazê-lo,desejo que continues a partilhar a tua passagem por esta terra com pessoas tão excepcionais como tu. Loveu4ever!





Thursday, 28 August 2014

As Mulheres...

As mulheres são melhores e estão fartas de sabê-lo.
Mas, como os gatos, sabem que ganham em esconder a superioridade.
Os desgraçados dos cães, tal como os homens, são tão inseguros e sedentos de aprovação que se deixam treinar.
Resultado: fartam-se de trabalhar e de fazer figuras tristes, nas casas e nas caças e nos circos.
Os gatos, sendo muito mais inteligentes, acrobatas e jeitosos, sabem muito bem que o exibicionismo vai levar à escravatura vil.

( gosto tanto de ti MEC  )


Monday, 25 August 2014

A propósito do (triste) espectáculo Anselmo Ralph em Cascais... Que espécie de mães/pais levam crianças pequenas, inclusive bebés nos seus carrinhos, para o meio de um recinto onde estão milhares de pessoas (alcoolizadas, drogadas, etc...) ? Mas esta gente lá pode fazer/parir filhos? Esterilizá-los a todos, Já!

Saturday, 23 August 2014

Thursday, 21 August 2014

Excelentíssimos Senhores Empregadores, aqui está uma notícia que certamente vos agrada. Reforçada a possibilidade de arranjarem mão de obra quase a custo zero. Aos candidatos a emprego devo dizer que não há motivo para festejar. Terminado o prazo do pagamento parcial ou integral do vosso salário, pelo Estado, voltam ao olhinho da rua, porque o empregador irá de seguida aos centros de emprego procurar alguém nas mesmas condições. Medida para diminuir o desemprego? A sério? Bahhhhh...

http://manda-te.com/noticias/candidaturas-estimulo-emprego/

Tuesday, 19 August 2014

O feminismo é a pior coisa que já aconteceu às mulheres.


Na Holanda, os movimentos feministas pretendem acabar com a definição de género. Não querem que homens e mulheres continuem a ser chamados de homens e mulheres, passando dessa forma, a ser usado por todos o mesmo denominador comum: Humanos. Apenas.

Por mais que a ideia possa agradar às feministas de plantão, a mim arrepia-me. Insurge-me numa revolta contra quem, sendo mulher, se prejudica deliberadamente. (Tanto ou mais do que homens comandados por excesso de brio na sua masculinidade e má vontade). Nunca percebi muito bem a razão de existirem os movimentos feministas. Não foi graças a eles que as mulheres conquistaram por exemplo o tão afamado direito ao voto ou a frequência nas universidades. Ele já existia antes dos primeiros movimentos dos anos 60.

O feminismo não emancipou a mulher. Na verdade, o feminismo prejudicou a mulher ao colocá-lo numa prisão de pensamento negativo e ao promover um beco sem saída de promiscuidade.

O feminismo roubou às mulheres a tendência natural de colocar a família e o casamento - a parte mais significativa da sua existência e pilar de uma sociedade coesa e saudável - no centro das suas vidas. Em vez disso, o feminismo actual envergonha as mulheres e força-as a acreditar que o materialismo da sua carreira deve ser colocado em primeiro lugar. Deve ser o centro. O foco principal. Onde é que isso nos trouxe? Famílias monoparentais às carradas? Famílias desestruturadas, problemáticas, arruinadas?
Um dos objectivos não-declarados do feminismo é gerar nos homens sentimentos de culpa por estes considerarem algumas mulheres mais bonitas que outras. As feministas, que se encontram na secção mais feia do espectro da beleza feminina, ( e desculpem-me as feministas que não têm culpa de serem feias, mas que na sua larga maioria o são, são. Temos pena), querem redefinir o conceito de beleza de modo a que elas sejam consideradas tão meritórias como as mulheres que são genuinamente bonitas.
Ao mesmo tempo que as mulheres (desproporcionalmente lésbicas) da elite feminista se dedicam a fazer uma lavagem cerebral à população idiotizada, elas vão sendo bem sucedidas em enganar as mulheres de modo a que estas se tornem vítimas das tendências narcisistas que se encontram no seu ADN privilegiado. Quando as mulheres dão início ao processo de auto-destruição estético não encontram qualquer tipo de resistência por parte da cultura.
É claro que todas as mulheres merecem ser alvo do desejo e admiração dos homens. A sedução é um jogo que todas queremos jogar, mas como será isso possível deixando crescer os pêlos nas axilas, promovendo o descuido com a aparência, eliminando da vida de milhões de mulheres os cuidados básicos com o corpo, (depilação, maquilhagem, roupas femininas que nos acentuam as curvas e nos deixam visivelmente mais bonitas, o uso dos saltos altos que nos tornam mais elegantes, a lingerie que promove amplamente o tal jogo tão apetecido da sedução? Onde é que fica o nosso encanto se os cabelos curtos – à homem- o uso de indumentária tipicamente masculina, os corpos grosseiramente tatuados com imagens ainda mais grosseiras de caveiras, motivos grotescos e completamente desprovidos de sentido estético têm lugar comum nas nossas vidas?
A ideia de igualdade amplamente difundida pelas feministas colocou-nos num patamar de escravização a uma existência que em nada nos dignifica. Lutemos pela igualdade de oportunidades. Basta! É o quanto basta! Lutemos pela liberdade de escolher o que nos faz felizes sem ostracizarmos as mulheres que fazem escolhas diferentes.

A mulher que quer apenas ser mãe e dona de casa deve sê-lo sem culpas, pois o trabalho de educar bem os homens e mulheres do futuro é tão importante e meritório quanto o da mulher que é directora de uma importante multinacional ou ocupa o cargo de 1ª Ministra. Ser mulher é uma dádiva que ironicamente, muitos homens parecem percebê-lo melhor do que nós.

Lembremo-nos do tempo em que nós éramos olhadas com respeito, cortejadas com verdadeiro interesse. Lembremo-nos dos tempos em que os homens nos ofereciam flores, abriam a porta para entrarmos antes deles, em casa ou no carro, e puxavam a cadeira para nos sentarmos.

Lembremo-nos que já fomos olhadas pelos homens com a exclusividade que hoje nos faz falta e que se nos faz falta essa exclusividade é porque hoje, graças aos movimentos feministas somos (quer queiramos quer não) uma espécie de inovação ao jogo do toca e foge, alvos insatisfeitos da "queca mágica" e aqui minhas senhoras…tudo o que temos semeámos, regámos e colhemos.

Mulher com M grande não é feminista. É feminina.


Wednesday, 13 August 2014

"Dizem que o Emídio Rangel morreu. Não é verdade Quem entra na história, quem a faz fica eternamente vivo".

Nuno Santos



Tuesday, 12 August 2014

Captain, oh my captain!

E morreu hoje um actor que era qualquer coisa.Qualquer coisa de extraordinário, claro. O cinema vai perdendo e ganhando, com os que partem e com os que vai descobrindo. Nós é que perdemos sempre, porque há filmes que só se tornam grandes graças a quem lhes dá vida. E porque esses ( os que lhes dão vida), já nasceram grandes. Espero que ainda esteja muito longe o dia em que Morgan Freeman será noticia pelas mesmas razões. Porque nesse dia eu choro.





What's Love Got to Do with It ?

Hoje descobri "What's Love Got to Do with It". Um filme fantástico, baseado na vida de uma das mais brilhantes artistas de sempre : Tina Turner.
Com interpretações fabulosas de Angela Basset e Laurence Fishbourne, (ambos desempenham de forma notável os papéis que na vida real couberam a Tina e Ike Turner). 
O filme é pesado. Sofrido. Não mais do que as vivências da diva do rock. Fala de abandono, maus tratos, toxicodependência e suicídio. Ou da vontade dele. Mas há um provérbio tibetano logo no inicio da película, (Tina acabou por converter-se ao budismo), que achei lindíssimo e muito poderoso: "A flor de Lótus nasce e cresce na lama. E quanto mais lama ela tiver a sustentá-la maior e mais bonita se torna". 
Foi assim com a Tina Turner e é assim com qualquer um de nós. Basta que a beleza do que está à nossa volta nunca saia dos nossos olhos e que o crescimento pessoal seja uma exigência diária, particular e intransmissível.
Para quem nunca viu, recomendo "What's Love Got to Do with It".Tenho a certeza de que vão gostar.


Sunday, 10 August 2014

Welcome Home!

Sexta e Sábado, foi assim. A trabalhar para estes 5, em Viseu.Porreiro, sem dúvida. Mas bom mesmo foi chegar a casa.

Tuesday, 5 August 2014

(Que gente tão curiosa !)

O Abel quer saber se eu gosto dele.  Tendo em conta o perfil do Abel, ( Anarquista, benfiquista, fã do Quim Barreiros e da Ruth Marlene, devorador de reality shows e leitor assíduo da revista Maria), espero que tenha um irmão chamado Caím.

Monday, 4 August 2014

My Everything

A Mariana hoje fica com mais 1 aninho. 16 Primaveras, Outonos, Verões e Invernos, tudo a que ela tem direito. Tem sido uma aventura. De agora em diante, as aventuras serão (se Deus assim o permitir), ainda melhores. Mais intensas, interessantes e como não podia deixar de ser, pedagógicas. Já lhe cresceram as asinhas e volta e meia já faz uns voos. Estou cá para ela, sempre. Observo-a, dou-lhe umas dicas, mas cada vez a amparo menos. Porque cair faz parte e quem não cai, nunca aprendeu a voar sozinho. De todas as coisas que lhe ensinei, espero que ela retenha pelo menos duas: A primeira, é que o melhor da chegada é sempre a viagem. O que dá realmente gozo, não é a festa em si, mas a sua preparação. A segunda, é que a vida é uma paleta com muitas cores, embora às vezes nos pareça ter apenas o preto e o branco, outras ainda, apenas o preto.« Mas a vida é uma paleta, não te esqueças. Tem muitas cores. O meu coração é teu, filhota.


Wednesday, 30 July 2014

Pain...

“A dor é uma coisa estranha. Um gato que mata um pássaro, um acidente de automóvel, um incêndio… A dor chega, BANG, e eis que ela te atinge. É real. E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido. Como se te tornasses, de repente, num idiota. E não há cura para isso, a menos que encontres alguém que compreenda realmente o que sentes e te saiba ajudar…”
— Charles Bukowski


Tuesday, 29 July 2014

Monday, 28 July 2014

Alcorão VS Tora... O Profano do Sagrado

Não há heresia mais traiçoeira do que o fundamentalismo religioso. Isto preocupa-me. 
Tomem-se os exemplos mais conhecidos, os vértices do triângulo mitológico formado por judeus, cristãos e muçulmanos em torno do mesmo Deus. 
Não é preciso mais do que um olhar, a leitura de duas linhas, um minuto do som que emitem, para termos a exacta sensação de que os fundamentalistas de qualquer das três doutrinas estão do lado do filme em que mora o bandido. Só para lembrar exemplos mais vivos na memória, cito três,- que, ainda por cima fazem ou fizeram a política do fundamentalismo religioso: Bush, Bin Laden, Bini Netanyahu (acreditem, Ariel Sharon foi quase um menino de coro ao pé dele). O que é que os três inspiram ou inspiraram? Ódio, medo, repulsa. No que é que os três basearam a sua popularidade? Na disseminação de ódio, medo e repulsa. E como medo, ódio e repulsa podem estar ligados ao que é divino, criador, iluminado? Só pela via da apropriação indébita. 
Os ditos fundamentalistas tomam para si o que não é seu nem de ninguém: a interpretação absoluta e definitiva do que se coloca como a manifestação do transcendente -- os textos sagrados. "Está escrito", rosnam. Sim, está escrito. Mas o que significa? Alguém escreveu, alguém representou, traduziu para uma linguagem, com todos os limites que uma linguagem tem, e que a faz, desde que o mundo é um mundo escrito e retratado, passível de interpretações.
 O exemplo que gosto de citar é a primeira frase do primeiro versículo do Evangelho de João: "No princípio era o Verbo". Que verbo é esse, com maiúscula, e que se atreve a "fazer-se Deus", e mesmo a "ser Deus"? Para mim, é extremamente claro: se o que foi dado ao evangelista para desenhar, designar, representar o infinito, foi a palavra, o escrever, o que pode ser mais infinito do que o verbo? João constrói, com maiúscula, o verbo dos verbos, o infinitivo absoluto. Confessa, em três linhas, que propõe no Verbo, a representação de Deus -- a mais grandiosa, na minha opinião. Pois bem, eu posso estar aqui a dizer disparates, consequência de uma aprendizagem individual que pode até ser duvidosa. Ou posso ter tido o “insight” do milénio. Não importa.
 A visão dos fundamentalistas, por ter sido interpretada autonomamente, eu não li nem encontrei lá o mesmo que eles encontram. Por isso não acredito no mesmo em que eles acreditam. E se eu perguntar a um deles o que quis o evangelista dizer, ele condenará a pergunta. 
O mundo, deste terceiro milénio, vê-se sob a sombra da batalha movida por esses sequestradores do sagrado, os que tomam como seu o que é de Deus. São literal e etimologicamente, os sacrílegos - aqueles que querem legislar o sagrado e, portanto, usurpar o que é de todos. O mundo está sob o domínio desta gente. Piorou com a reeleição de Bush (agora um passado infeliz). 
Os postos de Condoleeza Rice e Alberto Gonzales mostraram desde logo o caminho a seguir por uma humanidade expropriada do seu sentido: Humanidade. E hoje assistimos ao inevitável, tendo em conta o percurso feito até aqui. 
Vamos embalados nos braços de hereges vestidos de santos, até nos adormecermos. Deixamos que nos adormeçam. Sobretudo quando não são as nossas guerras, as nossas casas bombardeadas e os corpos de quem amamos mutilados.
 Há quem fale em anti-Cristo, a figura mítica do apocalipse popular. Não, esses tipos não são tão espectaculares assim! Ao mesmo tempo, são equânimes: são anti-Cristo como são anti-Maomé, anti-Abraão, anti-Alá… São sobretudo e acima de tudo, anti-todos-nós! - Já poucos reconhecem a importância da paz, simples assim, como deve ser. Apenas Paz.
 O problema crucial é: Nós, que almejamos a paz, só vamos vencer quando a palavra guerra deixar de fazer sentido e a palavra tolerância deixar de ser apenas uma palavra e passar a ser um modo de vida. Mas um modo de vida assim, não pode ser totalitário. A tolerância para poder existir terá que ser ela própria intolerante de vez em quando. Ou é possível mantê-la viva, sendo tolerante com os intolerantes? Não pode. E é por isso que esbarraremos sempre nesta perpétua condição humana. Haverá sempre uma “Gaza” por aí.
 É uma fatalidade que nos corre no sangue, não importa o tipo. Em algum lugar do mundo, a cada 31 de Dezembro, alguém dirá sempre: “ Feliz Atentado Novo”. 

( Escrito em 2004  para o  blog " Divagações". Continua tão actual! )


Saturday, 26 July 2014

A Terra (santa) Amaldiçoada…

Tablóides sensacionalistas, mais uns quantos canais de televisão (que por acaso até são lideres de audiências), profetas da desgraça, Edvards Munchs da era digital, esses pintores de gritos e de lágrimas e de dor. Viver num mundo onde a humanidade se hostiliza, se fere e mata por conta do ouro, da banca, do petróleo e de livros antigos. É o que temos. E como me disse ainda ontem, alguém muito mais jovem do que eu, (alguém a quem a fé na humanidade nunca chegou a nascer): “ Somos intrinsecamente maus. O gene da bestialidade, da maldade, da intolerância, está plantado em nós como uma semente que se colou ao útero da Terra. Ocasionalmente há uma luz que se acende aqui ou acolá. Uma ou outra parte do globo ilumina-se com uma frágil corrente de paz e amor, mas nunca tem tempo para se fortalecer nem nunca nasce ao mesmo tempo em todo o lado”.
Sou forçada a concordar com ele. E a minha fé, que deve ter nascido mais ou menos no mesmo dia que eu, vai morrendo um bocadinho mais todos os dias. 
Morre nas páginas dos jornais, no ecrã da televisão e até nas cronologias do Facebook. Eu tento contrapor o meu jovem oponente no debate. “Não. Nós melhorámos. Nós já fomos maus. Isso é passado. Olha a Idade Média, a Inquisição. Lembras-te da Inquisição? “ O Rafael olha-me como se me visse através de um vidro fosco, embaciado com fantasias. “ Idade Média? Inquisição, a caça às bruxas, as cruzadas??? E já em pleno Sec-XX, XXI?? A 1ªe 2ª Grande Guerra, Hiroshima, Nagasaki, o Holocausto, o Iraque de Sadam, a mutilação genital feminina, (que não se pratica apenas em países da Ásia e África, mas também na Europa), Tiananmen, Timor, o leste europeu, as redes de tráfico de mulheres e crianças, o 11 de Setembro, a escravatura infantil, a politica do filho único na China que atira com milhares de bebés (principalmente do sexo feminino para os contentores da morte), e de novo a caça às bruxas e bruxos da actualidade que já levou centenas à execução no Cambodja, e de novo, sempre de novo, por séculos de história, a mortandade entre irmãos que lutam por uma terra que de Santa só o nome?”
E poderíamos continuar, temo. “ E que lutam em nome de um Deus que terá um dia, sem querer (creio), conduzido estas criaturas a uma epopeia de sangue e desgraça, quando lhes disse que aquela era a Terra Prometida.” Mais uma vez, palavras mortas em livros velhos.
“ Somos intrinsecamente maus.” 
Pois somos, Rafael. O gene da bestialidade, da maldade, da intolerância, está plantado em nós como uma semente que se colou ao útero da Terra.


Thursday, 24 July 2014

Intimidade

Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas coisas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas.

António Lobo Antunes



Sunset

Acreditem...é o pôr-do-sol na Foz do Arelho. Atrevam-se a dizer que não temos praias bonitas por aqui!


(Fotos - Cristina Pinto)