Monday 29 September 2014

Dador de Memórias



Vi o "The Giver". Um filme sem um grande enredo, bastante previsível até, mas com uma mensagem poderosa. Cabe que nem uma luva aos nossos dias. Tem alguma similaridade com o " Equilibrium" um filme de 2002 que conta a história dos que sobreviveram à 3ª Guerra Mundial. Os que ainda podiam contar essa mesma história, sabiam que os humanos jamais sobreviveriam a uma 4ª grande ofensiva. Era preciso parar e para isso foi-se o mais longe que se pode. Tomar diariamente um medicamento inibidor das emoções, foi neste filme, a solução encontrada.

Em " O Dador de Memórias", a injecção milagrosa do esquecimento também pareceu ser a única capaz de propiciar a paz. Esquecer quem fomos, do que somos capazes, o que sentimos e porque nos emocionamos. Quando eu digo que a mensagem é poderosa, digo-o sobretudo por pensar que o caminho para um " The giver" ou "Equilibrium" real já está aberto. O que foi durante muito tempo considerado impossível, pela ciência, começou a tornar-se um facto comprovado no final da década de 1990, graças ao neurocientista egípcio Karim Nader. Hoje já se sabe que a PKMZeta é a proteína capaz de apagar memórias. E é eficaz.

A questão que importa aqui é: Se perdermos o que nos define enquanto seres humanos, ainda que nos salve de nós mesmos não nos condena a um outro tipo de morte? Talvez à pior das mortes? Aquela, em que vivemos mas não nos sentimos vivos? Quem não sente, quem não recorda, quem não se emociona, quem, em suma, vive automatizado, não pode em boa verdade dizer que está vivo. Ou pode?