Que se ponham os olhos na América. Oxalá Trump venha a ser o presidente que a América e o mundo precisam. Mas esta vitória é antes de mais, o grito preocupante da revolta de quem sistematicamente é deixado para trás, esquecido pelos ricos que ficam cada vez mais ricos. O mundo está a mudar, não haja duvida. Os poderes instalados, os partidários do sistema fraudulento e corrupto terão que ser corridos das suas redomas, onde têm, ano após ano, década após década, estado a salvo da miserável existência das maiorias. Eu, para já, aplaudo Trump.
A noite mais longa: nós, os "deploráveis", tínhamos razão
Foi, sem dúvida, uma daquelas mudanças que marcam o curso da história. Para quantos se deixam dominar pela sua subjectividade, gostos, inclinações e desejos, esta noite que mudou o mundo foi recebida com choque, surpresa, indignação e estupor. Tive imensos problemas por haver formulado a possibilidade da vitória de Trump.
Amigos houve que me chamaram tudo por alinhar aqueles argumentos de racionalidade que, afinal, coincidiam perfeitamente com a percepção que os norte-americanos exibem a respeito do descaminho do seu país e do mundo. Não querendo ser injusto, conto pelos dedos de uma mão - vá, concedamos, pelos dedos de duas mãos - o número daqueles que perceberam a corrente da história em movimento. É preciso um convívio assíduo com as dinâmicas sociais e históricas para perceber que nada acontece por capricho inopinado.
A hipnose induzida pela oligarquia e seus aliados e financiadores (a banca, os media, os think tanks do mundialismo e os agentes de desvairados experimentalismos que se deixaram enganar pelo conforto da ideologia) rompeu-se. A retribalização que quiseram impor à consciência de sociedades modernas, fomentando guerras e ódios (de género e de sexo, de geração, de raça, de religião, de classe) falhou, pois aqueles grandes agentes de socialização e integração que são desde sempre os pilares das sociedades e dos Estados-nações ( a lei e a ordem, a conformidade e a integração, a ideia do Mesmo e do estranho, a ideia de fronteira étnica, social, linguística, cultural económica) soaram a rebate perante a iminência de um desastre irreparável.
Deito-me, já um novo dia se preparara para despontar, feliz por não ter tido medo de encarar a história que se movimentava sob os nossos pés. Àqueles que comigo comungaram nesta percepção da mudança do eixo da história do nosso tempo - como, aliás, já o haviam feito no que respeita à Rússia, ao Brexit, às guerra na Síria, na Líbia e no Iraque - só posso lembrar que estávamos certíssimos. Aos outros que nunca se conseguem afastar do nível primário e emocional reactivo, que tudo psicologizam, fulanizam e que tudo transformam em caricatura, é tempo de iniciarem um caminho mais exigente, pois a história mudou hoje. Isto não se fica pelos EUA: amanhã será na Áustria, em França, na Escandinávia e na Alemanha.
O mundialismo arrogante parece ter sido inapelavelmente ferido, mas tentará certamente lamber as feridas e insistir na mesma receita que se mostrou iníqua para o povo americano, para os povos europeus e para os povos do Médio Oriente e da África, perante cujo sofrimento nos devíamos encher de vergonha. Hoje inicia-se a reinvenção política do Ocidente; hoje, triunfou a rebelião pacífica contra as más elites que trouxeram a crise financeira, a crise económica, as guerras de agressão, a manipulação por atacado de sociedades que se julgavam maduras. A paz parece ter triunfado. Haja Deus !
"Donald Trump foi sujeito à maior e mais violenta campanha de ataques pessoais que alguma vez vi na minha vida. Todos as principais publicações alinharam entusiasticamente.A eleição de Donald Trump foi um triunfo da democracia e uma derrota profunda dos meios de comunicação social."
Palavras do MEC que poderiam ter sido minhas.