Azar? Talvez. Incúria? De certeza!
Ninguém que eu conheço está disposto a pagar salários a um funcionário/colaborador/ trabalhador, caso este não desempenhe as suas funções com rigor e competência. Todavia, no que toca a governantes pagos por todos nós, desfazemo-nos em cortesias, salamaleques, vénias práqui e prácoli, façam eles a merda que fizerem. Desde presidentes de juntas, de câmaras, da república, ministros e deputados, tudo gentinha paga do nosso bolso, gentinha que ocupa cargos para nos servirem, servem-se descaradamente das posições que lhes confiamos, e a nossa voz em uníssono, "Sim, Sr. Doutor, sim Sr. Presidente, sim Sr. Ministro."
Respeitinho! Estudaram, são importantes, usam fatinho e gravata, falam bem, sorriem, distribuem beijinhos e abraços, arvoram-se de cultos e sapientes, a última bolachinha do pacote e o povo elege-os. Mas elege para quê? Para salvarem bancos enquanto a saúde, a educação e os meios operacionais de socorro sofrem cortes? Os bombeiros que vão de comboio, os bombeiros que arrisquem a vida com mangueirinhas, os bombeiros que se lixem?
Onde está a planificação florestal? Não sabemos já os malefícios de tanto pinheiro e eucalipto?
Onde está a mão pesada sobre os infractores, os incendiários, os proprietários (incluindo o próprio Estado) que não limpam as matas? Onde está a inclusão da Força Aérea no combate aos incêndios?
Todos os anos falamos disto. Todos os anos se repete isto. E todos os anos é mais do mesmo. Os doutores que nós elegemos, os doutores que se tornam presidentes de freguesias, de municípios, de países, os que ministram, os que legislam, não são mais importantes que nós. São pagos por nós!
Somos nós que lhes pagamos as gravatas com que se pavoneiam nas ruas, os almoços, as jantaradas, as viagens e os pópós. É do nosso bolso que sai o charuto do Sr. Costa e as peúgas que ele calça. Não me lixem! Neste preciso momento há 64 mortos confirmados em Pedrógão Grande! 64! E os números ainda podem subir porque dos 200 feridos vários estão em estado crítico! O momento é de dor mas também de pedir responsabilidades! Pedir, não! Exigir! Não ganhou a Seleção Nacional, não ganhámos a Eurovisão, mas perdemos a nossa gente! E perder, principalmente quando são vidas que perdemos, é um motivo ainda maior para sair à rua do que quando se ganha qualquer coisa.
Sem cortesias, sem vénias, sem salamaleques! Não há governante que mereça o nosso respeito quando pela sua mão morrem filhos de Portugal!