Sunday 28 April 2013
Se a tua pedra afundar...
O paradigma do séc.XXI: enquanto me deres carinho e tratares de mim, eu vou-te amar. Então, trocamos o nosso amor por um punhado de carinhos e boas intenções. Aprendemos as regras desde a infância: se fores uma boa menina, dou-te um chocolate.
Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo da forma como sente, mas sim, pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão, deixa de dar carinho e se afasta? A maioria carrega no botão do desliga-amor, activado pelos medos e sentimentos de abandono, e corre na direcção dos braços mais quentinhos das redondezas. A história ciclicamente renova-se: enquanto fizeres coisas por mim , eu amo-te e fico ao teu lado, porque afinal, em primeiro lugar eu tenho de me amar a mim próprio. Mas que espécie de amor é esse?
É um amor que não serve nem a nós mesmos nem aos outros.
Eu também tenho receios, fantasmas aterrorizantes que atacam de quando em vez, mas não quero acreditar no que eles dizem. Quando saio de uma relação importante, penso que o mundo no qual eu acreditava tem que existir! Deve existir! Nem que este lugar seja apenas num qualquer lugar recôndito, entre a cabeça e o coração... Mesmo que ele não exista em mais recanto algum, se eu, pelo menos, puder construí-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que acredito, o mundo encher-se-á de amor e nunca mais ficará doente. Nesse mundo, ninguém precisará de trocar o melhor de si mesmo por coisa alguma porque todo o amor terá o poder de nascer sozinho entre os dedos das mãos. Qualquer amor que seja puro alimenta-se até do respirar, do contemplar do mar, do fechar dos olhos, do abrir das asas que não temos para voarmos lado a lado. Nesse mundo, as pessoas não se abandonam. Elas nunca se vão embora porque não fomos uns bons meninos. Ou porque ficamos com os braços tão fracos que não conseguimos abraçar e ficar por perto.
Mesmo quando o outro se vai embora, nós não vamos. Ficamos e fazer um jardim, um banquinho cheio de cores do qual cuidamos porque aquele é o banquinho onde repousam as coisas bonitas,as grandes recordações, as marcas que nos deixam os grandes amigos. Quem um dia ocupou um lugar especial na nossa vida, sabe que, a qualquer momento, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, pode simplesmente voltar, sem mais explicações.
No mundo que conhecemos as relações dão-se por aí, mas não têm verdade.
“Eu fico sobre a pedra, enquanto estiveres saudável, amoroso e bem-humorado. Enquanto assim for, nós amamo-nos. Se a pedra se afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu salto para outra pedra e começo outro amor”.
Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do mar, é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso. Encostar a ponta dos dedos no fundo do mar. E isso não é nada fácil, porque existem os fantasmas do abandono, que desejam a todo instante, interromper os nossos abraços com o medo e a desconfiança.
Mas se eu não entender isto agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livro será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, como um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote.
É a certeza de existir um lugar, em algum recanto, onde somos acolhidos por um grande amigo.
Se a tua pedra se afundar, eu salto contigo para te dar a mão.
(Autor Desconhecido)