Wednesday 10 June 2015
Caricaturistacamentecaracterizando
Estou com vontade de escrever um novo romance envolvendo os meus vizinhos do rés-do-chão. E tal como me foi sugerido e bem (alguns autores usam o método) esquematizar muito bem os envolvidos na trama, conferindo-lhes desde logo características que os acompanharão da primeira à última página. Ora...gente assim imutável , só me consigo lembrar da família que vive 3 lances de escadas abaixo de mim. São boa gente,embora tenham o defeito de falar em russo o que faz com que eu nunca perceba nada do que dizem. Morar excessivamente perto, também me incomoda quando o calor aperta e o cão, Vlodokir, ou lá o que é, mija contra a parede do prédio. Ora vejamos...o patriarca é Konstantin Prozac. Anda sempre sonolento e passa horas à janela, muito calmo, muito zen. O filho, Mercuriocromis, come burriés que vai pescando delicadamente das suas narinas. Um moçoilo grande e forte que não larga a ushanka nem em pleno Agosto. Levdoispagum é o filho mais velho. Trabalha no Mini-Preço e está quase sempre a marcar as promoções. Lev era um operário moscovita. É adepto do Locomotiv. É, porém, algo aborrecido. Há ainda uma miúda, Sónia ou melhor, Sonja Neskuik que anda sempre com marcas de chocolate em volta dos lábios fazendo lembrar os bigodes de um gato,embora já tenha mais de 20 anos e seja a mulher do Mercuriocromis. Mercuriocromis e Sonja Neskuik conheceram-se durante uma greve geral de ingestão de vodka. Aleuéksei é matriarca da família. Chamo-lhe assim, porque é a única coisa que lhe oiço dizer, embora não faça a mais pálida ideia do que signifique. Antes, viviam todos na Sibéria numa roulote. Antes eu era feliz.