Ganhámos! Nós, tão habituados a perder, tão de cabeça baixa, tão deprimidos e derrotistas ganhámos. Ganhámos na Eurovisão depois daquele outro Euro que nos fez andar nas nuvens por um bom par de dias e que ainda gostamos tanto de recordar.
Podemos dizer que o último sábado foi pleno de emoções e houve vitórias para todos os gostos! O Centenário de Fátima para os crentes, a visita do Papa, o Tetra para os benfiquistas e o Salvador para quem, como eu, gosta de música.
Salvador e Luísa Sobral, a equipa maravilha que levou Portugal para um lugar que já tínhamos desistido de conquistar relembrou-nos que é possível fazer mais com menos. A simplicidade somou pontos e bateu a arte circense presente nos temas apresentados pelos restantes concorrentes e a bem da verdade, presente em tantas outras áreas da arte contemporânea e em tantas áreas da nossa vida. E isso faz-me refletir sobre o período da história que atravessamos.
Anda no ar uma aragem de mudança. Fartos do superficial, queremos voltar ao essencial, ao simples. Queremos a alma lavada e o coração cheio! Queremos acreditar outra vez que não precisamos de muito para fazermos bem, para sermos bons, para sermos Grandes!
Durante tantos anos após o Estado Novo, sedentos de novidades, sorvemos tudo o que vinha de fora, e parecia-nos a nós, tão envergonhados que estávamos de nós mesmos, que só o que nos vinha de fora era bom. Eis que finalmente, começamos a recuperar a nossa auto-estima e o nosso lugar no mundo! Desde o Euro que sinto Portugal uma fénix a renascer das cinzas! Há uma vontade crescente de mostrarmos que ainda somos o país dos Descobrimentos, dos Conquistadores! E mais importante, não precisamos hoje de conquistar pela espada. Basta-nos colocar amor no que fazemos para que os outros se rendam e se apaixonem por nós. O caminho é este. O da essência. Salvador Sobral foi o salvador do orgulho português no que à Eurovisão diz respeito e o mundo ficará melhor desde que a arte de amar por todos nós nos salve.