Sou eurocéptica desde sempre. Acredito na velha máxima de cada macaco no seu galho e gosto muito da ideia de cooperação, mas misturas, só na culinária.
Isto para dizer que ao contrário de um longo texto que li a criticar fortemente a escolha dos britânicos no Brexit, teria optado igualmente pelo “out” se fosse britânica. Votarei num estrondoso “fora”, se algum dia me for dada a possibilidade de o fazer pelo meu país.
A ideia que se semeou ao longo das últimas décadas de que o orgulho nacional é igual a racismo e xenofobia é descaradamente estúpida (digo eu). Aquilo que nos dá “chão” enquanto indivíduos é a nossa identidade e não é com orgias culturais que conseguimos mantê-la. Gosto sobretudo de saber quais são as minhas raízes e temo que a globalização e a multiculturalidade tão desejadas nestes tempos conturbados não nos permita a médio/longo prazo, identificá-las. Não tem nada de mal reconhecermos os espanhóis pelas Paellas ou o seu fabuloso Polvo à Galega, as sevilhanas ou as largadas de toiros. Da mesma maneira, gosto de saber que a melhor cerveja do mundo ainda é a alemã, o fado será eternamente português e que nenhuma outra cozinha no planeta terá as mil e uma maneiras de cozinhar o bacalhau. São precisamente as diferenças que nos separam, que nos deviam unir, mas em vez disso, queremos acabar com as diferenças para “teoricamente” nos tornarmos todos iguais. A ideia mais tola de sempre é precisamente esse canto das sereias chamado “Igualdade”. Não serve senão para enganar os mais incautos. Na hora da verdade, as diferenças estarão sempre lá, e serão apontadas da forma mais pejorativa de que formos capazes, porque ninguém vê com bons olhos a incapacidade de adaptação do outro, ou a inflexibilidade para o molde. Então, porque não construir sociedades mais justas com base nas diferenças?
Se costumamos dizer que cada um é como é na pequena escala do individualismo, porque é que nos custa tanto assumir que colectivamente cada também é como é?
Dizer que a economia dos países mudou e que a mudança justifica o maralhal de culturas e a perda de soberania dos povos só convence quem se rendeu ao capitalismo tirano dos países “fortes” da Europa. Nem percebo porque raio se defende tanto uma economia comum, se para a colocar em prática é preciso arruinar a autonomia dos povos que têm (tinham) os seus próprios meios para prosperar. Veja-se Portugal: Agricultura, pescas, industria. Digam o que disserem, não somos um país de coitadinhos e recursos não nos faltam. O que nos falta é gente decente e capaz de governar com verdadeiro sentido de Estado.
O Reino Unido, sempre desconfiado do bloco económico europeu, ficou sempre com um pé de fora e ainda assim conseguiu manter uma libra forte. O Reino Unido, habituado à sua soberania e orgulhoso dela, não esteve para se vergar ao autoritarismo alemão. Ninguém o devia levar a mal por isso. Antes pelo contrário, seguir-lhe o exemplo, (que ideia tão estúpida!- Dirão alguns) seria o nosso recomeçar tão necessário para que Portugal não se acabe e seja no tempo dos nossos netos, um país capaz de abraçar outras culturas com respeito por elas e pela sua própria. No tempo dos nossos netos, já que não conseguimos fazê-lo no nosso, tempo dos seus hereges (disse bem, hereges) avós.