E então, serei eu a embalar-te com o amor acumulado em décadas e guardado a sete chaves em cada suave degradé da minha íris e tu a tapares-me com o cobertor até cima, afugentando os meus fantasmas com a mão, vigorosamente, como se fossem apenas insectos incómodos e não esta bola de fogo que me queima por dentro e me faz acordar a meio da noite, a transbordar as lágrimas com que tento afogar este medo de te perder para sempre, no imaculado da neve informe, com que te enlevas na fotografia.
In " A Garota de Ipanema" de Ana Cristina Pinto