Quase tudo pode ser eliminado pelo seu oposto. O ódio pode erradicar o amor, o amor pode erradicar o ódio, a alegria/tristeza e o seu contrário, praticamente tudo pode ser banido graças à existência do seu inverso.
Do que me consigo lembrar, a única característica humana que foge a esta regra é a intolerância. Por mais que se faça para acabar com ela, resiste a tudo. Repare-se que numa guerra entre tolerantes e intolerantes, nunca, mas nunca é possível ganhar o tolerante.
Na frase " Eu sou intolerante com a intolerância", onde é que está o "erro"? Está no facto de que quem é intolerante com os intolerantes é intolerante consigo mesmo. E por mais que ele queira acabar com a intolerância, resistirá sempre pelo menos uma: A sua própria.
A tolerância, por definição aceita (tolera) tudo. Inclusive a intolerância. Ao contrário, o intolerante não aceita, não tolera nada. Nem mesmo a intolerância. Não se aceita nem a si próprio, e não se aceitando a si próprio condena-se a existir, porque se perpétua. Este é só mais um paradoxo como tantos outros. E o que eu amo nos paradoxos é que eles nos obrigam a defrontar a nossa pequenez e simultânea complexidade. Somos tão complicados, porra! Somos tão miudinhos, emaranhados, confusos! É disto que somos feitos. De confusão. Não há clareza nem linearidade. Por isso, quando nos queremos menos caóticos digo sempre: Impossível. Nós somos o caos. A experiência humana é o caos e talvez o seu grande objectivo não seja sair dele, mas aprender a viver nele. Sem culpas. Quem é que já pensou nisso?
Venham daí os defensores da tolerância e eu digo-vos que são tolos porque permitem à intolerância que continue a existir. Venham daí os intolerantes e eu digo-vos que são estúpidos porque continuarão a eternizá-la. Mas se temos que escolher entre uma coisa e outra, se entre os males temos que escolher o menor, acredito que entre uma e outra, a tolerância nos atira mais para o abismo. A palavra é mais bonita...o conceito, visto à superfície...muito mais agradável. Mas quando tudo se permite, dá-se azo a uma passividade e liberdade que também, tudo destrói. Talvez que, o grande paradigma dos nossos tempos não seja a obtenção de liberdade. Mas de limites. Os limites protegem-nos mais que a liberdade. Ou... o que de bom pode vir de uma carro que se conduz sem travões?