Sou forçada a concordar com ele. E a minha fé, que deve ter nascido mais ou menos no mesmo dia que eu, vai morrendo um bocadinho mais todos os dias.
Morre nas páginas dos jornais, no ecrã da televisão e até nas cronologias do Facebook. Eu tento contrapor o meu jovem oponente no debate. “Não. Nós melhorámos. Nós já fomos maus. Isso é passado. Olha a Idade Média, a Inquisição. Lembras-te da Inquisição? “ O Rafael olha-me como se me visse através de um vidro fosco, embaciado com fantasias. “ Idade Média? Inquisição, a caça às bruxas, as cruzadas??? E já em pleno Sec-XX, XXI?? A 1ªe 2ª Grande Guerra, Hiroshima, Nagasaki, o Holocausto, o Iraque de Sadam, a mutilação genital feminina, (que não se pratica apenas em países da Ásia e África, mas também na Europa), Tiananmen, Timor, o leste europeu, as redes de tráfico de mulheres e crianças, o 11 de Setembro, a escravatura infantil, a politica do filho único na China que atira com milhares de bebés (principalmente do sexo feminino para os contentores da morte), e de novo a caça às bruxas e bruxos da actualidade que já levou centenas à execução no Cambodja, e de novo, sempre de novo, por séculos de história, a mortandade entre irmãos que lutam por uma terra que de Santa só o nome?”
E poderíamos continuar, temo. “ E que lutam em nome de um Deus que terá um dia, sem querer (creio), conduzido estas criaturas a uma epopeia de sangue e desgraça, quando lhes disse que aquela era a Terra Prometida.” Mais uma vez, palavras mortas em livros velhos.
“ Somos intrinsecamente maus.”
E poderíamos continuar, temo. “ E que lutam em nome de um Deus que terá um dia, sem querer (creio), conduzido estas criaturas a uma epopeia de sangue e desgraça, quando lhes disse que aquela era a Terra Prometida.” Mais uma vez, palavras mortas em livros velhos.
“ Somos intrinsecamente maus.”
Pois somos, Rafael. O gene da bestialidade, da maldade, da intolerância, está plantado em nós como uma semente que se colou ao útero da Terra.