Monday, 24 December 2012
Saturday, 22 December 2012
Hotel Ruanda
Em 1994 eu estava grávida do Rafael, contava com três anos de jornalismo, um jornalismo pequenino, local, se assim lhe posso chamar. Era afinal uma informação sobre a "politicazinha" dos municípios e freguesias e um relato pouco interessante da vida cotidiana de uns quantos milhares de cidadãos que tal como eu, em 1994 viviam em paz e jantavam calmamente enquanto viam o telejornal.
Lembro-me das noticias sobre os conflitos no Ruanda, lembro-me de pensar neles enquanto um horror distante que não atingia a mim própria nem àqueles que amava.
Lembro-me de dormir bem, mesmo depois de ver as imagens que davam conta de milhares de mortos, de campos de refugiados, de crianças órfãs, vítimas de uma guerra sem razão, como o são afinal todas as guerras. Este conflito político no Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países,sem o apoio necessário das Nações Unidas, os ruandenses tiveram que lidar com o horror da crueldade dos seus próprios irmãos.
Existe um filme que é um retrato fiel sobre estes acontecimentos trágicos no Ruanda. Um filme que nos mostra a dimensão da covardia e do ódio que os seres humanos são capazes de deixar crescer nos seus corações e por oposição, a dimensão do amor e da coragem que pode catapultar qualquer um de nós para um mundo completamente novo. Um mundo onde existe um elo fortíssimo entre quem somos e quem queremos ser.
Acima de tudo, uma ligação indestrutível entre a nossa própria vida e as vidas que caminham ao nosso lado. Gostaria de acreditar que este mundo, que afinal não terminou ontem, 21/12/2012, prossegue hoje rumo a um futuro que não poderá jamais confundir-se com o seu passado.
Gostaria de acreditar que este mundo, sob o qual nós continuamos as nossas vidas, terá a povoá-lo vidas que se dão valor, que felizes com o mundo que continua a existir, fazem dele um lugar onde a histórias como as do Ruanda, não voltam a repetir-se.
Acho que em suma, gostaria de acreditar que em cada homem e mulher que caminha sobre a terra, existe um pouco do Paul Rusesabagina. Um homem que contando apenas com a sua coragem, abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito e com esse acto profundamente altruísta salvou 1200 vidas. É curioso que este homem, Paul Rusesabagina nunca foi nomeado para um Nobel da Paz. Nunca foi aclamado, ou agraciado com uma medalha de mérito. Ao contrário, o Srº Obama teve essa honra, mesmo que (apenas um exemplo),mais de 500 crianças tenham perdido a vida no Paquistão, aquando dos ataques com aeronaves não tripuladas. Gostaria por isso, também de acreditar que este mundo novo onde tantos de nós desejam viver, um Nobel da Paz, seja efectivamente um louvor a quem luta por ela.
Deixo-vos com a sugestão do filme. Vale a pena ver.Não para que chorem,(como eu fiz) mas para que desejem ardentemente que a nossa capacidade de aprender com os erros não tenha sido abalada, porque isto, meus amigos, foi um monumental erro, para somar a tantos outros que já cometemos.
Thursday, 22 November 2012
E os meus Óscares vão para:
O ÚLTIMO SAMURAI
(HONRA, SABRES E TRADIÇÃO)
Tom Cruise é Nathan Algren, um oficial americano que se reencontra no mundo dos Samurai. Uma abordagem muito interessante ao eterno conflito entre a tradição e a modernidade. Um dos grandes filmes de 2004! Edward Zick sempre teve uma paixão pelo cinema de época. Glory e Lendas de Paixão explicam-vos melhor do que eu, o significado desta paixão do realizador que, com "O Último Samurai", consegue fazer do filme algo mais do que um veículo de promoção à mega-estrela Tom Cruise.
Parecendo que não, O Último Samurai é essencialmente uma crítica aos Estados Unidos. Uma crítica à sua política de expansão para Oeste, que só foi conseguida através de sucessivos massacres de tribos indias, os verdadeiros elementos tradicionais de um país que se convencionou chamar Estados Unidos da América. Nathan Algren é dos poucos americanos que ainda tem o discernimento para perceber que há coisas que são mais importantes que a glória. Sendo assim, encharcado em alcoól, Algren embarca para o Japão, a longinqua terra do sol nascente, para fazer exactamente o oposto que defende: treinar os exércitos japoneses na arte da guerra ocidental.
Mas no entanto chegando ao Japão, Algren redescobre na cultura samurai o mesmo espírito que a América possuía nas tribos indias. Nesse sentido, Algren redime-se ao associar-se aqueles que, na sua terra natal, ajudou a destruir. É assim que, ao lado dos samurais, defensores da tradição da cultura japonesa, que Algren recupera a sua honra.
Apesar do filme ter uma notável fotografia, num retrato muito bem conseguido de uma pequena comunidade rural nas montanhas japoneses, é a cena da batalha final que tem maior poder visual, a lembrar um pouco Os Sete Samurais e Ran - O Senhor da Guerra do mestre Akira Kurusawa.
É bom ver filmes assim!!
Monday, 15 October 2012
Como bons carneiros, serenos e povo bem mandado que somos.
Daqui por uns anos valentes, quando tivermos netos, vamos contar-lhes - dissimuladamente ufanos - esta época de crise que vivemos e vamos pintar o cenário muuuuuuiiiiiiiiittoooooo neeegrooooo, e que eles são uns afortunados enquanto nós tivemos que andar a penar para trabalhar como doutores e engenheiros e, ui ui, nesse nosso tempo, era um iPhone 4 e dois carros para uma família de 5 pessoas, assim como tínhamos que viver todos empilhados num pequeno T3. E, vamos ainda acrescentar que tivemos que passar muitas dificuldades para eles poderem ter uma vida melhor porque as portagens no nosso tempo eram pagas e olha, tínhamos que ir de férias para o Algarve e para a Nazaré. E que as mulheres no nosso tempo, coitadinhas, só conseguiam comprar 4 ou 5 sapatos de saltos altos por mês e quando muito mais duas ou três malas. Ahhh... e como sofriamos!! Como nos debatiamos com a amarga realidade de não sermos todos famosos, ricos e giros. Ah, isso e ter um BMW...Que miseráveis!
Monday, 1 October 2012
Friday, 28 September 2012
E os meus Óscares vão para:
"Todas as manhãs ele lê para ela, de um caderno desbotado pelo tempo, uma história de amor que ela não recorda nem compreende. Um ritual que se repete diariamente no lar de idosos onde ambos vivem agora. Pouco a pouco, ela deixa-se envolver pela magia da presença dele, do que ele lhe lê, pela ternura dele... E o milagre acontece. A paixão renasce, transpõe o abismo do tempo, o abismo da memória, e por instantes ela volta para ele... Apesar da doença. Mas haverá mais. Todos os dias, ele lê-lhe a história de um simples rapaz sulista e de uma rapariga destinada a brilhar na high society.
A primeira paixão, clara como uma manhã orvalhada de maravilha e descoberta. Afastados depois pela impiedosa exigência do abismo que os separa. Catorze anos mais tarde, ele é um sobrevivente da guerra e ela está a poucos dias de tornar-se a mulher de outro homem. Mas volta por uma necessidade imperiosa de o rever. O reencontro traz de novo toda a magia. Terá o amor poder suficiente, desta vez? Mas haverá mais. Sempre."
Este é o resumo encontrado na contracapa de um livro intitulado "O diário da nossa paixão" de Nicholas Sparks. Um livro fascinante que deu lugar a um filme igualmente sedutor e comovente... uma história que nos mostra o quanto vale a luta pelos nossos objectivos, principalmente quando o objectivo é o amor...
Para lêr ou vêr e chorar por mais.
Sunday, 1 July 2012
Desde já, agradeço aos meninos da banda Maus Hábitos, que ontem tocaram e bem, perto de Alcanede. Estive lá (nos ensaios) e gostei muito. Confesso que foi emocionante ouvir as minhas letras musicadas.
Obrigada ao vocalista João vicente que as cantou lindamente. Grande voz. Ao baterista Pedro Mota, que imprimiu ali muita energia boa. Ao baixo, Hugo Coimbra que foi um elo de ligação muito harmonioso entre todos. E claro ao guitarrista,Filipe Petrucci, pelos seus espetaculares solos. Gostei muito. Espero que continuem. Estão de parabéns.
Saturday, 30 June 2012
¿Por qué no te callas?
Ter de ver um programa com a Júlia Pinheiro faz-me querer atirar a televisão ao chão. As pessoas dizem que são certos e determinados desenhos animados que colocam ideais de violência na mente dos mais novos e sensíveis. Calem-se essas pessoas. Não sabem do que falam. É a Júlia Pinheiro. Ela é que vai ser a responsável pelo aparecimento de Serial killers sem precendentes, cópias perfeitas do Jack "o estripador" e novas formas de insanidade mental colectiva. É a Júlia Pinheiro a última gota na mente de um rapazinho que, ao não ter televisão por cabo nem Internet, pegará na caçadeira do seu pai e começará a disparar contra tudo o que se mexe como se não houvesse amanhã. O que tecnicamente aconteceria, visto que seria um caso de homicídios em massa barra suicídio. Mas as acções do rapazinho constituem um pecado e, por isso, o rapazinho terá pela frente umas férias permanentes no Inferno. Mas o Inferno é, tal como o nome diz, um inferno. Logo, o rapazinho será condenado a ver o programa da Júlia Pinheiro para toda a eternidade. Até ao dia em que escapará daquele pesadelo e a sua alma vagueará pelo mundo dos vivos, assombrando um outro rapazinho, que tal como ele, também verá a televisão por cabo e a Internet como uma quimera e a quem, cada vez mais, a arma de seu pai parecerá mais desejável. Mas a alma do primeiro rapazinho preveni-lo-á. Preveni-lo-á para que não cometa o mesmo erro que ele.
Se é para matar gente, que comece pela Júlia Pinheiro. Pelo menos assim, ambos os rapazinhos serão poupados a uma eternidade de sofrimento.
Se é para matar gente, que comece pela Júlia Pinheiro. Pelo menos assim, ambos os rapazinhos serão poupados a uma eternidade de sofrimento.
Friday, 24 February 2012
Ao longo da vida, são muitas as decisões de que nos vamos arrependendo - desconfio sempre daquelas pessoas seguras de que voltariam a fazer tudo igual, se pudessem voltar atrás, mesmo quando a evidência mostra o contrário.
Hoje à noite, por exemplo, ao abrir a porta do frigorífico arrependi-me amargamente de não ter comprado chocolates na última vez que fui ao supermercado. Cheguei a parar em frente à prateleira, mas desisti. Se pudesse voltar atrás...
(Hoje estou muito virada para a merdice que ando a ler nos jornais):
Li uma entrevista com uma socialite que dá pelo nome de vicky e que pelos vistos é o cúmulo da elegância mas que tem a boca à banda (o que não é nada elegante, para já). Na dita, a vip dizia, entre outras barbaridades que “não gostaria que a namorada do filho fosse mais alta do que ele nem que fosse vulgar”. Para definição de elegância, pelo menos ao nível dos valores e da conversa, parece que estamos conversados. Acontece que a senhora, que respira dondoquisse pacóvia por todos os poros, não só é “especialista em estudos franceses” (LOL) como escreveu um livro sobre qualquer coisa como "a arte de bem vestir" (e portanto agora foi promovida à categoria de “escritora” encartada). E parece que dá uns conselhos de moda numa revista qualquer ou num suplemento de fim de semana, não sei (o que a eleva igualmente à categoria de "cronista"). Diz ela que, este inverno, devemos evitar as túnicas estampadas, as saias curtas, os decotes profundos, os brincos compridos, a mistura de cores, enfim, tudo o que seja basicamente “étnico”. Fiquei mais descansada. Pois é tudo o que vou usar este Inverno. Que bom que é ser vulgar e só me preocupar com que o(a) namorado(a) da minha(meu) filha(o) a(o) faça feliz.
Thursday, 16 February 2012
Deambulações Semânticas
O amor não se faz, acontece. Essa expressão é feíssima. Ama-se, faz-se sexo, mesmo que seja com amor. Isso é um preconceito português de achar que foder é só com as putas. Um dos grandes tabus da humanidade continua a ser o sexo. Como é possível viver os dias de hoje sem prazer? O sexo não serve só para procriar! Acho a expressão ‘fazer amor’ muito pouco ‘tesuda’.(…)
Trecho de uma entrevista ao Rogério Samora, publicada na revista Tabu, do jornal Sol, de 27/10/2007.
Achei interessante o que ele disse. Realmente, o amor não se faz, acontece. Depois pode ser enriquecido e fortalecido com outras coisas, mas é algo que “acontece”. Já o sexo faz-se. A expressão “fazer amor” é muito certinha e politicamente correcta. Mentalmente associo-a a sexo essencialmente “ternurento”. É uma expressão “fofa”, querida, doce, segura de utilizar em qualquer contexto. Já “fazer sexo” soa-me estranha, tipo linguagem médica ou científica. Depois há as “relações sexuais”, que é algures entre “fazer amor” e “fazer sexo”. Não faz sentido ser usada para descrever o sexo, ou faz? Porque parece que se refere à relação entre as pessoas envolvidas, querendo dizer que o sexo faz parte dessa relação, ou é aquilo que a define. Mas também pode ser uma relação afectiva, amorosa, fraterna, sei lá. Não gosto muito da expressão, é cerimoniosa. Já “foder” é uma expressão muito mais interessante. Tem uma carga erótica muito forte e só o seu uso já é estimulante. A não ser que seja num contexto em que palavras deste género são ditas a torto e a direito, como adjectivos, verbos, substantivos e até pontuação. A banalidade cansa, e o uso destas expressões para significar insultos leva à descontextualização das mesmas, perdendo o seu sex appeal.
Vi algures que a palavra “foder” vem do “latim vulgar “futére”: ter relações com mulher”. Desconheço a razão por que tal palavra é usada para insultar. Se toda a gente gosta de sexo, porque é que é insultuoso dizer a alguém “vai-te foder” ou é mau sinal quando alguém diz “estou fodido”? Será que a opressão e desconsideração das mulheres pelos homens é que levou a que este tipo de expressões signifique, basicamente, que quem fode é o maior, está no topo da hierarquia, no controlo da situação, e que quem é fodido é lixado, humilhado?
Enfim, deambulações semânticas...
P.S.: Achei piada a esta adulteração de um ditado popular: “Deitar cedo e cedo erguer, só se for para foder.” lol... Sou forçada a concordar.
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